2020-02-20

Desculpar ou relativizar o crime de racismo? Pelo contrário, exaltar o exemplo de Marega



esta publicação refere-se a quem procura desvalorizar o recente episódio racista num estádio de futebol, infelizmente repetido em muitos outros lugares e actividades sem o mesmo impacto na consciência geral, talvez justamente por não ter havido antes a coragem de um gesto significativo e disruptivo, a repor alguma ordem à mesa e despertando a cidadania colectiva do País

o Ditos esforça-se por não nomear quem atropela e trafulha para ser nomeado, mas em boa hora é apelidado de miserável, por alegadamente não olhar a meios para se pôr em bicos de pés e destilar ódio, à beira da xenofobia, do racismo, de complexo demencial de suposta pureza étnica ou de mera apologia da força bruta, tudo manifestação de ausência de valores humanistas e desprezo pelo bem comum da Família Humana

segundo o princípio «ad judicium», dir-se-á que o denunciado tem praticado actos miseráveis, incentivando alarvemente o ódio, a xenofobia e muita palermice, cavalgando e sanguessugando a propensão para o abismo de quem, julgando-se bafejado por lotarias que a História já demonstrou falsas crenças, acredita não acabar afinal outra vítima de uma sociedade onde a força bruta substitui a inteligência, os valores éticos e a Humanidade


há um texto soberbo, no jornal Público, de Rui Tavares, com dicas interessantes para se lidar com tais parasitas

mas há de facto perigos maiores do que o demagogo (com fúria e raiva acuso o demagogo, cantou Sophia) e que são os que lhe pagam para fazer tal figura - as enormidades ainda conseguimos refutar e denunciar, mas não nos livramos dos malfeitores encobertos que o puseram lá, como o fazem através de programas televisivos adubados a boçalidade, agora com assento na casa da... democracia - já o hediondo Goebbels se gabava de ter alcançado os altares da atrocidade à custa da tolerância dos democratas...

aos actos eticamente miseráveis tem de se responder com vigilância e crítica cívica, sempre, e não apenas no futebol, mas em todos os demais sectores da sociedade: os valores humanos devem prevalecer, não pode valer tudo, oxalá o "efeito Marega" polinize a indignação, a vigilância e a crítica cívica em todos os actos eticamente miseráveis

temos todos se ser menos compassivos com a asneira, a força bruta e o preconceito que alimentam candidatos a ditadorzinhos e quem ingénua ou malevolamente os apoia

oxalá o efeito Marega perdure e floresça: a comunidade ficará a ganhar com menos boçalidade no futebol, se este e outros exemplos vacinarem mais sectores da sociedade

;_)))


ps: a propósito de uma partilha do Prof. Fernando Venâncio, com merecida vénia e o devido agradecimento








ps2
: o Ditos repara agora que a última publicação (de há meses...) também se dedicava ao crime de racismo ou a formulações nos limites da tipificação penal

ps3: infelizmente, neste género de análises e denúncias arrisca-se sempre o aproveitamento de toda e qualquer polémica e até de polemização industriada:

- basta ver os comportamentos censuráveis das operadoras de TV na insistência de imagens incendiárias nas peças relativas aos fogos, com repetições nauseabundas para dolosamente gerar espectacularidade, bem sabendo que para um pequeno proveito próprio de audiência causam um grande mal à comunidade, aplicando o modelo infame a tudo o que cheire mal, desde o concurso abjecto, "reality show" degradante, incitamento a manifestações e a extremismos, propagação de programas pseudo-desportivos de pura boçalidade e outras manhas desavergonhadamente indecorosas

- o terreno pantanoso tem sido fértil, com múltiplos episódios a enxovalhar responsáveis políticos, da comunicação social e até da justiça, famigeradamente, como a ascensão do racismo contra Joacine, da misoginia na fundamentação de decisões judiciais desvalorizadoras da censura de femicídios e violência doméstica, da incitação à violência gratuita no âmbito de várias modalidades desportivas, de agressões impunes a cânticos e símbolos nazis ou a bonecos pendurados na forca em aziago e mal agoirento incivismo

- sobrepassando para a economia (sucessivos bancos falidos fraudulentamente em custas para o contribuinte, com os mesmos responsáveis empresariais, regulatórios e governativos em impávidas funções) ou o ambiente, com persistência de decisões sem avaliação de impacto, sem consulta pública, sem suporte científico, continuando a construir-se na orla costeira como se não houvesse amanhã e não se tivesse aprendido nada ontem e nas últimas 4 ou 5 décadas, um pavor...

a esperança, porém, é a última a partir, daremos graças a denúncias de boa gente e de quem se sente, grande bem haja aos fortes exemplos de cidadania e intervenção pública, importando muito aproveitar a lição: por isso mesmo, um jametinhasBravo a Marega, pela acção corajosa, mesmo se arriscando uma sanção pelos ditames regulamentares desportivos, pela atitude subsumível como provocação ao público, em reacção aos indignos insultos racistas de que foi vítima




observações são bem vindas

obrigado ;_)))

Sem comentários: