2011-09-15

ditosa homenagem






certa vez, num exame de francês, uns rabiscos ao cimo da imagem pareceram linhas de serranias e seus vales...

eram o desenho sumido (quem se lembra dos testes policopiados?) dos telhados próximos mas tal só foi percebido após a entrega de larga divagação sobre as montanhas e outras vicissitudes da paisagem inventada

à angústia perante a desatenção e o erro, sucedeu-se uma nota astronómica, acima do que merecia a preparação e, admita-se, o equívoco

talvez o professor que fez a correcção tenha entendido o equívoco ou tenha, pura e simplesmente, avaliado a boa vontade, mais que o (des)acerto face ao perguntado - ou, quem sabe, também veria outras coisas, plausíveis, que estão à vista mas ninguém repara

nesta bela imagem, pode ver-se uma enorme ditosa a voar rente à janela, porventura manifestação onírica da sonhadora que desde um quarto anódino olha o deserto (o mundo é um grande deserto, diz um poema... talvez da pena atribuída ao engenheiro Álvaro de Campos, que também via coisas em que nem sempre se repara) mas é livre de ver o que lhe aprouver, basta crer

e se basta a fé para fugir ao deserto, haja fé, para o oásis ser um bocadinho mais perto

quem dera, sobrevoado por uma gaivota gigantesca, que entra sem convite para nos convidar a sair sem convite

a bela ditosa imaginária, a bela homenagem e a bela imagem, foram trazidas emprestadadas do ditoso Modus vivendi, de Ana Roque

muito obrigado


;_)))




observações são bem vindas obrigado ;_)))

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei do texto, António. Claro, poético, cheio de esperança. Suponho que o belo quadro é do Hopper, o do Night Hawk.
Um abraço!

jmco

Sofá Amarelo disse...

Qualquer ditosa dita de sua justiça a homenagem de um convite sem... convidar!