2013-07-20

dissimulação e revogável






em primeiro lugar, convém lembrar, em seus 7 pontos maravilha:

«1. Apresentei hoje de manhã a minha demissão do Governo ao primeiro-ministro.
2. Com a apresentação do pedido de demissão, que é irrevogável, obedeço à minha consciência e mais não posso fazer.
3. São conhecidas as diferenças políticas que tive com o ministro das Finanças. A sua decisão pessoal de sair permitia abrir um ciclo político e económico diferente. A escolha feita pelo primeiro-ministro teria, por isso, de ser especialmente cuidadosa e consensual.
4. O primeiro-ministro entendeu seguir o caminho da mera continuidade no Ministério das Finanças. Respeito mas discordo.
5. Expressei, atempadamente, este ponto de vista ao primeiro-ministro, que, ainda assim, confirmou a sua escolha. Em consequência, e tendo em atenção a importância decisiva do Ministério das Finanças, ficar no Governo seria um acto de dissimulação. Não é politicamente sustentável, nem é pessoalmente exigível.
6. Ao longo destes dois anos protegi até ao limite das minhas forças o valor da estabilidade. Porém, a forma como, reiteradamente, as decisões são tomadas no Governo torna, efectivamente, dispensável o meu contributo.
7. Agradeço a todos os meus colaboradores no Ministério dos Negócios Estrangeiros a sua ajuda inestimável que não esquecerei. Agradeço aos meus colegas de Governo, sem distinção partidária, toda a amizade e cooperação.
Paulo Portas, 2 de Julho de 2013»

ou seja:

a) o Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, demite-se com uma carta pública identificando a vontade de sair no seguimento do chumbo, pelo Tribunal Constitucional, de alguns aspectos - significativos mas de valor muito relativo face ao problema global da economia e das finanças de Portugal - e reconhecendo que a sua equipa errou em tudo: previsões e respectivas políticas;

b) o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, líder do CDS/PP que sustentava em coligação a maioria parlamentar de apoio ao Governo, também se demite com um comunicado público em protesto contra a «continuidade» - sic - da promoção de membros da equipa que reconhecidamente falhou em tudo: a proposta do Primeiro-Ministro Passos Coelho era então nomear Ministra das Finanças Ana Maria Albuquerque, ex-Secretária de Estado de Vítor Gaspar, sendo também promovidos (já pertenciam à dita equipa que, reconhecida e confessadamente, falhou em tudo) 2 novos Secretários de Estado, um dos quais Hélder Reis, ex-chefe do... jametinhasdito gabinete responsável pelas previsões de apoio àssobreditas políticas - «Hélder Reis era até agora director no Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais (GPEARI), a entidade que no Ministério das Finanças é responsável pelas previsões económicas e pela definição da estratégia financeira e orçamental»;

c) face ao descalabro e desagregação do Governo, Passos tira da cartola vários coelhos: não aceita o pedido de demissão de Portas, faz várias cedências ao CDS/PP para assegurar a sua permanência (e a da coligação) no Governo e propõe a Cavaco Silva, Presidente da República, uma reformulação do Governo com novos Ministros e um Vice-Primeiro-Ministro, precisamente o coliga-descoliga irrevogavelmente revogável Paulo Portas;

d) outras cartolas destapam novas minhocas: Cavaco ignora olimpicamente o Primeiro-Ministro e a sua reformulanda proposta de continuidade governativa, surpreendendo o País e o Mundo - cá dentro, poucos se terão lembrado e muito menos sonhado com fosse o que fosse vindo de Belém, por isso... e lá fora, a estupefacção fez a notícia, cada agência tinha uma interpretação da mensagem e dos propósitos de Cavaco, aliás logo remendado em ulterior comunicado rectificativo e apressador, «um prazo muito curto», jametinharrecalcitrado o PR! - com um desafio exigente: ante o desentendimento dos dois partidos do Governo, Cavaco vislumbrava o entendimento de três partidos desentendidos!! é obra!!!

e) subsistindo o desentendimento, entra-se noutra fase do nervosismo político e politiqueiro: e agora, o que virá de Belém? pode não ser fácil ver claro mas é bom analisar com um mínimo de objectividade e bom senso - só quem não quis ver é que se deixou iludir pela anedótica proposta da luminária cagarra presidencial... agora, embrulha! ou pior, ainda mais nos embrulha... ;(

na realidade, um esforço de consenso governativo por parte de Cavaco teria justificação e oportunidade após as eleições que deram maioria relativa a Sócrates!!

a judiciosa e interesseira omissão presidencial permitiu, então, que todos os partidos da oposição montassem a sua rasteira ao Governo minoritário, à falsa fé!!!

assim, qual a justificação para vir agora propor consenso tripartidário na sequência da bernarda no Governo com apoio parlamentar maioritário da coligação PPD/PSD-CDS/PP ?

se nem os coligados se entendem, com sucessivas demissões, omissões e cartas de público e recíproco enxovalho, como imaginar em boa fé que 3 partidos desentendidos se entendam?

em breve saberemos a verdadeira motivação da aparente jogada paspalha de Cavaco, a menos que este queira à força dar razão ao que por aí lhe chamam...

azar ;(

a propósito, a antecipação diferida de eleições inventada por Cavaco Silva para daqui a um ano - como? para quê? e porquê? - é uma figura jurídico-constitucional inovadora a merecer estudo em nota de rodapé de vários manuais de direito constitucional no próximo ano lectivo, no Prefácio do próximo "Roteiros VI" (ou VII... ou VIII... ou... safa! três mandatos é azar demasiado até para insuspeitos apoiantes) e, é claro, em tudo o que seja programa satírico, humorístico e de rega bofe em jornais, rádios, TV, facebook e conversas de café especializadas no mais incrível anedotário nacional

haverá ainda abecedário bastante para prolongamento do resto desta crise, por mais que o Presidente retarde as inevitáveis eleições

resumindo, positivando e convidando a apostar (mais) uma imperial ou um pastelinho de Belém:

I - estaremos condenados a continuar no pântano de que fugiram, sucessivamente, Guterres, Barroso e Sócrates, e de que foi corrido Santana?

II - haverá eleições legislativas juntamente com as autárquicas, ainda este ano, como interessa a muitos também por assim se evitar a redução a metade dos lugares de Deputado e adjacentes como impõe o sentido ético, a boa relação custo-eficácia do funcionamento e o exemplo que se espera da Assembleia da República?


III - ou atrever-se-á Cavaco a cagarrar algum dos seus amigos e apoiantes para uma aventura de Governo de iniciativa presidencial, sujeitando-o (Carlos Costa? David Justino? Rui Rio?) ou sujeitando-a (Manuela Ferreira Leite? Leonor Beleza? Teresa Patrício Gouveia?) à facada conjunta de todos os príncipes maquiavélicos, jovens turcos e empedernidos tachistas dos partidos com assento parlamentar?







observações são bem vindas!


obrigado ;_)))

1 comentário:

argumentonio disse...

cagarrou e disse: fica tudo na mesma, isto é, menos do mesmo!

mas aproveitou e, entre golinhos de água, fez saber que ainda manda no seu partido: anunciou d'alto e sem dar voz a quem foi posto no Governo, que haverá "moção de confiança"!!

assim será e, decerto, outra vez e até ver, irrevogável ;(