2012-03-29

DO 25 DE ABRIL À TROIKA (2)





Imagem: “Partido”, seleccionada do livro "25 de Abril”, de 1996, de J. Rosa Guerra, obra que expressa um desânimo quando a esmagadora maioria de "os que vieram depois" se lambiam com os dinheiros europeus, festejando, em sintonia com a onda urbana pós-modernista, uma das grandes perdas do povo português: a perda do sentido colectivo e do sentido do outro.

Legendando a legenda e interpretando a ligação da imagem ao texto, J. Rosa Guerra explicita:

«a palavra “partido”, associada à foto, já não significa partido político (com a grandeza da palavra polis) para remeter para um sentido de quebra, divisão, mutilação, dificuldade em caminhar …

Todas as fotos do livro foram tiradas no dia 25 de Abril (mas de 1996) ou seja, fazem a pergunta, o que é significam hoje (em 96) os ideais de Abril de construção de um Portugal mais igualitário?

Nesta imagem (de Alcântara, mas que podia ser de um subúrbio), num olhar atento à figura, percebe-se que se trata de um jovem e popular (pela indumentária): enquanto uns “que vieram depois” festejam (estamos em 96) outros mantêm a dificuldade em seguir adiante mesmo que a sua idade lhes prometa uma “longa vida”. Naquele rapaz (ele próprio mutilado no enquadramento fotográfico), já se adivinha uma juventude agarrada a um futuro contraditório, quebrado e incerto.»

Trata-se uma generosa partilha, como um ponto de cumplicidade com a crítica aos “que vieram depois”.


O Ditos agradece a J. Rosa Guerra o labor criativo, interpretativo e crítico: triplo sinal de esperança, realismo e sentido de intervenção, tão mais necessária quanto o que se antevia em 1996 nos desabou com mais uma dose de FMI de que só nos voltaremos a livrar com lucidez, dentes e punhos cerrados, permanente apelo à memória e mangas arregaçadas para semear um futuro condigno!!!







observações são bem vindas obrigado ;_)))

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