as contas afiguram-se difíceis com a crescente recuperação de Santana Lopes nas sondagens e a manha do PRD apontada à maioria absoluta pedida pelo PS
o próprio Sampaio já falou em imperiosas alterações do regime eleitoral, para mais fácil formação de maiorias, em compreensível crise de consciência por vislumbrar um decepcionante “tudo na mesma” a 20 de Fevereiro
por isso, em conjugação com a enorme incerteza dos indecisos (oh, se há muitos...! por exemplo, no seu excelente bolg O Abrupto, Pacheco Pereira analisa tudo, não conclui e promete voltar ao assunto) talvez a clara, pronta e fundamentada posição de Freitas do Amaral possa constituir o facto novo e decisivo na aproximação do PS ao almejado objectivo de maioria absoluta
o artigo de Freitas do Amaral na revista Visão é cristalino para quem vê com olhos de ver: estes 3 anos de governo Durão-Portas-Santana nada trouxeram de bom, com entradas de Tarzan e saídas de sendeiro; e o líder do PS foi um bom Ministro
é claro que outros factores justificam esta posição de Freitas – inesperada e algo contra natura face à família política em que tem exercido a sua actividade política – a favor da maioria absoluta do PS, em que afirma pretender votar:
- o CDS e o PSD mudaram muito nos últimos tempos e já não são os partidos que integravam a sua família política, que aliás o enxovalhou;
- Freitas mudou muito desde a derrota eleitoral frente a Mário Soares, quer pela consciência que adquiriu nesse processo: a) - Soares confrontou-o com os processos disciplinares que Freitas moveu na Faculdade de Direito, refugiando-se no cumprimento da lei, quando outros denunciavam a iniquidade da lei e pagavam o preço da prisão, do exílio e da tortura ... o que para quem é lúcido dá que pensar ! e b) percebeu onde estava metido (os sobretudos verdes clonados em seu redor incomodariam até o mais ultra; pagaram-lhe com a fava; escorraçaram-no do CDS, etc.) quer pelo seu percurso político (Secretário Geral da ONU, ampliando horizontes, responsabilidades e a noção dos péssimos resultados que os políticos e os poderosos têm oferecido ao mundo ) e pessoal (escreveu sobre temas não jurídicos, revisitando a história próxima e também abrindo a sua visão da sociedade e da cultura)
- aparentemente, à luz dos dados e expectativas de hoje, o PS é a única força política com possibilidade de atingir a maioria absoluta
- a candidatura presidencial de Freitas nunca terá sucesso à direita, contra Cavaco, sem votos da esquerda, maxime, do PS – e note-se que o PS logo agradeceu o inesperado apoio
assim se chega ao voto necessário, conceito habilidoso que Freitas contrapõe simultaneamente ao voto natural (em princípio cada um vota no seu partido); ao voto útil (reclamado por ambos os Portas e sabe-se lá quem mais...); e ao voto inútil, da indiferença, do tanto faz, do absentismo, da abstenção, dos indecisos, dos que não sabem, dos que não querem saber
a expressão “voto necessário” carrega a ciência e a racionalidade em cima dos de má consciência, dos sem consciência e dos insatisfeitos
e há muitos insatisfeitos, a começar pelos que avaliam negativamente o próprio partido pelos erros cometidos em 3 anos de governo e episódios concomitantes, cavando grave fosso entre as tantas promessas mais as duras críticas de que os anteriores tinham feito tudo mal e afinal foi o que se viu, fizeram bem pior – aliás, em todos os partidos (nos blocos nem há líderes nem insatisfeitos, é tudo muito giro, a malta é gira) há quem não goste do respectivo líder, fenómeno actualmente muito amplificado por razões totalmente compreensíveis e notórias
e os que descrêem nos políticos em geral
a todos Freitas apela pungentemente, jametinhadito com todas as letras
é evidente que Freitas é livre de dar o seu voto a quem quiser e de fazer campanha por aquilo em que acredita
o vício do raciocínio é que ainda não foi desmontado: se a maioria absoluta é assim tão importante para o país, então também Guterres a merecia !
mas ninguém fez essa campanha
e Portugal ressentiu-se disso, esperemos que não irreversivelmente
apesar de Guterres ter tentado governar em contrapé, sem ter os meios nem a confiança para governar em situação difícil, ano após ano até ao grande cartão amarelo que o arreliou de vez, em 2002 Freitas reclamou maioria absoluta para o PSD, com Santana Lopes vice-presidente e portanto na equipa e na calha para governar
parece preferível acreditar que agora é que o raciocínio de Freitas está certo
observacoes sao benvindas
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