2011-04-29

rei Mário!


o Ditos não prima pela pontualidade nem pela actualidade, aliás de acordo com o estilo definido e consagrado consuetudinariamente vai para 7 anos

mas vez por outra, vai um acabaDito, ó vejais:

a Fundação Gulbenkian promoveu a exibição de filmes de Luísa Schmidt sobre os 40 anos da política ambiental portuguesa, agora editado em DVD, depois da sua emissão em 4 episódios pela RTP, há uns anos

a anteceder o evento, discursaram, além da Autora e de Rui Vilar, Presidente anfitrião, 3 personalidades convidadas (Mário Soares, Miguel Sousa Tavares e Viriato Soromenho Marques) e um homenageado, o interessantíssimo Eng. Correia da Cunha, pioneiro da dita celebrada e quarentona política ambiental: aliás, toda a notável intervenção deste protagonista seria um completo e riquíssimo cardápio de jametinhasDitos!

mas, mais modestamente, vamos ao ponto: Soares historiou e referenciou, ao seu estilo, os factos e as personalidades que o impressionaram (fez justiça a Gonçalo Ribeiro Teles e ao Prof. Mário Ruivo, entre outros) e discorreu elogios sobre o seu amigo, também monárquico, Sousa Tavares, enaltecendo-lhe múltiplas qualidades, mas interrompeu abruptamente o fio de raciocínio para clarificar: referia-se obviamente a Sousa Tavares Pai e não ao Filho, presente na mesa e que de imediato ficou (ainda mais) vermelho que nem um pimentão...

naturalmente, ou seja, na inversa proporção do topete, que tantas vezes falta aos jovens e aos arrogantes, Miguel Sousa Tavares acusou o toque e aproveitou a sua oportunidade de intervenção para ditar para a acta o jametinhasdito de hoje: retomou o ponto e considerou que Soares tinha cometido uma inconfidência, ao revelar publicamente a tendência monárquica de Francisco Sousa Tavares, mas arrancou uma gargalhada da assistência ao asseverar que nos seus últimos tempos, o ex-deputado do PS e do PPD, ex-ministro de Mário Soares, na pasta da Qualidade de Vida (curiosamente, e talvez não por acaso, a secção de Luísa Schmidt no Expresso intitulava-se, salvo erro, "Qualidade devida") enfraquecera bastante a sua convicção monárquica, excepto se Mário Soares fosse o rei!!!

eh eh ...

;_)))






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2011-04-26

Sophia à linha


ou falemos ainda sobre a Páscoa: importa ouvir os Mestres, neste caso, a BNP jametinhadito, a Mestra Sophia !


















ps - Sophiateca... ou Sophiaweb?

ps2 - «O 25 de Abril foi dos momentos de máxima alegria da minha vida. Foram dias que vivi em estado de levitação. Isso aliás aconteceu a muita gente. E está dito no poema que escrevi: «Esta é a madrugada que eu esperava/ O dia inicial inteiro e limpo/ Em que emergimos da noite e do silêncio/ E vivos habitamos a substância do tempo».
De facto fiquei em êxtase e foi como eu vivi. Mas ao mesmo tempo foi uma ocasião perdida, de uma maneira terrível, talvez porque não está na natureza das coisas cumprir aquilo que o 25 de Abril prometia... É um pouco como a adolescência que tem em si imensas possibilidades que depois se vão malogrando.
Há no entanto uma conquista positiva: estamos num estado democrático – não há prisões políticas, não temos colónias, não somos um povo colonizador, somos um povo que ajudou a criar liberdades e independências. Apesar de tudo, há um serviço de saúde melhor. Há outra atitude. Mas houve uma possibilidade de criar um tipo de sociedade diferente que não foi possível, mas também porque ninguém quis, ou muito pouca gente quis...»

ps3 - [...] «Chegar a uma praia dá-me sempre uma certa embriaguez. Além disso a praia lava-me, renova-me, recria-me, fisicamente, moralmente, espiritualmente.»

;_)))



observações são bem vindas

2011-04-25

circunflexão


falemos sobre a Páscoa





















Habituado a contemplar o Amor e a Compaixão, eu esqueci toda a diferença entre mim e os outros. Habituado muito tempo a meditar sobre o meu Guru, desdobrando-se em aura sobre a minha cabeça, eu esqueci todos os que reinam pela força e o prestígio. Habituado como fui, a meditar sobre esta vida e sobre a vida, eu esqueci a angústia do nascimento e da morte. Habituado por muito tempo a aplicar toda a nova experiência ao meu próprio desenvolvimento espiritual, eu esqueci todas as crenças e todos os dogmas.


Álvaro Lapa, Instrução Pessoal, 1969

in Livre Circulação, Colecção Fundação Serralves, Palácio Anjos, Algés



observações são bem vindas ;_)))

2011-04-20

revoada



[...]
A noite ia alta, arrefecera o tempo, chovia lá fora, o leito era quente, macio... macio é o teu corpo, as mãos o afagam, o desejo desperta... os animais também não falam no acto do ajuntamento, mas os olhos... que expressão de amolecimento e liquescência, de quase desmaio é aquela?... Quando no céu lavado as estrelas brilham e é regelo o silêncio cósmico, espalha-se no ar o cheiro do primeiro dia da Criação... Quando as chuvas caem na terra sequiosa, levanta-se no ar o perfume do segundo dia da Criação... Quando na primavera as flores do prado exalam suas essências, rescende o ar ao aroma do quarto dia da Criação... Quando os amantes acordam suados do seu êxtase, incensa o ar a fragrância de Deus...
[...]

jametinhapensado Fernão Pérez, interludiando com a rainha-infante Tareja, in «o cavaleiro da Águia», de Fernando Campos






observações são bem vindas :_)))

2011-04-15

mel


«atenção, não peçam os morangos, que vêm com mel», jánostinhadito o Luís !














e que bem souberam...

;_)))




observações são bem vindas, obrigado

2011-04-06

FMI


com licença...

de José Mário Branco!


era assim




e se não chegar...






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Irish advice


From Ireland with love


Bit of friendly advice, Portugal

Sunday March 27 2011

Dear Portugal, this is Ireland here. I know we don't know each other very well, though I hear some of our developers are down with you riding out the recession.
They could be there for a while. Anyway, I don't mean to intrude but I've been reading about you in the papers and it strikes me that I might be able to offer you a bit of advice on where you are at and what lies ahead. As the joke now goes, what's the difference between Portugal and Ireland? Five letters and six months.

Anyway, I notice now that you are under pressure to accept a bailout but your politicians are claiming to be determined not to take it. It will, they say, be over their dead bodies. In my experience that means you'll be getting a bailout soon, probably on a Sunday.

First let me give you a tip on the nuances of the English language. Given that English is your second language, you may think that the words 'bailout' and 'aid' imply that you will be getting help from our European brethren to get you out of your current difficulties. English is our first language and that's what we thought bailout and aid meant. Allow me to warn you, not only will this bailout, when it is inevitably forced on you, not get you out of your current troubles, it will actually prolong your troubles for generations to come.

For this you will be expected to be grateful. If you want to look up the proper Portuguese for bailout, I would suggest you get your English-Portuguese dictionary and look up words like: moneylending, usury, subprime mortgage, rip-off. This will give you a more accurate translation of what will be happening you.
I see also that you are going to change your government in the next couple of months. You will forgive me that I allowed myself a little smile about that. By all means do put a fresh coat of paint over the subsidence cracks in your economy.

And by all means enjoy the smell of fresh paint for a while.
We got ourselves a new Government too and it is a nice diversion for a few weeks. What you will find is that the new government will come in amidst a slight euphoria from the people. The new government will have made all kinds of promises during the election campaign about burning bondholders and whatnot and the EU will smile benignly on while all that loose talk goes on.

Then, when your government gets in, they will initially go out to Europe and throw some shapes. You might even win a few sports games against your old enemy, whoever that is, and you may attract visits from foreign dignitaries like the Pope and that. There will be a real feel-good vibe in the air as everyone takes refuge in a bit of delusion for a while.

And enjoy all that while you can, Portugal. Because reality will be waiting to intrude again when all the fun dies down. The upside of it all is that the price of a game of golf has become very competitive here. Hopefully the same happens down there and we look forward to seeing you then.

Love, Ireland.

Sunday Independent


observações são bem vindas ;_)))

2011-04-05

ensaio ditoso



«A escrita do ensaio não quer dizer o dito», jámetinhadito João Barrento, in "O género intranquilo - anatomia do ensaio e do fragmento", da Assírio & Alvin*, 2010




ps - claro é que diz muito e bem mais
ps2 - por exemplo? por exemplo: "[...] A palavra do ensaio torna-se então como a da poesia: [...]"
ps3 - porquê? porque "Sem limites"


* os livros da Assírio & Alvin estão à venda em muitos locais mas também podem ser comprados na ... Assírio & Alvin, ao Chiado, num labirinto entre a Rua Garrett e a Rua do Ca-a-armo

observações são bem vindas ;-)))

2011-04-03

Primavera ditosa






















avara de azul é a natura
salvo a celeste aventura,
o doce mar e, de candura,
a floração da energia pura

;_)))








observações são bem vindas

2011-04-01

dissolver, eleger, clarificar





















o presidente Cavaco aceitou o pedido de demissão do primeiro ministro Sócrates e decidiu dissolver a Assembleia da República e convocar novas eleições para o dia 5 de Junho de 2011

esta dissolução é uma sentença de divórcio entre eleitores e deputados, estes supostamente representantes dos primeiros mas bem sabemos que a jogar cada um pelo calculismo do seu partido político e não pelo eleitorado que os elegeu para um mandato de 4 anos

ou seja, tais supostos representantes do povo nem sequer foram capazes de um acordo dissolutório: as várias, ansiosas e crescentes moções de censura não foram aprovadas - o maior partido da oposição nunca aprovou as apresentadas pelos partidos com menor representação parlamentar nem apresentou a sua própria moção de censura ao Governo

ainda assim o desacordo poderia culminar na Assembleia da República, se o Governo apresentasse eventual moção de confiança e esta lhe fosse recusada, sempre seria uma decisão própria e não alheia, intramuros e não sentenciada de fora, em S. Bento em vez de requerida a Belém

mas o procedimento seguido foi o da apresentação ao presidente de um pedido de demissão do primeiro ministro, ontem aceite com o desfecho presidencial dissolutório e antecipada convocação eleitoral

constitucionalmente e em teoria, havia inúmeras hipóteses de entendimentos partidários para outras soluções governativas, aliás já submetidas à consideração dos diferentes partidos logo no início da legislatura que agora finda, por iniciativa do partido vencedor das anteriores eleições legislativas, com maioria relativa, a que só o silêncio respondeu

e o ruído desse mesmo silêncio minou até ontem uma legislatura que nem a meio termo chegou, aparentemente acreditando-se que uma nova eleição constituirá maior legitimação - porém, quando não se respeita a legitimação anterior, nada assesta que se respeitará a próxima

no entanto, o que formalmente (cfr. o sobredito discurso dissolutório) se afirma acreditar é que as novas eleições nos trarão uma "clarificação"!

Cavaco jametinhadito isto mesmo: «Concluí, assim, que só através da realização de eleições e da clarificação da situação política poderão ser criadas novas condições de governabilidade para o País.»

o raciocínio é tardio (sabia-se desde o referido silêncio de todos os partidos da oposição em resposta à solicitação de propostas de soluções de governabilidade que o partido vencedor havia suscitado, ou seja, desde o início da legislatura da maioria relativa do Partido Socialista) mas confere com o actual "sentimento geral", bem como com as actuais expectativas calculistas das diferentes forças político-partidárias e seus principais intervenientes, julgando ganhar mais votos nas próximas eleições que nas anteriores - ou, ao menos, que nas eleições a realizar em momento posterior da legislatura ou, como seria normal, no seu final

a realidade, porém, não faz antever essa panaceia eleitoral pretendida pelos partidos políticos, requerida pelo primeiro ministro e, a reboque, alegada por Cavaco: é que os partidos são exactamente os mesmos, os eleitores são sensivelmente os mesmos e os principais intervenientes são também os mesmos que desencadearam a crise

no capítulo dos políticos intervenientes, afinal os principais responsáveis pela actual crise política, há apenas duas ligeiras (mas porventura decisivas) mudanças:

- nova liderança do PSD, desde a derrota nas anteriores eleições: Coelho chegou, venceu e marinou durante um ano e é agora o dirigente máximo do PSD que se apresentará ao próximo sufrágio, embora seja o mesmo responsável do PSD que ao chumbar o PEC IV, em vez de procurar e propor uma solução alternativa, deu os passos para concretizar o propósito de Sócrates de se livrar da espada quotidiana em que se tonara o Parlamento, permanentemente pendente sobre a cabeça do Governo

- segundo mandato de Cavaco, afinal o seu objectivo primeiro, a que sacrificou tudo e todos, incluindo, com encantatória arte maquiavélica, o logro do pacto firmado com Sócrates para a sua eleição presidencial em 22 de Janeiro de 2006

mas se todos querem, todos têm e aí está mais uma vez a demonstração da máxima de que se merece o que se está disposto a aceitar

provavelmente mais do mesmo!!

mas também não nos poderemos admirar se com este encadeamento de cinismos calculistas apenas obtivermos menos do mesmo!!!

e é pena, porque se é preciso e vale a pena mudar, pena maior é que a mudança nos seja imposta em vez de querida, assumida e protagonizada por nós

a 5 de Junho, à noitinha, ficaremos apenas perante o que já hoje sabemos, temos e merecemos

só não queremos ver...

;_)))




observações são bem vindas


ps - só por graça, é impressionante a actualidade da análise de Eça de Queirós em carta de 1891, endereçada ao conde de Arnoso, então secretário do rei - a quem Eça efectiva e piedosamente se dirigia, afinal, errando (também falhou, por pouco, o momento da revolução republicana: disse, por interposto interlocutor espanhol, "daqui a dez anos" e foram quase 20...) propositada e grosseiramente as apreciações quanto à animosidade e ameaça que já pairavam sobre a real pessoa de D. Carlos; no mais, onde o escritor escrevia Espanha leia-se hoje Europa (ou Espanha!?) mas sobre a impossibilidade de mudança autêntica é de uma agudeza ainda hoje dolorosa