2005-02-21

carta a Pacheco ou as culpas solteiras

ao seu jeito habitual, o político e homem de comunicação Pacheco Pereira, jametinhadito que a culpa é toda do Santana Lopes e do unanimismo facilitista de quem acriticamente o apoiou - observador atento do mítico blog Abrupto, o Ditos deitou uma modesta correspondência no marco electrónico:

Caro Senhor Dr. Pacheco Pereira

por ter também a ver com apreciação sobre a sua própria actuação, partilho que pesem embora - e prevalecendo - as muitas e correctas análises já feitas, creio que a enorme responsabilidade de Santana Lopes na maioria absoluta do PS tem que ser partilhada quer com a governação de Duração Barroso, que entretanto se pôs a fancos lá para os jardins da CEE, quer com algum artifício do PR, tanto pela forma ambígua e condicionada com que deu posse ao novo governo da coligação e correu com o então líder da oposição, Ferro Rodrigues, outro grande derrotado de ontem, como pela antevista interrupção da legislatura algum tempo depois de se começarem a ver as inevitáveis salgalhadas santanais e de outros que tais

mas a convocação antecipada de eleições parece agora ter ficado justificada por inteiro, quer pela ampla participação quer pelo resultado expresso de proporcionar condições de governabilidade estável

oxalá a nova composição da AR agora mandatada e o próximo governo saibam merecer a confiança e responsabilidade que lhes é confiada

mas o resultado eleitoral é mais do que uma punição aos três anos do PPD/PSD+CDS/PP; e é mesmo mais do que uma maioria absoluta a um dos partidos

uma vez que a esquerda da esquerda – até os bloquistas apoiantes da ETA !? – também cresceu, ou seja, não houve à esquerda do PS nenhuma preocupação em contribuir para a maioria absoluta do PS, pelo contrário, poderá concluir-se que a deslocação de voto resultou de má consciência de muitos eleitores que não quiseram por os ovos todos na mesma cesta quando impediram Guterres de implementar o seu programa sem queijos limianos, benesses à república da Madeira e outras cedências a grupos minoritários, viabilizadoras de quase nada e inviabilizadoras do essencial do bom governo

mais vale tarde que nunca, diz o povo, mas o povo perdeu cinco anos

oxalá os próximos tempos permitam alguma recuperação


antonio

PS – magnífica a simultânea intervenção no Abrupto em tempo real e à vista de todos, com nota especial para o acolhimento em directo de contribuições várias mas sobretudo de António Lobo Xavier e José Magalhães

PS2 – é boa regra de marinharia que deve ser franca a movimentação do sentido e da direcção de uma embarcação – significa isto que aos demais nautas deve ser proporcionada indicação clara e atempada do nosso rumo, mediante gestos claros e ângulos significativos, evitando-se demoras e declinações subtis ou dúbias em caso de alteração de rumo, para todos perceberem e agirem em conformidade; de facto, em náutica, o movimento de uma embarcação interessa às outras, por óbvias razões de segurança; as simples regras viabilizadoras da segurança da circulação constituem mera aplicação ao trânsito marítimo de normas éticas de bom convívio em sociedade, talvez com o depuramento que a arte de navegar construiu ao longo dos séculos em que serviu a humanidade; resumindo e positivando: talvez o Dr. Pacheco Pereira, pelas responsabilidades políticas e mediáticas, pela voz e meios de que dispõe, pudesse ter sido mais claro e atempado quanto ao seu sentido de voto, a bem dos simpatizantes do seu partido e dos eleitores em geral - enfim, daqueles que o acompanham enquanto responsável partidário e opinion maker – reconhecendo embora que talvez seja significativo que não me dei conta dos resultados dos votos brancos (que há muito não tinham campanha) e nulos

PS3 – só hoje li a carta de apelo ao voto de Santana Lopes, sem timbre nem partido, endereçada aos Amigos mas no texto restrita aos que não costumam votar (???) e que, por ter sido ontem por tantos respondida de forma não epistolar, vai direitinha para o caixote do lixo, solteira


observacoes sao benvindas

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