ante a imponência, esplendor e magia que podemos sentir ao vivenciar um pôr-do-sol, compartilham-se naturalmente ponderosas perguntas:
- o sol reaparecerá?
- depois de se esconder, encontrará e fará o caminho de volta?
- guarda o impulso e amanhã volta a iluminar e a aquecer o mundo?
se a dúvida surge espontânea na mente dos homens, natural é também a organização de respostas ou estratégias para lidar com a perplexidade e a interrogação
por isso, talvez, a humanidade regista várias formas de invocação do sol ou de outros deuses, para que o acalento persista e se renove, alimentando a vida e os sonhos dos homens
as diferentes manifestações de inquietação, de fascínio e de procura de apaziguamento face ao pôr-do-sol constituem, por outro lado, objecto interessantíssimo de estudo, documentos da construção da humanidade e narrativa a vários títulos fabulosa, mesmo encantadora, presente nas diferentes civilizações
o "O último voo do flamingo", filme de João Ribeiro baseado na novela homónima de Mia Couto, é um conto, um canto e um encanto, admirável exemplo das vicissitudes da aventura humana sobre o planeta e o seu/nosso astro rei, no caso através do exemplo de um povo moçambicano e dos seus costumes ancestrais, ainda muito presentes, por sinal
esta obra moçambicana, de moçambicanos e do mundo inteiro (a componente de "produção cinematográfica" é um caso estampado de globalização, com intervenientes, referências e patrocínios provenientes de toda a parte do planeta) é ainda maravilhosa por muitos outros motivos, incluindo as gentes e as paisagens, a riqueza de aforismos e da linguagem ou alguma análise da história recente de Moçambique e, inexoravelmente, de Portugal e da saga venturosa que ofereceu e impôs mundo fora, tempos fora e por aí fora
;_)))
ps - e há sorrisos brancos e outros feitiços, episódios de encantar, interpretações capazes, ninguém a comer pipocas na sala, intervalo para eventual cigarrinho e tanto, tanto mais!!!
4 comentários:
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E será interessante ficar à espera que ele renasça, reapareça, reaqueça? Vê-lo de novo?
E será interessante entender que ele está lá sempre, fixo e quente, luminoso, inesgotável e que é esta nossa Terra, velha e fria, ronceira, traiçoeira, que pode deixar de girar, girar mais devagar, deixar de nos atrair... deixar-nos cair, de nos engolir ou abafar, com água, com fogo, com poluição, sem oxigénio, sem alimento-sustento?
Será um 'belo' momento?
Obrigado pela dica, António. Vou tentar ver o filme e, naturalmente, tenho pena de que as salas estejam desertas. A magia de África, que o contamina a si, mas também a mim, é um chamamento importante. Por outro lado, Mia Couto é uma referência incontornável (desculpe-se-me o lugar comum), uma maravilha de pessoa e de escritor. Se a sua obra foi bem passada para o cinema, tanto melhor.
A terminar, quero dizer que foi através de si e deste blog que fui ler o João Aguiar e fiquei encantado.
O filme do J. R. não me vai decepcionar. Até lá, que o flamingo continue o seu voo contra céus de fogo.
jmco
África minha...:0)
a magia de um pôr-do-sol (jamais esquecido)
Gosto de Mia Couto!Vou tentar ver o livro!
Beijinhos de Sol*
Quando o Sol se põe ou se esconde é tempo de repensar as coisas... nas horas das trevas há que preparar o que se segue e aguardar que o Sol complete a sua missão - para nós diária, para o universo insignificante - de dar alma a um planeta que vagueia por aí talvez à procura do próprio renascer!
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