a descoberta de uma pessoa falecida há anos num apartamento vendido em execução fiscal deve merecer alguma reflexão
primeiro pela constatação de uma vida só, sem ajuda, abandonada ao esquecimento
situação que se repete extensivamente nas nossas sociedades, com muito isolamento e alheamento, em especial na população sénior
como foi possível chegar a este ponto?
alerta!
o perigo é real, pode e vai repetir-se e voltar a acontecer (como já aconteceu) nova tragédia próximo de todos nós
neste caso, ou melhor, em casos destes, é ainda mais difícil, inútil e inconsequente deitar as culpas em Sócrates e Cavaco, no Governo ou no Estado, no sistema ou na globalização
a culpa é nossa, de todos nós, caminhando para o vazio, por vezes depressa ou mesmo depressa demais, para lado nenhum
claro que existe a segurança social, as igrejas, o voluntariado - mas todos esses meios deverão ser complementares a formas de organização mais elementares de solidariedade, em que os seres humanos estabelecem laços, de pertença a famílias, a vizinhança, a comunidades
porque andarmos todos a circular de carro em avenidas cheias não faz de nós uma comunidade
morarmos muitos no mesmo prédio não faz de nós vizinhos
ter um apelido comum não nos torna familiares
os laços verdadeiros são os que nós construímos ao ver e querer saber uns dos outros, os que resultam de mútuo conhecimento e reconhecimento, da convivência e partilha, das decisões comuns, da entreajuda, da diversificação da nossa esfera de relacionamentos e do seu fortalecimento e vitalidade
a chama acesa, afinal, para além do umbigo
em vez de apagada e ensimesmada
dá que pensar...
1 comentário:
Para mim este caso nunca poderá ser considerado um caso isolado e funciona bem como o símbolo dos tempos... infelizmente, uns tempos de desenraizamento, de alheamento, de sofrimento, que as pessoas consomem à hora do Telejornal entre duas colheres de sopa... sim, duas colheres de sopa que é já o jantar de muita gente!
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