em primeiro lugar, convém lembrar, em seus 7 pontos maravilha:
«1. Apresentei hoje de manhã a minha demissão do Governo ao
primeiro-ministro.
2. Com a apresentação do pedido de demissão, que é
irrevogável, obedeço à minha consciência e mais não posso fazer.
3. São conhecidas as diferenças políticas que tive com o
ministro das Finanças. A sua decisão pessoal de sair permitia abrir um ciclo
político e económico diferente. A escolha feita pelo primeiro-ministro teria,
por isso, de ser especialmente cuidadosa e consensual.
4. O primeiro-ministro entendeu seguir o caminho da mera
continuidade no Ministério das Finanças. Respeito mas discordo.
5. Expressei, atempadamente, este ponto de vista ao
primeiro-ministro, que, ainda assim, confirmou a sua escolha. Em consequência,
e tendo em atenção a importância decisiva do Ministério das Finanças, ficar no
Governo seria um acto de dissimulação. Não é politicamente sustentável, nem é
pessoalmente exigível.
6. Ao longo destes dois anos protegi até ao limite das
minhas forças o valor da estabilidade. Porém, a forma como, reiteradamente, as
decisões são tomadas no Governo torna, efectivamente, dispensável o meu contributo.
7. Agradeço a todos os meus colaboradores no Ministério dos
Negócios Estrangeiros a sua ajuda inestimável que não esquecerei. Agradeço aos
meus colegas de Governo, sem distinção partidária, toda a amizade e cooperação.
Paulo Portas, 2 de Julho de 2013»
ou seja:
a) o Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, demite-se com uma
carta pública identificando a vontade de sair no seguimento do chumbo, pelo
Tribunal Constitucional, de alguns aspectos - significativos mas de valor muito
relativo face ao problema global da economia e das finanças de Portugal - e
reconhecendo que a sua equipa errou em tudo: previsões e respectivas políticas;
b) o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo
Portas, líder do CDS/PP que sustentava em coligação a maioria parlamentar de
apoio ao Governo, também se demite com um comunicado público em protesto contra
a «continuidade» - sic - da promoção
de membros da equipa que reconhecidamente falhou em tudo: a proposta do
Primeiro-Ministro Passos Coelho era então nomear Ministra das Finanças Ana
Maria Albuquerque, ex-Secretária de Estado de Vítor Gaspar, sendo também
promovidos (já pertenciam à dita equipa que, reconhecida e confessadamente,
falhou em tudo) 2 novos Secretários de Estado, um dos quais Hélder Reis,
ex-chefe do... jametinhasdito gabinete responsável pelas previsões de apoio àssobreditas políticas - «Hélder Reis era até agora director no Gabinete de
Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais (GPEARI), a
entidade que no Ministério das Finanças é responsável pelas previsões
económicas e pela definição da estratégia financeira e orçamental»;
c) face ao descalabro e desagregação do Governo, Passos tira
da cartola vários coelhos: não aceita o pedido de demissão de Portas, faz
várias cedências ao CDS/PP para assegurar a sua permanência (e a da coligação) no
Governo e propõe a Cavaco Silva, Presidente da República, uma reformulação do
Governo com novos Ministros e um Vice-Primeiro-Ministro, precisamente o
coliga-descoliga irrevogavelmente revogável Paulo Portas;
d) outras cartolas destapam novas minhocas: Cavaco ignora
olimpicamente o Primeiro-Ministro e a sua reformulanda proposta de continuidade
governativa, surpreendendo o País e o Mundo - cá dentro, poucos se terão
lembrado e muito menos sonhado com fosse o que fosse vindo de Belém, por
isso... e lá fora, a estupefacção fez a notícia, cada agência tinha uma
interpretação da mensagem e dos propósitos de Cavaco, aliás logo remendado em
ulterior comunicado rectificativo e apressador, «um prazo muito curto»,
jametinharrecalcitrado o PR! - com um desafio exigente: ante o desentendimento
dos dois partidos do Governo, Cavaco vislumbrava o entendimento de três
partidos desentendidos!! é obra!!!
e) subsistindo o desentendimento, entra-se noutra fase do
nervosismo político e politiqueiro: e agora, o que virá de Belém? pode não ser
fácil ver claro mas é bom analisar com um mínimo de objectividade e bom senso -
só quem não quis ver é que se deixou iludir pela anedótica proposta da
luminária cagarra presidencial... agora, embrulha! ou pior, ainda mais nos
embrulha... ;(
na realidade, um esforço de consenso governativo por parte
de Cavaco teria justificação e oportunidade após as eleições que deram maioria
relativa a Sócrates!!
a judiciosa e interesseira omissão presidencial permitiu,
então, que todos os partidos da oposição montassem a sua rasteira ao Governo
minoritário, à falsa fé!!!
assim, qual a justificação para vir agora propor consenso
tripartidário na sequência da bernarda no Governo com apoio parlamentar
maioritário da coligação PPD/PSD-CDS/PP ?
se nem os coligados se entendem, com sucessivas demissões,
omissões e cartas de público e recíproco enxovalho, como imaginar em boa fé que
3 partidos desentendidos se entendam?
em breve saberemos a verdadeira motivação da aparente jogada
paspalha de Cavaco, a menos que este queira à força dar razão ao que por aí lhe
chamam...
azar ;(
a propósito, a antecipação diferida de eleições inventada
por Cavaco Silva para daqui a um ano - como? para quê? e porquê? - é uma figura
jurídico-constitucional inovadora a merecer estudo em nota de rodapé de vários
manuais de direito constitucional no próximo ano lectivo, no Prefácio do
próximo "Roteiros VI" (ou VII... ou VIII... ou... safa! três mandatos
é azar demasiado até para insuspeitos apoiantes) e, é claro, em tudo o que seja
programa satírico, humorístico e de rega bofe em jornais, rádios, TV, facebook
e conversas de café especializadas no mais incrível anedotário nacional
haverá ainda abecedário bastante para prolongamento do resto
desta crise, por mais que o Presidente retarde as inevitáveis eleições
resumindo, positivando e convidando a apostar (mais) uma
imperial ou um pastelinho de Belém:
I - estaremos condenados a continuar no pântano de que
fugiram, sucessivamente, Guterres, Barroso e Sócrates, e de que foi corrido
Santana?
II - haverá eleições legislativas juntamente com as
autárquicas, ainda este ano, como interessa a muitos também por assim se evitar
a redução a metade dos lugares de Deputado e adjacentes como impõe o sentido
ético, a boa relação custo-eficácia do funcionamento e o exemplo que se espera
da Assembleia da República?
III - ou atrever-se-á Cavaco a cagarrar algum dos seus
amigos e apoiantes para uma aventura de Governo de iniciativa presidencial,
sujeitando-o (Carlos Costa? David Justino? Rui Rio?) ou sujeitando-a (Manuela
Ferreira Leite? Leonor Beleza? Teresa Patrício Gouveia?) à facada conjunta de
todos os príncipes maquiavélicos, jovens turcos e empedernidos tachistas dos
partidos com assento parlamentar?
observações são bem vindas!
obrigado ;_)))