2009-09-29

lei da bala


de entre inúmeros casos de violência que vão caracterizando as comunidades humanas, desde sempre, mas com repercussão crescente devido ao acesso facilitado a todas as informações, a todos os pedaços de realidade, quase a todas as sensações, assim ampliadas para além do confortável e mesmo do suportável, é já difícil encontrar justificação bastante para a perplexidade, o horror ou a pura insensatez

João Pedro Melo Ferreira, M. I. Advogado de 53 anos de idade, foi ontem surpreendido em Estarreja, no seu local de trabalho, por uma lei que não dominava, que muito provavelmente abominava e que de todo em todo não podia antecipar

fulminado pela raiva, por feridas larvares da esfera insondável da alma e pela arma cobarde em que se dissimulou o ódio irracional do seu algoz, o distinto causídico deixa ao presumível agressor um legado apreciável:

_ Manuel Pimenta, empreiteiro de 58 anos de idade, alegadamente, confesso autor dos disparos fatídicos, terá direito - jametinhamdito - a defesa, a um advogado, a ser ouvido, a um processo judicial, a uma pena de função reabilitadora, a ser alimentado e tratado, a uma vida e a uma dignidade, à companhia dos entes queridos, ao seu património, aos apoios do Estado, à sua recuperação como pessoa ...

tudo valores pelos quais terçava João Pedro Melo Ferreira, armado apenas com o saber, com o seu labor e com a lei da palavra, que terçava como forma de regulação da - por vezes muito difícil ou mesmo inviabilizada - convivência humana, de que era um pacífico artífice na filigrana armadilhada da sociedade em que vivemos


observações são bem vindas
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3 comentários:

Anónimo disse...

Muito lamentável o acto em si. Reprovável a situação que descreve, nada dissuasora de crimes do género.
jmco

Sofá Amarelo disse...

Em Portugal o agressor é sempre o desculpável, o inadaptado que a sociedade não soube acolher, o coitado... e a vítima é sempre a responsável porque estava num lugar onde não devia estar, pelo menos àquela hora e naquele local...

Por mim, tolerância zero (mesmo zero) para o crime, seja ele qual for - desde homicídios a ofensas à dignidade de cada um de nós... zero, mesmo zero!!!

zeka disse...

Rendo-me, sem argumentos, diante de tão sábias e tão sentidas Palavras.

Em Sociedade, vale a Justiça possível.

Na Terra, nem a 'divina' é justa: é para cada criatura conforme calha! A terra treme, o mar invade, o sol queima, a água afoga, o ar mata.

^ Bendigamos o Senhor ^