O sol é grande, caem co’a calma as aves
do tempo em tal sazão, que soe ser fria;
esta água que d’alto cai acordar-me-ia
do sono não, mas de cuidados graves.
Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
Qual é tal coração qu’em vós confia?
Passam os tempos, vai dia trás dia,
Incertos muito mais que ao vento as naves.
Eu vira já aqui sombras, vira flores,
vi tantas águas, vi tanta verdura,
as aves todas cantavam d’amores.
Tudo isso é seco e mudo; e de mestura,
também mudando-me eu fiz doutras cores:
e tudo o mais renova, isto é sem cura!
Sá de Miranda
1 comentário:
Sem cura andam muitas maleitas por aí...
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