2011-10-21

apetece escrever



às vezes, apetece escrever sobre tudo, ao menos sobre tanta coisa, intenso que é o mundo em ditos e factos susceptíveis de apetecível comentário

de pouco adianta, é certo, mas perpassa a tentação

- crise orçamental gera cortes e reduções aqui e ali, uns percentos se poupa, outros se empobrece, sacrifícios a rodos nem sempre repartidos com justiça- mas como esperar justiça? se a houvesse teriam sido evitados desmandos na origem da  crise e os seus números devastadores: 750 mil funcionários públicos custam 7,5 mil milhões de euros por ano; os juros do défice público ultrapassam os 8 mil milhões de euros; o desastre do BPN que estamos a pagar vai em 9 mil milhões de euros - vale a pena acreditar que vale a pena? que aprendemos com as asneiras do passado? como as assumiremos e responsabilizaremos?

- a ratazana do deserto foi acampar para as tendas eternas, porventura aliviando um pouco a culpa de um povo passivo e conivente por décadas demasiadas para acomodar na consciência geral ou mesmo no subconsciente colectivo, se tal existe, provavelmente, aliviará também um pouco a culpa e a conivência dos países ocidentais, de leste, não-alinhados, desalinhados, emergentes e árabes que ora alimentaram o monstro, ora o sugaram, no jogo sujo da política interna e internacional, uma lástima a preço de milhares de vidas, da hipoteca de gerações, de um passado negro a manchar o presente medonho em que terá que assentar o futuro a construir, pedra sobre pedra, a partir de um zero muitos furos abaixo de zero; e que aprendemos com as asneiras do passado? porque esperam os ditadores em latência ou em funções? guardarão as imagens de horror que empestam as televisões no episódio final que espera os ditadores? quantas vidas vão antecipadamente cobrar pelo seu próprio estertor? que quantidade de recursos e futuros vão consumir e destruir enquanto adiam a degola?

- e um oásis de luz chamado Gulbenkian, um outro mundo ou o seu utópico avatar, com ou sem vida (como jametinhadito o Professor Jorge Calado em "Haja luz" e na conferência que há dias proferiu nos auditórios, salas adjacentes, hall e escadarias da sede da Fundação Gulbenkian) para lá da conhecida: depois do extraordinário sucesso da primeira parte de uma prodigiosa exposição de ARTE em torno da "natureza morta" (porque será que em inglês se diz "still life", invocando conceitos opostos - vida/morte - e diversas gramáticas para designar o  inanimado, em que o homem não está mas está?) eis que inaugurou ontem a segunda parte da mostra, uma selecção criteriosa e difícil de conceber em Portugal ou mesmo de igualar em qualquer parte do mundo; parte boa do mundo foi preciso convocar para o efeito, os melhores museus e colecções contribuíram avultadamente com a cedência temporária deobras que provavelmente apenas veremos juntas uma vez na vida! e que obras...!! desta vez, cerca de 100 anos nos contemplam do espaço de exposições da sede da Fundação Gulbenkian, mais ou menos de 1850 (a fotografia, pois é!!!) a 1950, fim da Guerra e da ilustre vida do patrono Calouste, início de novas eras na sociedade, na economia e inevitavelmente na arte e no mercado da arte, com o advento do império dos objectos (que a arte representa, por vezes tão fielmente que os julgamos tocar e até comemos com os olhos, ora a arte os apreende ora tenta compreender, ora os distorce, transforma, imagina, outras vezes representam afinal a arte e a questionam enquanto obras de... não arte, mas que também nos olham, como viu e mostra Magritte) e do consumo até à obsessão, porventura a semente do mundo que temos hoje; mais, é ir lá ver, imaginar e sonhar!!!




talvez se torne a estes temas de tanto apetecer... ;_)))






observações são bem vindas obrigado ;_)))

2 comentários:

Ana disse...

É como Bem dizes…apetece traduzir por palavras o que alma sente quando cruza assim a Arte …;-)).
Lá voltarei uma e outra e outra vez.

Anónimo disse...

A vida é mesmo assim, António. Coisas boas, coisas más. O pior é quando ao olharmos para coisas que não são más as vemos como tal. Aí, deixamos de apreciar a vida.
No meio de todo este oceano com ondas altíssimas a desabarem sobre nós - e nós sem pranchas de surf para as podermos cavalgar! - sabe a mel ouvir dizer bem. Da Fundação Gulbenkian, como não? Foi um verdadeiro jackpot de beleza e de bem-fazer que saiu a Portugal e a Lisboa, e que administrações responsáveis têm sabido manter ao longo de décadas. Bem hajam!

jmco