«Até que ponto todos os livros, de todos os autores, não formam um único, imenso livro, que principiou a ser escrito muito antes de nós e prosseguirá sem fim, interminável? Perguntas, perguntas. No fundo não me interessam muito: o que eu desejaria era deixar, mais ou menos acabada, a minha casa de palavras, por definição para sempre incompleta. E que o leitor se sentisse justificado e feliz lá dentro, rodeado de vozes que afinal são as suas.»
autor de crónicas e obras admiráveis, António Lobo Antunes transporta, na "Visão" da semana de 21 a 27 de Outubro - nº 920, a dor de todos os seres (mortais) e em particular a de um escritor, debatendo-se com a finitude da vida e da memória mas também com a grandeza e limites do processo criativo
quanto aos livros, à leitura e à escrita, matérias-primas de especial predilecção do Ditos, é sempre interessante conhecer a expressão do pensamento de um escritor, para mais com a magnitude de António Lobo Antunes - e na crónica em apreço está um saborosíssimo apontamento sobre os meandros do processo criativo que terá em curso e alguma teorização sobre o tema, de assinalável interesse
na transcrição acima, que faz lembrar o magnífico "A Casa de Papel", do argentino-uruguaio Carlos Maria Domínguez (ASA, 2006), parece estar referenciado todo o Borges, quer lido directamente, quer pelas palavras conhecedoras, em causa própria e comum, do seu leitor e discípulo Alberto Manguel e a sua "Uma história da leitura"
mas o jametinhasdito vai mesmo é para a devolução aos leitores da autoria da obra, quer nas vozes que povoam os livros, quer enquanto destinatários titulares da eternidade a que um escritor iludidamente se dirige, ao que afirma e a julgar pelo confesso caso de António Lobo Antunes
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