2009-01-21

average

em futebolês nos desentemos?

a propósito de diferentes interpretações de uma regra de desempate numa competição de futebol, um responsável do organismo dirigente da modalidade veio declarar pública e solenemente que "expressão goal-average reporta-se à diferença entre golos marcados e sofridos", o que "corresponde ao entendimento comum na linguagem corrente do futebol"

a linguagem corrente do futebol ? jametinhasdito !

de facto, muitas pessoas, incluindo tarimbados comunicadores, recorrem a exemplos de futebol para melhor exprimirem os seus pontos de vista em qualquer tema ou assunto, ou porque não são capazes de explicar cabalmente o que pretendem dizer ou por acreditarem que o interlocutor não entenderá tão facilmente a argumentação directamente a partir dos termos próprios da temática em apreço devidamente expressa em língua portuguesa

ou seja, faz-se crer que o futebolês é uma língua franca, através da qual emissor e receptor melhor realizam as finalidades da comunicação: transmitir a mensagem de forma inteligível

para o dito representante da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, a literalidade e o significado da expressão goal-average são absolutamente irrelevantes para a decisão do caso, aliás já decidido por diferença - a diferença entre o sentido estrito do que está escrito e a falta de sentido do que se queira entender em ... futebolês !

um certo conceito de erudição, perfeitamente à medida da estatura de tais dirigentes...

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PS - registo de interesses: a reconhecida apetência do Ditos por pastéis de Belém (com ou sem a ditosa especiaria por que de lá zarparam as naus do Gama) e pelo club da Cruz de Cristo poderá remota mas eventualmente ter interferido muito ao de leve na escolha do tema do post...

PS2 - o caso, para os mais curiosos: o regulamento da Taça da Liga prevê, para o caso de desempate na fase de torneio da competição, o critério do "melhor goal-average"; em situação de igualdade de pontos encontram-se o Vitória (de Guimarães) e o Belenenses (de Lisboa, ao Restelo) sendo que, quanto a marcados e sofridos o clube da cidade berço tem melhor desempate no critério de diferença, enquanto os azuis preferem na média; de acordo com os regulamentos internacionais e segundo a tradução da língua inglesa, average quer dizer média e obviamente implica uma divisão e não subtracção - operação esta que aliás tem sido triste e sistematicamente aplicada ao Beleneses em inúmeras ocasiões

PS3- a cantiga: o recurso à "linguagem corrente do futebol" para decidir o caso não consta do regulamento da competição em apreço nem sequer do Acordo Ortográfico, quer na versão de 1990 ainda hoje controversa, quer na anterior, de 1945, modificada em 1973; o recurso a expressão (goal-average) em língua inglesa pode facilmente e deve ser evitada na redacção de regulamentos em Portugal, agora o que em honestidade não pode nem deve é pretender-se significar outra coisa senão exactamente o que significa, seja em inglês, seja na tradução para português: média de golos; além da inépcia na feitura e interpretação do regulamento, a desdita Liga Portuguesa de Futebol Profissional também concebeu mal o sistema da prova, ao determinar a realização de 3 grupos, na fase de torneios, para apurar 4 semi-finalistas, o que é algo que intuitivamente se percebe que está sujeito a vicissitudes, episódios e percalços; mas há uma chave de descodificação para tanta incompetência, qual seja a que em cada um dos 3 grupos estava um dos "grandes", Benfica, Sporting e F.C. Porto - está-se mesmo a ver para quê: como reza a cantiga do encarreirado reitor Barata Moura, "a águia, o leão e o dragão jogam sempre na primeira divisão", isto em futebolês por se tratar precisamente de algo que só tem cabimento em ... futebol!!!



observações são bem vindas

4 comentários:

hfm disse...

sei pouco do assunto; sou leaozinho desde que me conheço; agora de futebolês de eduquês e de outros quês, estou eu farta ;) Um abraço

Anónimo disse...

A falta de rigor de países católicos relativamente a países protestantes é algo muito antigo e tem frequentemente levado a problemas de má imagem por parte dos católicos. Ao copiar a expressão inglesa "goal average" e ao não a mudar quando os ingleses passaram ao "goal difference", os portugueses passaram a estar um passo atrás (lembremo-nos da história das vitórias valerem 2 pontos e os empates 1, enquanto o 3 e o 1, respectivamente, já imperavam houtras bandas) mas mantiveram o "goal average" sem qualquer distinção. O resultado pode ser uma embrulhada destas entre o Guimarães e o Belenenses, a qual terá a vantagem de impor uma clarificação definitiva.
Já agora, uma breve consulta à Wikipedia (ver "goal average" e "goal difference") pode ajudar a ilustrar bem a questão.
Entretanto, torço pelo Belém, não só por ter levantado a lebre, mas também por ter sido infamemente roubado no jogo com o Benfica, em que uma falha do guarda-redes do Benfica que deu azo a golo foi transformada numa carga inexistente de um jogador belenense.
jmco

Sofá Amarelo disse...

A Taça da Liga é a competição mais estapafúrdia que podia ter sido inventada em Portugal até hoje! É difícil inventar coisa mais ignóbil: cortou o ritmo do Campeonato, deixou as equipas que estavam eliminadas sem nada para fazer com os seus jogadores, teve uma média de assistência vergonhosa e não se vê qual o interesse em apurar outra equipa para as competições europeias se o vencedor vai ser um dos grandes, com certeza, já com lugar garantido na Europa!

Se se pretende competitividade então porque não se reduz a 1.ª Divisão a 10 equipas com jogos a 4 voltas? Aí sim, todos tinham a ganhar e não haveriam clubes na 1.ª sem estrutura para isso!

Um forte abraço!!!

Anónimo disse...

Estamos num país católico, António, e como é prática comum acabou por prevalecer a forma sobre a substância. O Belenenses foi arredado, mas quase de certeza que vão passar a dizer "diferença de golos" ou coisa parecida, em vez de "goal average". Se o país está disposto a ceder ao Brasil a grafia de centenas de palavras, também não se importará de fazer esta correcção mínima.