2011-02-26

levitar



a arte de levitar é de muito difícil domínio, bem sabemos, reservada que está a raros eleitos, santos ocidentais ou ascetas orientais e pouco mais

mas pode acontecer, entre nós, simples mortais

há dias, numa sessão da versão nacional dos concursos caça-talentos actualmente em voga, um dos concorrentes apresentou-se ao júri, ao público e ao vexame televisivo, anunciando o seu propósito de ... levitar!

a coisa ia enroupada em truques de magia de trazer por casa e, com a prestimosa colaboração da apresentadora, a dado ponto surgia o número propriamente jametinhasdito da levitação

naturalmente, o acto suscita alguma expectativa, pois enquanto podemos todos adquirir nas lojas da especialidade os adereços e instruções para os tradicionais truques de cartas de jogar na manga do casaco, da pomba na lapela e do coelho na cartola, ou da moeda atrás da orelha, do lenço infinito e colorido ou da corda que se corta ou ata e de cada vez se refaz, já inspiram maior nervoseira os jogos de espelhos, as houdinices e aquilo de serrar a meio a assistente do mágico, tal como o momento de levitação

chegado o dito momento, a glamorosa Bárbara Guimarães puxa a cadeira que servia de almofada ao suposto levitante, que acto continuo desabou de cabeça no chão, com estrondo e alguma apreensão para a parte do público que se preocupou com a integridade física do participante

de resto, alguma estupefacção e desalento entre o restante público, o júri e a apresentadora, mas não do artista, que se ergueu quando pôde e logo gesticulou em comemoração de vitória, aumentando a perplexidade da assistência

mas o ridículo não se ficou pelo desastrado número nem pelo enxovalho a que o jovem aceitou submeter-se e de pronto a apresentadora se dirigiu ao concorrente humilhado mas estranhamente em júbilo e perguntou-lhe: diga lá, alguma vez tinha levitado?

bem, a pergunta deixa qualquer racional a levitar: então ela dispôs-se a puxar a cadeira de sustentação da cabeça do rapaz, desamparando-o, sem antes ter feito essa pergunta e sem ter ensaiado previamente?

e se o miúdo tivesse partido a cabeça ou lhe acontecesse algo de grave em sequência do temerário puxão da cadeira?

é que uma coisa é vender humilhações a retalho, por atacado e sem escrúpulos nem ética, como acontece com o uso e abuso televisivo deste género de programas, recorrendo a estratégias vexatórias e patéticas para ganhar minutos de audiência a qualquer custo, geralmente a baixo custo, mesmo perante verdadeiras pérolas que se encontram em muitos candidatos e na genuinidade das suas legítimas ilusões, como o do emocionante exemplo em título

outra bem diferente é atentar contra a saúde e a vida alheias!!

neste caso, uma Barbaridade!!!



observações são bem vindas ;->>>

1 comentário:

Sofá Amarelo disse...

Já o Pedro Abrunhosa tinha tentado levitar e foi o que se viu! Pois eles que venham aprender a levitar comigo, que eu explico que de bolsos tão vazios, o ar entra por aqui e me faz levitar até ao céu... bom, possivelmente até ao Inferno, devo ter para aí uns pecados para pagar... mas eu acho que pecado é passar pela vida sem pecar!

Mas sobre os talentos (des)ocultos este tipo de programas (Ídolos e outros que tais incluidos) são um atentado à dignidade humana! Antes um discurso de Kadhaffi!