2005-06-02

... ou a vã glória

ditos

... enfim, a Europa há-de trilhar os seus caminhos, umas vezes a poder de construtivos sins, umas outras por baixo de clamorosos nãos, longe vão pois os tempos em que a evolução (?) se perspectivava à bordoada, canhonada, etc.

um não terá poderosas virtudes ou mesmo muitas mais

realizar algo é porém desafio maior, implica propor, eventualmente cativar, seduzir ou animar a partilha de ideais; sujeitar-se a ceder; procurar consensos; obter compromissos

mas os tempos não estão para compromissos, todos gostam de fazer prevalecer os seus interesses, decerto legítimos

o não é inteiramente legítimo e porventura a melhor escolha, talvez até justo - bem, o recurso ao exagero é meramente didactico - mas faz lembrar a história da rã e do lacrau, a primeira propõe-se atravessar a ribeira, do que o segundo não é capaz, mas encetado o trajecto cooperativo, o lacrau concretiza a sua natureza, afundando ideal, propósito, travessia, cooperação e ... o canastro de ambos

naturalmente que a CEE não foi propriamente referendada, nem os países que a compõem no momento inicial, quase todos os que agora integram a União Europeia, ou os que constituem por ora a lista da ONU, tão pouco foi referendada a construção do Castelo de São Jorge, a cidade de Lisboa, a Torre Eiffel de Paris, a farmácia da esquina, a língua portuguesa, o armistício de 1945, o 25 de Abril, o horário de abertura do Museu Nacional de Arte Antiga, a Constituição da República ou as suas inúmeras alterações, a adesão de Portugal à CEE/CE/UE e muitas outras realizações ou aquisições humanas, muitas das quais obviamente não resistiriam a um excelso e vivaz referendo

as fontes de legitimação têm asim uma natureza fugidia face aos filtros mentais com que por vezes encaramos modernamente temas semelhantes - e a receita pode conter o germe da eficácia: tudo quanto não se queira realizar, submete-se a referendo, há enorme probalidade de ficar no papel ou mesmo no tinteiro !

nada há que propor em alternativa, nada há que ceder, nada há que aceitar

e como todas as razões são boas, o próximo projecto será ainda de mais difícil elaboração; mas é um saco de gatos, como irá colher mais e menos coesão, mais e menos federação, mais e menos liberalismo, mais e menos religião, mais e menos subsidiaridade, mais e menos social, mais e menos directório, mais e menos soberania, mais e menos economia, mais e menos política, mais e menos ética ?

por meritória e útil que seja, a vitória do não é pois sensaborona e deslavada: o que é que verdadeiramente oferece aos povos da Europa ? como se supera ? que progressos assegura ?

mas não é neutra nem indolor: além de dividir e acirrar, deve afastar a carta de direitos, o objectivo de pleno emprego e a supremacia de conceitos sociais e de solidariedade entre os povos de qualquer tentativa ou projecto de texto europeu nos próximos anos, talvez décadas, até que algum novo idealismo comunitário ou alguma transcedência solidária, eventualmente sob a premência de desânimos agonizantes, de ameaças totalitárias ou musculadas

o compromisso até pode construir a paz, castelos, países, comunidades, línguas, poemas, ciências, mas porventura com muitos defeitos pois, por definição e circunstância é de facto imperfeito

então vota não, porque jametinhasdito que não és comunista; nem sindicalista; nem operário; nem intelectual ...

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