2010-10-28

OE 2011



jametinhamdito que ao jantar há que fazer contas!

e para abstrair de qualquer conta calada, nada como olhar para a (conta geral) do Estado!!

uma pequena vantagem: em dois tempos se percebe muito do teatro com que políticos, comentadores e a comunicação social nos obliteram as contas que todos temos que pagar!!!
















é evidente que a brincar ou à boa disposição de um jantar acedemos muitas vezes a uma compreensão melhor que através da análise mais científica

ainda assim, há que partir de uma base mínima de entendimento factual, para extrair maior proveito da abordagem, à séria ou a reinar

um orçamento equilibra-se prevendo muito prosaicamente montantes iguais para as despesas (com as actividades a realizar) e para as receitas (com os serviços prestados, produtos vendidos, taxas e impostos cobrados) de modo a assegurar o financiamento do que se pretende realizar e despender

no caso do OE2011, na proposta do Governo, estão pouco menos de 178 mil milhões de euros, tanto do lado das despesas como das receitas - bate certo, mas é só uma aparência de equilíbrio, aliás é uma quase convenção contabilística, pois o desequilíbrio é gritante e advém de o País não gerar receitas para financiar as actividades do Estado, incluindo as que exigimos e as que dispensaríamos - e como não geramos receitas suficientes, pedimos emprestado o que falta para fazer face ao que gastamos, ou seja, aumentamos o défice

neste ponto, somando o aritmeticamente os défices, só nos últimos 11 anos gerámos uns 125 mil milhões de défice, ou seja mais de 76% do PIB de 2009 (163 mil milhões) pelo que falta alguém dizer alto e bom som que deveríamos ter 11 anos de superavit só para anular o défice... coisa que ninguém quer ouvir nem, muito menos, dizer

na realidade, o que PSD e PS, mais todos os outros, incluindo sua cavacal eminência, aliás suas cavacais eminências, como bem assinala Daniel Oliveira no Expresso, têm vindo e continuarão a tergiversar, fingindo até tergiversar o que efectivamente tergiversam, não é reduzir o défice mas tão só limitar o aumento do défice, para supostamente acalmar os mercados e manter o açaime ao bom do António Borges, omnipresente dirigente do PSD por casualidade a exercer funções no FMI, em departamento com jurisdição (?) sobre Portugal

mas quanto ao problema deste OE, o de 2011, vejamos só mais um pouco: dos tais 178 mil milhões de euros de receitas, temos 10 mil milhões do nosso bolso via IRS - e, importa dizê-lo, 4 mil milhões de IRC, menos de metade, pois como toda a gente sabe, o empresariado português faz as coisas de maneira a não pagar impostos, a maior parte (uns 90%!!!) das empresas não paga um chavo de imposto, não dá lucro, dá sempre prejuízo, são usadas precisamente para esse efeito de agregar custos e fugir aos impostos - este é um problema que não se resolve com orçamento, é um caso de polícia, nas nossas barbas, à nossa custa e com a nossa conivência

depois há o IVA, pouco mais de 13 mil milhões, mais os impostos mixurucas e as multas nem tão mixurucas assim, mais umas quantas fontes de receita de prestações várias de serviços vários, venda de bens sobretudo imobiliários mas, tudo somado, valores de somenos face à magnitude do OE

então vê-se bem que falta muito para o equilíbrio, mas mesmo muito: 140 mil milhões é dívida, dos quais 100 mil milhões de curto prazo, caríssima

e agora compreendemos melhor as despesas, os mesmos 177 mil milhões de euros: desse valor, 123 mil milhões são para pagar o serviço da dívida, ou seja, devolver parte do dinheiro emprestado e respectivos juros

ora, isto é estruturalmente incompressível, só os países em bancarrota deixam de pagar a dívida, às vezes tem que ser, deixa é de haver quem lhes empreste mais e passam a viver forçadamente no limite das suas possibilidades, isto é, mal

a parte gerível - administração local e regional, organismos e institutos, ministérios e outros mistérios, etc. - é afinal uma pequena parte, sendo que uma grande fatia é de custos com pessoal, também incompressível, a menos que se reduza os salários, como propõe o Governo

estamos então a ver o filme?

é como fizeram muitas empresas no sector privado de há 2 anos para cá

é como em nossa casa: se não há, corta-se

é a vida...

;_)))





observações são bem vindas ;->>>

1 comentário:

Anónimo disse...

O António tem toda a razão. Os seus números só estarão possivelmente um pouco menos certos porque ninguém sabe com grande rigor quanto é que, por exemplo, a Madeira tem de défice, e o Alberto João não quererá dar os números correctos, porque não!
Lamentavelmente, entrámos numa situação de profundo desgoverno e de optimismo desenfreado por parte do executivo que consubstancia uma enorme falta de respeito pelos cidadãos, uma ânsia de manter o poder a todo o custo e uma incompetência que brada aos céus. É evidente que com dinheiro mais caro devido aos juros altos tudo se torna mais difícil. Foi muito grave o facto de os governos desde o final da década de 90 não tomarem em consideração a impossibilidade de desvalorização da moeda - um truque a que os anteriores governos tinham recorrido muitas vezes para baixar os salários dos funcionários do Estado e com isso conseguirem aumentos de produtividade medidos em dólares. Os 2,9% de aumento concedido ao funcionalismo público antes das últimas eleições é prova provada de má governação. A governantes destes eu nunca entregaria a gestão da minha empresa. Gastos mega para receitas micro dão nisto. Agora só resta eliminar determinados serviços prestados pelo Estado de forma gratuita na área da saúde, obrigar a comparticipações maiores dos utentes nos transportes públicos, fazer os contribuintes pagar mais impostos e os funcionários públicos receberem cheques menores em termos líquidos.
É claro que há que tomar em consideração que houve um enorme aumento da concorrência por parte da Ásia e da Europa de Leste, que levou à deslocalização de multinacionais do nosso país. E há também que pensar, entre muitas outras coisas, na real descapitalização do Estado através do dinheiro apátrida que se evapora através de processos offshorianos. Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é (o nosso) fado.
jmco