2004-10-18

crónica do solitário

voltou "a" crónica ! ! !

há coisas assim, sejam o que forem ...

para quem se habituou a ler "A casa encantada", esta sexta-feira houve brinde, mesmo se lida só no sábado

sim, está de volta João Bénard da Costa, o da Cinemateca onde se pode perceber que há vida para além da americanalhada que nos enxameia os sucedâneos dos nimas, lá onde se aprende Rhomer, Trufaut, Godard, já para não falar dos mais antigos e também dos americanos que valiam a pena, da cor e poesia mesmo no preto e branco, no mudo, etc., os ciclos, sessões agendadas, horas na bilheteira, a fio, a saborear os programas, ficar para uns debates, discutir tudo até à última nota de vinte, guardada para o último eléctrico da recolha a Santo Amaro, afinal gasta na última imperial ... para o caminho

pois se voltou, agora é ficar com o Público à sexta, para ler quando puder ser, sem dúvida a melhor das nossas crónicas

e temos das boas: logo no mesmo periódico, mais cedo ou mais tarde como quem pisca o olho aos leitores do Diário de Lisboa, "O fio do horizonte" de Eduardo Prado Coelho, o cronista premiado - curiosamente também premiado pelo Inimigo Público, que tem olho; depois, na Xis, Fayza Hayat, a quem alguém que eu cá sei anda a pensar escrever cartas de amor; na Visão, António Lobo Antunes, cada vez mais assumido; o meu irmão angolano José Eduardo Agualusa, na Pública; no DN, que tem perdido os bons, João Céu Silva, à espera de um jardim no bairro do Arco do Cego; Carlos Quevedo, no DNA; o de “La Cancha”, não me lembro agora onde mas que escreve, sobre tudo, sobre a vida, disfarçado na página do futebol; no Expresso, passe o pedantismo, reconheça-se jeito à Pluma Caprichosa, de Clara Ferreira Alves; a genial Clara Pinto Correia, onde quer que escreva; no Jornal de Negócios, Manuel Falcão, este é cá dos blogs n’A Esquina do Rio; n’A Capital, Jacinto Lucas Pires começa a impor-se; e tantos, tantos de outros e de nós, que escrevemos umas vezes bem e outras também, incluindo as crónicas prometidas, que bem que sabem, e as que esperamos, mesmo sem saber se chegam

mas vamos ao jametinhasdito do Bénard: ainda não me passaram os pintores, da luz e das cores; tantos cineastas e escritores, Manuel de Oliveira sempre, Agustina sempre; os palácios de Génova; etc. só para ficar pelos temas mais recentes

e agora cai-nos a Arrábida e perdemo-nos nos trilhos labirínticos das infâncias e das vidas lá feitas, afinal fomos ambientalistas antes de haver ambientalismo – mas, como diz quem sabe muito, entretanto houve distracções – e os caminhos ainda se podem recuperar, que nem tudo arde

é por alguns deles que vamos parar – para tomar balanço, pois então – às memórias do solitário de quem não está nada só mas tem razão em sentir-se, em tantas coisas, solitário

Arrábida adentro, está de volta a melhor crónica do planeta e a partida para o fim de semana já está ganha ! ! !

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