2009-09-03

maçãs


«No início, Eva não queria morder a maçã.

Após exaustivos estudos, descobriram o motivo por que acabou por mordê-la ...

- Morde - disse a serpente - e serás como os anjos!
- Não - respondeu Eva.
- Terás o conhecimento do Bem e do Mal - insistiu a víbora.
- Não!
- Serás imortal.
- Não!
- Serás como Deus!
- Não, e não!
A serpente já estava desesperada e não sabia o que fazer para que a Eva mordesse a maçã...

Até que teve uma idéia.
Ofereceu-lhe novamente a fruta e disse:
- Morde...que emagrece...»


gracejos à parte, e agradecendo à internet e à simpatia do envio electrónico, certo é que as maçãs gozam de excelente reputação, ancestral, mesmo antes da institucionalização da máxima "An apple a day keeps the doctor away" !

mas será de tomar o todo pela parte? será que todas as maçãs fazem igualmente bem? ou todos os frutos?

a fruta, em geral, faz bem - desde logo por ser alimentícia, em tantos casos energética e, em muitos, saborosa, ou seja, prazenteira

um dos trunfos está obviamente na variedade, outro na adaptação local - aceitando que estamos melhor preparados e extraímos maior benefício seguindo a dieta da região a que pertencemos

mas o conhecimento ancestral e empírico é um extraordinário campo de pesquisa para a ciência, que modernamente se preocupa em confirmar ou infirmar as práticas e crenças adquiridas e transmitidas de geração em geração

assim, um magnífico estudo universitário (Cornell, Estados Unidos da América do Norte, fundada em 1865) publicado na Nature de Junho vem confirmar as excelentes propriedades antioxidantes presentes na polpa e na casca (geralmente o sumo de maçã contém casca) das maçãs

onde é que já vimos este filme?

em rigor, a novidade é que tais elementos benéficos estão não apenas na vitamina C das maças mas sim nos (!) respectivos flavanoides e polifenóis, geralmente (!!) conhecidos como fitoquímicos ou fitonutrientes (!!!) mais ... mais o belo do beta-caroteno, muito nosso conhecido das cenouras e de umas excelsas algas que se desenvolvem na flor de sal

alguns cépticos jametinhamdito que este tipo de estudos são "fomentados" pelos produtores ou pelas autoridades de certas regiões frutíferas - se a palavra não existe, aqui fica a proposta, que pede meças a "auríferas" e "petrolíferas", pois então

seja como for, o Ditos atesta a maior credibilidade - com base num estudo rigoroso desenvolvido ao longo da relação de toda uma vida, et pour cause, com a maçã bravo esmolfe - a brilhante estudo realizado pela magnífica Universidade (da Cova) da Beira Interior e noticiado, há tempos e para os ouvintes mais atentos, pela Rádio da Cova da Beira

efectivamente, a conclusão é a superioridade da nossa Universidade, do nosso estudo e... da nossa bravo esmolfe

na realidade cientificamente comprovada, a cheirosa da bravo esmolfe previne doenças cardiovasculares e alguns cancros - é obra !

além, claro, de ser uma saborosa maçã, a pedir uma dentada ...

e neste caso, a Eva representa, não apenas metade mas toda a humanidade !!

ou seja, o caso é de tomar a parte pelo todo !!!







observações são bem vindas
;->>>

4 comentários:

MafY disse...

As bravo esmolfe eram especiais. Só havia uma árvore. Não se apanhavam estas maças, toda a gente sabia reconhecer a árvore e o deleite era isso mesmo, passar por lá vez em quando.
Cresci assim, todos os anos em Agosto a história se repetia, lá estávamos no início de uma grande fila escadote e balde. Grandes para um lado pequenas para o outro. Que perfume e cor. Comidas directamente da árvore. Tentação tornada possível. Crescia água na boca, antes de fechar os olhos e a primeira dentada era um monte de sensações empoleirada em cima do escadote a ver o mundo inteiro de cima. As mulheres a falar e a rir, os homens carregavam.
Maças de manhã à noite.
Mas havia o regresso a Lisboa mais as ditas das maças, 4º andar sem elevador. Era nessa altura que passava a ser homem escada acima escada abaixo até descarregar umas centenas de quilos. Durante alguns meses não queria nem ver nem ouvir falar.
Depois o tempo resolve, e volta o perfume e o sabor, a água na boca e a tentação.

Anónimo disse...

A historieta que narra sobre a fruta que emagrece a Eva e finalmente a convence lembra aquela outra que nos diz simplesmente que “O chocolate não engorda.” (Quem engorda és tu!).
Pois, a fruta é algo mesmo excelente. Falo por experiência própria: como quilos de fruta por semana. E com que gosto! Há dois dias descobri aqui próximo uma loja com umas uvas moscatel que são um assombro. Já lá fui duas vezes. A família agradece.
Portugal é um país privilegiado no que diz respeito a fruta. Mas não foi de coisas como estas que os povos da Germânia nos procuraram nos tempos antigos e depois acabaram por assentar arraiais por estes lados? O que eles têm de fruta lá no seu sítio é inferior em termos de gosto, muito embora possa ter óptimo aspecto. E quanto ao preço, nem é bom falar!
"An apple a day keeps the doctor away" é muitas vezes completado com "And an onion a day keeps all the other people away". Compreende-se porquê. Entretanto, alguns ingleses dizem que este "doctor" é o dentista, na medida em que numa altura em que as Colgates e as Sensodines não existiam era fruta do tipo da maçã que servia para limpar os dentes no final da refeição.
Como se sabe, "apple" era o nome genérico para vários tipos de fruta, tal como em francês era "pomme". Daqui vêm as pommes de terre e os pineapples. E também os apples of love (tomate). Enfim, coisas da linguística antiga.
Quanto ao pêro bravo de Esmolfe, basta o cheirinho que ele deita para o tornar extremamente apetitoso. Tenho cá em casa uma artista que o adora. E mesmo ao deitar, quando um ratito no estômago ataca, um pêro desse género funciona exactamente como a tal maçã relativamente aos dentes. Não é preciso levantar para ir lavar de novo a boca. Digamos que o serviço está feito.
E, já agora, o que dizer da nossa excelente maçã reineta?!
E quem não gosta da pêra rocha? Como a nossa não se encontra em muitos sítios.
Viva a fruta, António, que a fruta fá-lo viver!
jmco

argumentonio disse...

saborosos, perfumados e suculentos comentários!

muito obrigado!!

fica a faltar resposta e complemento à referência, talvez subtil, ao filme propriamente dito: "onde já se viu este filme?","a parte pelo todo" e o todo pela parte" - Sinedoque (http://www.youtube.com/watch?v=TEAJ4e4ceBo&hl=pt-PT) de Charlie Kaufman, o argumentista de Quem quer ser «John Malkovitch» - exercício cinematográfico e algo obsessivo de um recurso de estilo, retórico e literário de seria bem vinda uma explicação de quem de direito... tal como seriam bem vindas interpretações, teorias, sentires...

fica o desafio!!!

;->>>

Carlos Albuquerque disse...

Boa tarde! Posso entrar?
Esta história da maçã é de morder!
Tenho outra, de África:
Um dia, tinha eu onze anos, completei o segundo dos liceus, passando para o 3º ano. Feito a merecer aplauso familiar. Bom, como prenda o meu pai levou-me numa viagem de um mês, no seu jipe, por terras do interior da então colónia. Numa das sanzalas em que parámos, conheci um soba que logo me pareceu homem sábio. Como gosto de conversar, pus-me a falar com ele, que acabou por ser um bom interlocutor. A dada altura, não me perguntem porquê, estávamos a falar do Paraíso, esse mesmo, o do Adão e Eva, da maçã e da serpente, e de outra bicharada que, provavelmente por lá haveria. De repente, aconteceu:
- sabes? Aqui onde a gente está já foi outra terra.
- outra terra?
- sim, foi um quimbanda que lhe fez.
- quimbanda...?
- te digo o que é - é um feiticeiro.
- então, e depois?
- despois o quimbanda deixou aqui um pescador, uma kyanda, um imbondeiro e uma cacimba cheia.
- Kyanda? Também não sabes? É um ser metade peixe, metade mulher.
- e depois, e depois?
- despois o quimbanda disse no pescador que a árvore era só para encostar no tronco dela. As fruta, as múcua, não lhe podia comer.
- porquê?
- porque as semente partiam os dente do pescador e despois ele não podia morder na Kyanda.
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Sorri, fiquei a olhar para o soba de carapinha branca, e mais não disse senão um adeus, que o meu pai chamou-me para seguirmos viagem.
Um abraço