2005-07-23

portugalizar

há dias, a revista do Expresso oferecia assanhada "grunha caprichosa" onde habitualmente escreve - e bem, pedantismo pseudo-britânico e assumido à parte - Clara Ferreira Alves

verberava contra o grunho lusitano, a cuspir palavrões à cadência de cinquenta por minuto, a insultar a eito, estacionado em cima do passeio, buzina a fundo, beata a chamuscar o transeunte, e um ror mais de etc e tais

a peça reproduzia os ditos tiques e os vernáculos palavrões, com que aliás assinava a pluma

ou seja, replicava o status que criticava, insultando indiferenciadamente o insultador e o leitor, comportando-se afinal exactamente como ... grunha

custa a aceitar mas é do que se trata

doutros passos, repetem-se em doses maciças as lamentações das crises, tudo vai mal, tão mal que muitos - Miguel Sousa Tavares, uns tantos directores de jornal e por aí em diante, além do sempiterno Vasco Pulido Valente - concluem que Portugal nem é viável (?!!)

no Diário Económico, de ontem 22 de Julho, Baptista-Bastos desencanta (exactamente) uma desenxabida tirada de um tal Roger Vailland, que sumariamente acusa de ser um grande escritor francês, que se referia a portugalizar como expressivo neologismo para significar apatia do povo, inércia, acriticismo, anestesia geral da nação, por assim ter encontrado a nossa gente enquanto em França se viviam entusiastas dias de resistência ao nazismo e à ocupação alemã

enfim, o conceito pode merecer desde logo crítica comparativa: metade ou mais da França estava nos mesmos dias feita com o ocupante ou inerte de tédio, medo ou desesperança - foi também o que sucedeu na Alemanha, milhões disseram sim a Hitler ou deixaram andar, só assim se explica onde as coisas chegaram

mas Baptista-Bastos adere e recupera a ideia para os dias de hoje do recanto à beira mar: estamos tão mal que se podia dar um golpe militar tipo Estado Novo; mas de tão mau nem temos sequer Estado, nem Novo, nem exército para se rebelar ou um ditador para se impor

em suma, estamos outra vez portugalizados, à francesa; pior, Baptista-Bastos ainda conseque ir mais abaixo, desce à Mauritânia, onde os franceses de lá dizem que Portugal é o país mais desenvolvido de África

enfim, mais negativo que um país assim só mesmo o Baptista-Bastos, que apesar de escritor e jornalista de renome e créditos firmados se mostra agora um verdadeiro arauto da desgraça que afinal faz pior que os restantes portugueses, prejudicando a média, falho de esperança e de temas que fortaleçam o brio e alentem tão mau povo,

no mesmo jornal, Manuel Falcão, jornalista, político e intelectual de craveira, faz o balanço de vida que a legitimidade das férias proprciona: afirma-se esforçado, incompreendido e desiludido, Portugal é mesmo mau, não tem saída, mesmo a sensibiliadde política que alguns reclamam está catalaogada como o pior que há, a catástrofe

pois Manuel Falcão jametinhadito que encontra o país em estado catastrófico e contribui muito para isso gritando que o país está em estado catastrófico, ampliando os efeitos que pretende denunciar

o que vale é que para a semana haverá - à excepção dos cronistas que merecem férias desde já - mais crónicas, mais jornais, mais opiniões, a vida prosseguirá

será assim tão lucrativo dizer mal ou é só por razões de estilo ? e todos à uma, dá para desconfiar, não é ? se estivessemos assim tão mal haveria alguém de tentar superar construtivamente as dificuldades, aproveitar a boleia dos que acreditam e trabalham, entusiasmar os hesitantes, apaziguar os cépticos...

estaremos a precisar de férias ?

pelo menos de crónicas pessimistas merecíamos férias ... e já ! ! !



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2005-07-21

a segurar

perguntava José Leite Pereira, no Jornal de Notícias, como e se vai José Sócrates segurar o Ministro das Finanças...

a resposta está aí, na telefonia e em alguns jornais online: primeira exoneração !

Campos e Cunha jametinhadito que tinha razões pessoais e familiares, além de que estava cansado - ou também haveria razões de sentido político de um político independente ? de um economista competente ? ou de um Ministro divergente ?

antes das convenientes explicações, o Primeiro Ministro decerto está a assegurar que haverá outro Ministro

é que é já a seguir !



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a dois tempos

o Diário de Notícias (20 de Julho de 2005) jametinhadito orgulhar-se do jornalismo que faz e concede o espaço necessário à entrevista a Freitas do Amaral

lida após as explicações do entrevistado sobre o que lá tinha declarado, a entrevista sabe a mofo e o "Diário" perdeu o qualificativo "Notícias"

na avareza de vender papel, o jornal usuou de artimanha para caçar leitores, retardando a publicação da entrevista, depois respigando extractos convenientes para elevar a expectativa do público, só então concedendo espaço à publicação da entrevista, num estratagema demasiado ostensivo e conflituoso, aviltando a inteligência dos leitores, assim submetidos à força da força de vendas, que não da prestação de um serviço de informação noticiosa

a orientação sobre si mesmo começa logo pela prioridade e destaque em caixa dada à apreciação do próprio jornal - ouve-se a si mesmo, publica-se a si mesmo e sublinha-se a si mesmo, relegando para plano menor a entrevista em apreço

mas a leitura da entrevista, além de permitir tirar qualquer dúvida - se a houvesse -sobre a manipulação encetada na véspera pelo jornal, também confirma que a entrevista é exclusivamente dirigida a procurar resquícios de despique do entrevistado em relação ao Governo, limitando-se a perguntas genéricas, requentadas e conclusivas, sem se debruçar sequer sobre a possibilidade de informar o leitor mas antes tentando criar um clima negativo

a entrevista tem 152 - cento e cinquenta e dois - 152 "não" ! ! !

quanto a temas internacionais, o jornal tratou o assunto residualmente, com duas ou três perguntas sobre temas batidos a que Freitas respondeu reiterando as posições anteriormente publicadas sobre a matéria e, aqui ou ali, mais por enfado que por sugestão, tentando explicar ao entrevistador os conceitos básicos do assunto, chegando ao ponto de traduzir o próprio português, quando se estava mesmo a ver que o entrevistado não queria era perceber ...

este jornalismo, a dois tempos, não informa, só faz rateres ! a táctica é manhosa e velha: há sempre quem olhe para a alarvidade ...



PS - a totalidade da entrevista pode ser lida nas seguintes ligações:

http://dn.sapo.pt/2005/07/20/tema/nao_seria_estranho_saisse_governo_pa.html

http://dn.sapo.pt/2005/07/20/tema/voto_contra_a_proposta_ps_nao_faco_c.html

http://dn.sapo.pt/2005/07/20/tema/em_campanha_devia_haver_declaracoes_.html

http://dn.sapo.pt/2005/07/20/tema/nao_podemos_licoes_sobre_corrupcao.html


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2005-07-13

falar por falar

em mais uma ferroada em Jorge Sampaio, o editorial do Diário de Notícias de hoje (12/7...ontem já há um bocadinho!) assinado por Raul Vaz, reivindica a má consciência do Presidente da República e aponta o dedo ao País, que considera estar pior que no início deste inquilinato de Belém

nada se alega ou autoriza a concluir que tal juízo ou alguns factos na sua origem sejam atribuíveis a Sampaio, que não governa nem tem competência para o efeito, pelo que não tem essa responsabilidade, como bem se sabe

no caso em apreço, vitupera-se que Sampaio advoga o silêncio sobre a crise portuguesa - ora, manda a honestidade intelectual que a interpretação do que o interlocutor disse deve procurar captar o que é relevante: Sampaio pretende dirigir a sua magistratura à pedagogia da atitude, da restauração da confiança e da auto-estima, precisamente porque os arautos da desgraça impregnam o discurso de problemas que antevêm infindos e insuperáveis, encontrando dificuldades em cada solução

primeiro acusava-se a esquerda de não saber governar, depois que demorava a decidir, mais tarde que as medidas ainda não passaram do papel, entretanto que podia fazer melhor, agora que isto não tem solução

bom, alguma razão tem o Presidente: comecemos por olhar para o que há a fazer, aproveitando o que está feito e contribuindo com a nossa parte ! dizer mal, falar por falar e não fazer nem deixar fazer, jametinhamdito que não interessa ao País

o mundo não se resume à crise, há outras perspectivas a desenvolver e mesmo a crise
também não é só crise, contém muitas vezes o "momentum" que origina a fé, o alento e a iniciativa para a superar

mas o editorial do DN vai por outro caminho, insistindo em que a chuva é molhada, até quando semelhanet técnica venderá papel de jornal ?

no dito caminho, passa pelo sucesso do Chile, que afinal resultou da substituição de Salvador Allende pelo ditador Pinochet - Raul Vaz omite o pormenor da substituição e proclama abençoado o sucesso! excepto, é claro, para os milhares de assassinados e desaparecidos e respectivos familiares, que ainda hoje lutam em desespero pela verdade e pela justiça

embora muito esclarecedor - do propósito de quem o escreve - e a pretexto de que se deve falar de tudo, nunca tinha visto um editorial tão silenciador...


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2005-07-08

carpe diem

os cidadãos britânicos viviam uns dias de alegre euforia: iniciaram o semestre presidencial do Conselho Europeu, em que esperam concretizar as suas ideias de como unir os europeus e assegurar um papel para a Europa no mundo; acabaram de relembrar a vitória naval de Trafalgar, em parceria com diversos outros países; decorre na Escócia uma reunião de alto nível, o G8, de quem se espera um alento na ajuda ao desenvolvimento dos povos mais desfavorecidos; celebram a vitória no exigente concurso para realização dos Jogos Olímpicos de 2012, ganhando afinal mais 7 anos de trabalho árduo para reunir o mundo inteiro em 15 ou 16 dias de convívio pacífico, fraterno e desportivo; preparam mais um grande prémio de automobilismo, prova do circuito mundial de fórmula 1, a decorrer no próximo fim de semana; e começam mais um dia de trabalho, que leva qualquer cidadão ou família a sair de casa, utilizar os transportes públicos para os seus locais de emprego

subitamente, um ardil cobardemente planeado faz explodir autocarros e carruagens de metropolitano, os meios de transporte mais populares numa grande cidade, causando inúmeras mortes e mutilações, numa tragédia inexprimível

jametinhamdito que a crueldade, a violência e a barbaridade dos nossos tempos se inscrevem sobretudo contra inocentes desprevenidos

jametinhamdito que de nada adianta chorar de raiva contra a intolerância e que o combate é tarefa para sucessivas gerações, provavelmente por tempo infinito ou enquanto a humanidade existir

jametinhamdito que o terror só pode ser vencido com uma atitude diária de heroísmo, permanente, de renovada esperança, fé e fraternidade, cuidando das feridas, reforçando a solidariedade para com os nossos próximos mas também a nível regional e global, envolvendo todos os povos e aproveitando todo o dia, todos os dias, para reafirmar dignidade humana

viva Londres, viva a liberdade e viva a paz ! ! !

hoje é um novo dia, carpe diem

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2005-07-07

ler

em certo prédio de Lisboa, junto a uns contentores especiais de razoável dimensão, localizados entre os elevadores e a garagem, está um enorme cartaz com ostensiva inscrição: NÃO SABEM LER ?

a interrogativa obriga a espreitar para dentro dos contentores, geralmente cheios de papel, papelão, cartão e afins !

ler então o quê ?

continuando o percurso em direcção à saída, ganha-se enfim a distância focal necessária a mais proveitosaobservação, mesmo se não particularmente atenta

vislumbram-se então vários pequenos cartazes explicativos, indicando que os contentores se destinam exclusiva e ecologicamente a receber embalagens de tonner vazias ...

daí o desepero do cartaz grande, certamente colocado por quem não investiu o suficiente nos cartazes com as indicações essenciais e depois jametinhadito que são os demais que não sabem ler

é certo que nem todos sabem mas também não chega saber ler ...


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2005-07-04

engenheiro

à semelhança de outras empresas mas de modo mais noticiado, um grande banco anunciou drástica medida: acabar internamente com o tratamento pelo título académico, engenheiro, doutor, professor

a coisa sempre teve contornos curiosos, os bacharéis e os mestres tinham insuficiente ou excessivo reconhecimento face ao respectivo título, a formação profissional, técnica e comportamental, amplificou as fontes de aquisição de conhecimentos, competências e valências, a própria experiência é hoje passível de certificação, as post (eh eh) graduações, os MBA,E,I,O,Us enchiam já os curriculum vitae

recentemente, a informalização ganhou valor próprio e mesmo o primeiro nome, senão um afectuoso diminutivo, substituem amiúde a excelência de mui excelsos e académicos graus

os exemplos de fora chegam em catadupa, trazidos por que nos visita em conferência ou nas reuniões da internacionalização política e empresarial a que o 25 de Abril nos abriu portas nos idos de 1974

por falar em abrir portas, a generalização do acesso ao ensino, passados que estão já os testemunhos para a novas gerações, extinguiu de vez o conceito e a permilagem do senhor doutor acima da plebe: praticamente todos os portugueses podem hoje concluir um dos inúmeros cursos superiores numa das inúmeras faculdades e institutos activos em todo o país

nas empresas como na administração pública, governo incluído, os responsáveis de topo dirigem hoje uma plêiade de licenciados, mestres e doutores, mesmo catedráticos, em extensa inversão de hierarquias entre o esquema organizacional e as habilitações académicas, ao ponto de patrões, administradores e ministros se verem na contingência de maior deferência para com subordinados, administrados e colaboradores

empresas há sem nenhum empregado exclusivamente “administrativo”, os recém licenciados cumprem todas as tarefas, sem horas, extraordinariamente, e muitos só entram no mercado de trabalho depois do mestrado ou doutoramento, para colaborar com chefes, directores de serviço ou patrões a quem nunca atribuiriam grau académico algum

eis algumas das verdadeiras razões para acabar com tanta titulação e falsa etiqueta, sendo certo o mérito do resultado e da finalidade

mas também jametinhamdito que no caso em apreço, do BCP, pode a medida prestar-se a interpretações algo além do pragmatismo laboral: poderia ver-se a extinção do tratamento interno pelo grau académico como forma de assinalar a ruptura organizacional, a nova liderança ou a reserva em homenagem ao último dos moicanos - Jardim Gonçalves, o engenheiro !




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2005-07-03

esposa grátis


e o que mais pode um estabelecimento comercial oferecer para o cliente ficar totalmente satisfeito ?

a crer no anúncio do JN, o Hotel Londres, ao Estoril, jametinhadito: esposa à borliu, nada menos !

e crianças de brinde !!

é o verdadeiro especial família, aproveite quem quiser, Portugal no seu melhor ainda será um país !!!

quem sabe se de turismo ? ...






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2005-07-02

centenário

atenta e afectuosamente assinalado por quem jametinhadito de história e de direito, regista-se mais um ditoso centenário deste humílimo blog

obrigado



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