2009-09-30

O machado de guerra


o jametinhasditos de hoje é emprestadado por eloquente amigo:


Ontem acabou o faz de conta do bom relacionamento institucional entre a Presidência da República e o Governo (anterior e futuro). Cavaco quer reforçar o poder presidencial e aproveitar as debilidades naturais de um próximo governo minoritário, e ontem marcou a sua posição.

Quanto à escolha para falar após as eleições, foi um erro de timing (dito pelo próprio PSD), pois não só prejudicou o PSD nas Legislativas, como vai ser o tema de conversa durante as autárquicas desviando as atenções dos eleitores para as várias acusações mútuas dos dirigentes partidários

Não esquecendo que depois das autárquicas seguem-se as Presidenciais, Cavaco com todo este cenário abre caminho ao Manuel Alegre (que já enterrou o machado de guerra e fumou com Sócrates o cachimbo da Paz) para que este possa vencer as próximas eleições.

Cavaco desenterrou o machado de guerra que o Alegre tinha enterrado.


K.



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2009-09-29

lei da bala


de entre inúmeros casos de violência que vão caracterizando as comunidades humanas, desde sempre, mas com repercussão crescente devido ao acesso facilitado a todas as informações, a todos os pedaços de realidade, quase a todas as sensações, assim ampliadas para além do confortável e mesmo do suportável, é já difícil encontrar justificação bastante para a perplexidade, o horror ou a pura insensatez

João Pedro Melo Ferreira, M. I. Advogado de 53 anos de idade, foi ontem surpreendido em Estarreja, no seu local de trabalho, por uma lei que não dominava, que muito provavelmente abominava e que de todo em todo não podia antecipar

fulminado pela raiva, por feridas larvares da esfera insondável da alma e pela arma cobarde em que se dissimulou o ódio irracional do seu algoz, o distinto causídico deixa ao presumível agressor um legado apreciável:

_ Manuel Pimenta, empreiteiro de 58 anos de idade, alegadamente, confesso autor dos disparos fatídicos, terá direito - jametinhamdito - a defesa, a um advogado, a ser ouvido, a um processo judicial, a uma pena de função reabilitadora, a ser alimentado e tratado, a uma vida e a uma dignidade, à companhia dos entes queridos, ao seu património, aos apoios do Estado, à sua recuperação como pessoa ...

tudo valores pelos quais terçava João Pedro Melo Ferreira, armado apenas com o saber, com o seu labor e com a lei da palavra, que terçava como forma de regulação da - por vezes muito difícil ou mesmo inviabilizada - convivência humana, de que era um pacífico artífice na filigrana armadilhada da sociedade em que vivemos


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2009-09-28

desfecho provisório

apesar de nada acrescentar a tantas e tão avisadas análises, o Ditos conclui singelamente a gloriosa jornada eleitoral e faz votos de que a próxima seja ainda melhor, lembrando que a estabilidade governativa não é um valor absoluto mas também não é reivindicável apenas aos políticos

claro que muito haveria a dizer sobre algumas teses sofisticadas, como as teorias do sacrifício de Manuela Ferreira Leite para não queimar agora o Pedro Passos Coelho (!) ou da fuga de votos do BE para o PS... (?) para justificar a expectativa defraudada do 3º lugar, que - jametinhasdito - acabou por cair para a CDS-Coop, a nova cooperativa de táxis... eh eh ...

em termos partidários e tal como era esperado, repetiu-se o resultado habitual: vitória retumbante de cada um dos partidos, incluindo o do sempiterno Garcia Pereira que atingiu os 50 mil votos requeridos para ter direito ao subsídio do Estado !

quanto aos resultados para o País, como todos os partidos acreditam que estão em crescendo e podem melhorar os respectivos resultados eleitorais, convém dar algum crédito a quem diz que depressa caminharemos para a inviabilidade governativa, na ânsia da provocação de novas eleições!
só que o azar do País era a sorte grande do Cavaco e, ao menos durante mais essa campanha eleitoral, a felicidade estaria de novo no ar
mas a grande noite eleitoral de ontem teve graça em vários aspectos:

a) o fim do cavaquismo !

apesar do perdigotos do ex-Ministro Mira Amaral a arrasar a Cruela, sua ex-Colega de cavacal Governo ... :))

b) os 21 deputados do CDS/PP são exactamente os que faltam ao PS para constituir uma coligação maioritária "à prova de Cavaco" (!)

provavelmente a troco da pasta da ... Defesa? Justiça? Trabalho? agora a sério, alguém imagina Paulo Portas Ministro de alguma coisa além da Administração Interna? aceitam-se apostas... mas para já o único lugar vago é o da Economia, e nesse muita gente nem mexia...

c) desta vez os deputados da Madeira não foram eleitos apenas pelo PSD!

parece que há 1 do PS e 1 do CDS (!!) provando que não foi só Portugal que endoidou, a Madeira também, deve ser a gripe A...JJ (!!!)

d) os barões do PSD apressados a tentar deitar borda fora, de imediato, o pesadelo da Cruela Cinzenta Leite - que foi a primeira a falar e saiu bem cedo à hora do xixi cama das avós zelosas...

enquanto o sabido António Vitorino, com ar reflexivo próprio dos pensamentos elevados e da profunda sinceridade que tanto caracteriza os políticos, saiu em defesa dela, e jametinhadito que apesar da derrota do PSD não há razão para se equacionar a substituição da liderança...

e) os 15 (!) partidos em que se alongava o boletim de voto

com vários micropartidos de que nunca se tinha ouvido falar... sendo que um deles aparece 2 vezes nas estatísticas, sozinho e em coligação com o MPT (ou será TPM? ou PMT?)

f) a radicalização do eleitorado, com a menor votação (de sempre?) nos 2 partidos do centrão

aliás, o não votar no centrão era talvez o segundo objectivo de várias campanhas partidárias, logo a seguir ao de evitar a maioria absoluta do PS, transversal a todos os partidos incluindo dentro do próprio PS, no entanto talvez o único partido que centrou a sua campanha no que se propõe fazer, em vez evitar isto ou aquilo ou do que se propõe não fazer... tal como nas europeias tinha sido o único a apresentar propostas respeitantes à ... Europa !

g) a arrelia da abstenção elevada

apesar de por toda a parte haver ruas pejadas de trânsito em torno das mesas de voto - aliás, a 5 minutos do encerramento havia carros com os 4 piscas e várias correrias frenéticas em frente a vários locais de voto...

concluindo e homenageando os resultados, parabéns a todos os portugueses, muito em especial aos (e)leitores do Ditos!!!

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2009-09-24

mântica

















Sócrates, o grego, professava: conhece-te a ti mesmo!

o que pode não ser fácil - é preciso estudo, atenção permanente, preparação para a surpresa e, difícil mesmo, exige humildade, pois eventualmente não gostaremos de tudo o que formos encontrando em nós próprios...

mas, do alto da sabedoria que o filósofo ensinava, tal era talvez a melhor forma de compreender o mundo, senão mesmo de o encarar

já Cícero, certamente pressentindo que nem sempre somos suficientes para encontrar a resposta em nós, estudou as artes divinatórias, através das quais mulheres e homens, desde que o mundo é mundo, se inquietam pelo futuro e procuram respostas para o caminho a seguir, para entender o sentido, para sentir um rumo - quandam inter homines divinationem, quam Graeci mantikh appellant...

hoje dispomos de tecnologia, sofisticada, laboratorial, para nos domínios do mundo físico e no meio social sabermos onde estamos e para onde vamos

para os grandes temas da vida pública, de ordenamento social, da convivência em comunidade, temos instituições poderosas, sistemas políticos, um aparato de órgãos de poder e de controlo, métodos e leis eleitorais, censos, a comunicação social, a participação directa ou a via representativa, os partidos políticos e movimentos cívicos, as convicções, ideologias e fé, os politólogos e comentadores de toda a espécie travestidos em novos oráculos nos templos sacralizados da televisão, rádio, jornais, internet, os consultores de imagem, os assessores para toda a obra, os palácios, campos de golf ou os restaurantes da moda, enfim, o próprio zé

e armados de semelhante aparato, cremos de 4 em 4 anos (ou de 5 em 5) contribuir para estabelecer o azimute ou mesmo para definir o rumo para o próximo porto seguro do apaziguamento social, da legitimação dos eleitos, da escolha de quem em nosso nome exercerá a nossa soberania, ao menos confiamos que temos um dedo, um gesto, uma cruzinha, na coroação de alguns dos que tornamos poderosos e a quem poderemos exigir e responsabilizar enquanto nossos mandatários

numa primeira fase, compreende-se que nos dediquemos a escolher, de entre o que se nos oferece ou ajudamos a oferecer (quando nos candidatamos ou subscrevemos programas eleitorais) exactamente o que temos como nosso fito pessoal, certos mesmo de que o nosso gosto subjectivo coincide com o interesse geral

ou seja, não olhamos a consequências, partimos para a multidão e somatório das escolhas individuais, armados das nossas certezas e confiantes, em grau variável de segurança, de que o resultado final será um bocadinho menos arriscado do que o alcançado quando todos se atiram ao bolo, cada um rema à sua vez e para seu lado ou quando de tão desfiada à toa a corda perde a fortaleza e se rompe sem apelo nem agravo

um dia chegará algum amadurecimento: convicções pessoais à parte, interessa é convergir para o interesse de todos (que bem pode não ser o de cada um) e, sobretudo, para soluções exequíveis, susceptíveis de serem defendidas por muitos, aceites por ainda mais e toleradas por quase todos, reduzindo a inevitável contestação a um mínimo aceitável - segundo a fé de que o que se consegue por consenso, sem imposição aos derrotados, é susceptível de menor oposição ou de formas menos aguerridas e destrutivas de obstrução

ou seja, o facto de abdicarmos um bocadinho da escolha que nos seria um primeiro impulso tem a contrapartida superior de podermos sentir que participamos na escolha efectiva, entramos no mundo real, em que somos capazes de aderir ao sistema de legitimação, formando compromissos

e de facto não se consegue tomar a Bastilha todos os dias... nem há Bastilhas suficientes para cada um fazer a sua revolução, aliás muitas revoluções só vingam porque arregimentam a arraia miúda, de tão contagiante a causa, o bastante para o sentir comum de um número crescente de cidadãos se agigantar ao poder e o derrubar, regra geral sem saber o que vem a seguir ou mesmo para onde se quer ir, simplesmente era a hora do "basta!"

mas o mundo não se governa com um "basta!" - é preciso semear, planear, colher, construir, edificar a confiança, que demora a conseguir mas demora ainda mais a reconstruir...

até que o amadurecimento cai de maduro e há um dia em que não nos satisfaz o consenso, o compromisso, a maioria

queremos de volta a ideia inicial de expressão dos interesses e gostos ou mesmo caprichos de cada um - até porque, somos levados a pensar, a generalidade dos eleitores tende para aceitar e procurar consensos, agora é a nossa vez de gritar, temos também o direito individual de nos abstrairmos de participar ou mesmo de participar à nossa maneira, como cada um quer, o resultado final pouco importa, afinal o que se pede à democracia é justamente a expressão das decisões de cada um

pelo que voltamos ao ideal: cada um vota de acordo com a sua consciência

e, aliás, com o voto livre, informado e secreto, é mesmo sempre assim

enfim... divagações!

na realidade, por vezes olhamos para os mapas eleitorais e para o exercício do mandato que soberanamente confiámos a quem elegemos como nossos representantes, e somos levados a achar que o efeito conseguido não foi muito melhor do que seria se, em vez da nossa escolha na origem desses resultados e mandatos, outra tivesse sido a forma de os fixar, de decidir, de escolher, em vez da democracia que nos responsabiliza e até chega a angustiar

claro está que nada, nada, nada substitui a democracia e a manifestação popular por via eleitoral, ainda que apenas de tempos a tempos

por exemplo, nas anteriores presidenciais, a escolha dos eleitores foi condicionada por um terceiro candidato, Mário Soares, interposto nos boletins por José Sócrates, quando se mostrava incerta a inclinação da maioria entre Cavaco e Alegre

a decisão foi mesmo a dos eleitores? foi, se aceitarmos que é o somatório dos votos individuais que decide quem é o Presidente eleito

mas é fácil sentir - e houve que, a tempo, o pressentisse e denunciasse - que o desenho do boletim de voto é que decidiu o inquilino de Belém, redistribuindo votos e mesmo convicções, arrasando as hipóteses de um combate igual

pior, hoje sabemos que isso não foi grande coisa, mesmo os eleitores de Cavaco já cofiaram a cabeça em tantos episódios sectários, mal amanhados e até grotescos que podemos legitimamente concluir que afinal não teria sido assim tão mau se nos tivesse sido proporcionado um confronto justo, em igualdade de armas, entre Cavaco e Alegre, sem manipulações para desunir um dos lados, afinal sempre haveria chance de uma alternativa ao que está a acontecer, com o PR que tivemos e teremos (safa...!) que gramar, embarretando não apenas o eleitorado de esquerda mas a totalidade da nação, sendo que o castigo vale por 10 anos, dificilmente será menos :<

outro exemplo, se como resultado de uma eleição - as próximas, as legislativas - nenhuma das formações em que votamos (também é método de mérito discutível, mas certo é que votamos apenas num partido político e não em escolha múltipla nem em coligações preferenciais) tiver a maioria necessária para constituir um governo estável, o partido político mais votado - vencedor? veremos! - decidir coligar-se, sem nova consulta popular e sem que a política de coligações conste de qualquer dos programas eleitorais?

cenário verosímil, senão mesmo o mais plausível ou até muito provável

e obviamente aleatório - como ninguém foi chamado a votar numa coligação - já agora, qual? - pois podemos afirmar que essa solução não foi a escolhida por nenhum dos eleitores, mas outra vez afinal por interpostos dados, marionetas, personagens, que se substituem ao povo soberano na hora da verdadeira decisão

um tal resultado será afinal tão legítimo e tão aleatório (por não pretendido... uma vez que ninguém o escolheu em consciência) como o que se obteria jogando pedrinhas ao ar, búzios, cartas, dados, lendo a bola de cristal, perguntando ao oráculo, olhando o voo dos pássaros, as doze pedras de sal, faca, papel ou tesoura, disputando uma partida desportiva, uma aposta de galos, uma luta campal, as olimpíadas, um corpo a corpo entre atléticos líderes, consultando as profetizas, ouvindo os deuses, o simples acaso, qualquer sorte - tudo é melhor e menos injusto que a mera lei do mais forte

há dias, foi ventilada uma possível coligação do PPD/PSD com o Bloco de Esquerda

qualquer destes partidos políticos abrange um leque enorme de sensibilidades, correntes, facções, num convívio (nem sempre pacífico) entre ideologias muito diferentes e, sobretudo, entre personalidades que não hesitariam em esquecer todas as diferenças ideológicas ou mesmo as próprias ideologias para ... exercer o poder, pior, para o tomar

mas dir-se-ia que estes dois partidos constituem mundos sem intersecção, pelo que quase somam o País, desde as alas mais conservadoras do PPD/PSD, às mais liberais ou às mais social-democratas (estatuto que o partido nunca atingiu, e percebe-se bem porquê) e às mais reformistas, até aos socialismos mais ou menos moderados do Bloco de Esquerda e por aí adiante de trotsquistas, comunistas revolucionários, leninistas e sabe-se lá que mais, enfim, todo o resquício de PSR (ainda existe? onde foi publicada a extinção? o líder continua a ser Francisco Louçã, que assim dirige dois partidos políticos?), UDP e vários outros partidos que antigamente enchiam de siglas os extensos boletins eleitorais - ao menos para a purga de símbolos ininteligíveis terá serventia o BE, além, é claro, de dividir os votos à esquerda na tentativa de Sísifo de oferecer o poder à direita

a propósito de o BE servir apenas para dar o poder à direita, jametinhamdito que só a equação, como resultante das eleições, de uma coligação PPD/PSD com o Bloco é a prova provada da teoria da aleatoriedade dos resultados do voto popular

só é pena ser tão perigoso para a governabilidade do País

mas para quem quiser tentar, é só votar conforme bem calhar

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ps - votem bem (apesar da tira do Quino suscitar alguma perplexidade a acrescer à nossa reflexão)



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2009-09-23

aprender, sempre!

jametinhasdiálogo de avó e neto a propósito de filmes legendados:

_é melhor ver outro filme porque este é com legendas e tu ainda não sabes ler
_mas eu percebo tudo porque sei inglês
_então o que é sabes dizer em inglês?
_eu sei as cores
_diz lá quais são
_amarelo
_mas em inglês
_... só amarelo é que não me lembro
_yelow
_yelow, agora é que não me vou esquecer
_e mais cores?
_avó, escreve as cores no meu caderno com a letra assim para eu aprender inglês quando souber ler



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2009-09-18

2009-09-17

7 saias

abate-se uma tristeza funda: 7 miúdas perderam a vida em mais um acidente rodoviário demasiado estúpido para ser entendido

é tão difícil de entender que as notícias aparecem confusas, parecem misturar os factos, gerando inúmeros comentários contraditórios, desinformados, parvos

as vítimas mortais eram alunas de um curso de formação profissional, terminaram as aulas e iam a caminho de almoçar

deslocavam-se numa viatura comercial, de 2 lugares, na caixa de mercadorias iam 5 das raparigas, facto incompreensível enquanto fruto da decisão de 7 estudantes ao nível do 12º ano, informadas e capazes de pensar

mas agiram sem cuidado algum com a sua própria segurança, com a de terceiros, com a dor inimaginável dos seus entes queridos e a perplexidade de todos

um acidente é sempre resultado de uma acumulação de factores desfavoráveis e numa tragédia como esta a dimensão dos danos ultrapassa em muito o nível de riscos admissíveis

regra da gestão de risco é admitir à partida que podemos perder tudo, mas o certo é que conduzimos as nossas vidas gerindo riscos, pequenos, grandes ou desconhecidos, sendo que a medida de risco aceitável (que estamos dispostos a correr ou que julgamos ser capazes de gerir) depende muito do bom senso, da informação disponível e da vontade de actuar dentro dos limites do razoável

a legislação de matérias rodoviárias está recheada de avisos, recomendações e sanções, algumas bem pesadas, aplicáveis a condutores, fabricantes, proprietários, oficinas e vendedores de automóveis - mas a quem concebe, autoriza, constrói, fiscaliza, repara uma estrada é mais difícil responsabilizar

na realidade, ninguém tem a culpa toda - o que é bem diferente de ninguém ter culpa nenhuma - e não há notícia de alguém ter ido preso por ter feito uma estrada armadilhada com uma curva perigosa, até porque ou a antiguidade da estrada se perde nos confins dos tempos e os autores não são já responsabilizáveis ou a estrada é nova e veio melhorar (tornar menos perigosa) a que existia...

as declarações ouvidas ontem, face às duras críticas sobre a via onde ocorreu tão fatídico acidente e se repetem vários outros, são muito elucidativas: conscientes do perigo provocado pelo mau traçado da estrada, jametinhamdito que "está adjudicada uma rotunda" e que "se tem investido em sinalização"

ora, o condicionamento da velocidade (causa de muitos acidentes mas, sobretudo, na origem da extensão e do agravamento dos danos) e os avisos de perigo são importantes mas o principal é a eliminação dos factores de risco

a má concepção e a má construção do traçado das vias, a falta de bermas seguras, as curvas abruptas, as indicações "em cima", os cruzamentos nivelados, as faixas sem separação, a inclinação do piso, a falta de visibilidade da via, etc.

também a poder de "avisos" se desculpam os responsáveis da REFER apesar da repetição absurda de acidentes em cruzamentos de estradas com a via férrea, em passagens de nível que subsistem e persistem e perseguem vidas numa perda absurda de tão inútil e cada vez mais estúpida

bem assim nos casos de queda de falésias que vitimam veraneantes e pescadores, quando o acesso deveria ser interditado, fisicamente impossibilitado, e não apenas objecto de serôdios avisos de perigo

até quando nos sujeitamos a este quadro mental de subdesenvolvimento que nos dispensa de exigir, exigir, exigir, a começar por nós próprios ?


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2009-09-10

nebuloso golo de ouro

o Ditos muito apreciaria confirmar a veracidade deste artigo mas o Jornal do Sporting não parece estar em linha e deve ser pago...!

tal como recebida via reenvio de correio electrónico, cá vai a história, edificante, em entrevista ao português que inventou a figura do QUARTO ÁRBITRO e na qualidade de profissional «apanha-bolas» ao serviço do Futebol Clube do Porto marcou um golo nebuloso de ... fora do campo !!

é um jametinhasdito dourado !!!

"Meti a bola lá dentro e pirei-me para trás do bandeirinha"

Muitos ainda escrevem que o golo foi «limpo», alguns acreditam nisso. Quase 35 anos depois, o verdadeiro autor do golo do nevoeiro, num célebre FC Porto-Sporting, José Maria Ferreira de Matos, explicou ao jornal Sporting como tudo aconteceu naquela tarde de nevoeiro. Actualmente a trabalhar em Lisboa, o ex-apanha-bolas da formação «azul e branca» e árbitro amador, mostrou-se arrependido pelo seu acto irreflectido.


JORNAL SPORTING – De que se lembra desse dia?

JOSÉ MARIA FERREIRA DE MATOS – Lembro-me do intenso nevoeiro que estava. Antes do jogo, o «chefe» dos apanha-bolas, o Valter Leitão, distribuiu-nos pelo campo e mandou-me para trás da baliza. Recordo-me que o Sporting começou a ganhar. Na segunda parte, a vantagem continuava do Sporting, mas nunca pensei em fazer o que acabaria por fazer. Eu era conhecido pelas asneiras que fazia, mas também nunca ninguém pensou que fizesse o que fiz.


– Como foi o lance?

– Não sei bem como a bola chegou a mim, mas sei que ela veio ter comigo e vi o Gomes a pôr as mãos na cabeça. Sem pensar, dei uns passos e fui até ao canto da baliza, meti a bola lá dentro e fugi para o mais longe possível. Então, vejo o Damas a ralhar comigo, mas eu pirei-me para trás do ‘bandeirinha’; ele já tinha a bandeirola no ar a assinalar o golo. Foi quando os jogadores do Sporting correram para o árbitro, a reclamar. Aí o juiz, que julgo não ter visto bem o lance, começou a mostrar cartões.


– Porque razão meteu a bola na baliza?

– Foi tudo muito rápido. O FC Porto estava a perder, a bola estava na minha mão e então pensei: vou metê-la lá para dentro e vou-me pirar. Foi um daqueles momentos em que se faz, ou não se faz; optei por fazer e já não da
va para voltar atrás. Aconteceu numa fracção de segundo.

– Depois de meter o golo, o que pensou?

– Eu só queria que não me «topassem». Felizmente, ou infelizmente, o árbitro marcou e eu saí impune. Tenho pena do Damas, que não teve culpa nenhuma e sofreu um golo ilegal.


– E se visse o árbitro desse encontro?

– Não sei… Gostava de estar com ele para lhe confessar que fui mesmo eu a marcar o golo e não o Gomes. Eu tenho quase a certeza de que ele não conseguiu ver o lance como realmente aconteceu, pois estava um nevoeiro muito intenso. Também gostava de falar com o fiscal de linha; foi ele quem assinalou o golo e foi para trás dele que eu «fugi» depois de fazer o que fiz.


– Acha mesmo que o árbitro não viu nada?

– Julgo que não. Tenho ideia de ver o fiscal de linha levantar a bandeirola e validar o golo do FC Porto. Depois, lembro-me de ver o Damas e outros jogadores a correrem para o árbitro e sei que houve cartões mostrados. Nessa altura, já eu estava «escondido» atrás do fiscal. Só aí é que percebi o que tinha feito, mas pensei,"já está, já está!" Não havia nada que eu pudesse fazer.


"O Gomes disse-me que tinha marcado o golo"

– Alguma vez falou com o Fernando Gomes sobre a autoria do golo?

– Sim, uns anos depois encontrei-o num Centro Comercial do Porto. Perguntei-lhe, sem ele saber quem eu era, se tinha sido ele a marcar o golo; ele disse que sim e cada um seguiu o seu caminho. Mas acontece a mesma coisa quando o jogador mete a bola com a mão; se lhe perguntarem, ele dirá, quase sempre, que foi com a cabeça. Neste caso, eu sei que não foi o Gomes que a meteu. Digo-lhe isso nos olhos dele, ou nos olhos de quem quer que seja.


"Muito aliviado"

– Como se sente, agora que «confessou» o seu «feito» ao nosso jornal?

– Muito aliviado. Muito mesmo. Era uma coisa que eu tinha de contar mais cedo ou mais tarde. Queria ter falado com o Damas, mas não consegui. Agora, fica a faltar falar com o sr. Alder Dante e com o presidente do Sporting. Quero agradecer ainda a oportunidade que o jornal ‘Sporting’ me deu, ao poder de ter entrado no Estádio José Alvalade. Quando pisei o relvado, senti um calafrio; as minhas mãos e as minhas pernas tremeram como há muito não tremiam.
– Não tem receio de ter contado a história desse golo?
– Não. Eu sou um homem correcto. Quando as pessoas quiserem, que me procurem. A falar é que as pessoas se entendem.


"Gostava de ter pedido desculpa ao Damas"

– Nunca pensou falar com Victor Damas?

– Sempre tive o desejo de ir ter com ele. Tentei, várias vezes, mas nunca o consegui apanhar. Na altura, cheguei a vir do Porto a Alvalade, mas nunca tive a oportunidade de o encontrar. Não era fácil falar com ele, pois um humilde apanha-bolas não chega facilmente à fala com um jogador, para mais sem conhecer ninguém do Sporting. É das coisas que me dá mais pena. Era um sonho falar com ele. Nunca me esquecerei do Damas; pelo guarda-redes que foi e por nunca ter conseguido falar com ele. Sempre que via jogos do Sporting, em que o Damas participava, pensava sempre na malfeita bola do nevoeiro.


– O que lhe diria se o tivesse chegado a encontrar?

– Dizia o que lhe disse hoje e, com toda a certeza, pedir-lhe-ia muitas desculpas.




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2009-09-09

09/09/09

engraçado... !

mas a peculiaridade repete-se a cada 100 anos, nada de verdadeiramente extraordinário !!

mesmo assim, jametinhasdito ó triplo nove, eh eh !!!

só por graça (e não só por graça, pois bem) espreitou o Ditos à data anterior: 9 de Setembro de 1909

e já que tratamos de peculiaridades, apresente-se um tal de Francisco Ferrer y Guardia, professor, pedagogo revolucionário e republicano

de ideais racionalistas, improváveis circunstâncias de uma herança deixada por uma ex-aluna permitiram-lhe concretizar o seu projecto de criação de uma escola moderna, em cujo programa constavam, por exemplo, a co-educação de alunos de ambos os sexos, a co-educação de alunos de diferentes classes sociais, a renovação da escola, a abolição dos exames finais, o laicismo, a aposta nas bibliotecas, o amplo acesso ao ensino universitário... ideias que influenciaram intelectuais e políticos de muitos outros países, Portugal incluído, tendo sido instituídas diversas "escolas modernas", inspiradas nos seus ideiais pedagógicos e de construção de uma sociedade constituída por pessoas instruídas, livres e sem preconceitos

envolvido em conspirações republicanas, por que foi preso e expropriado, acabou por ser libertado e restituído dos seus bens, tendo-se exilado e viajado, ensinado em Paris e na Austrália

regressado à sua Catalunha natal, foi novamente detido (na sequência de tumúltos a propósito da guerra entre Espanha e Marrocos) e seria depois julgado e no mesmo dia condenado em tribunal de guerra, tendo sido executado em Barcelona, em Outubro de 1909

as condições em que foi perseguido e falsamente acusado, sem oportunidade de defesa efectiva e de um julgamento justo, causaram comoção, contestação e reacções a nível internacional e também no nosso País

no dia 09/09/09 (9 de Setembro de 1909) realizou-se em Coimbra um comício a favor da libertação de Francisco Ferrer y Guardia, sob a égide dos movimentos republicanos que então inspiravam parte da sociedade portuguesa

nos dias imediatos houve manifestações em Lisboa pelo mesmo motivo - cerca de um ano antes, portanto, da implantação da República em Portugal

um século depois repete-se... a terminação do triplo nove na data

engraçado... e é tudo !!!








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2009-09-07

letras plásticas




















de um colorido imaginativo e imaginatório, a um tempo formal e informal, a pintura de João Vieira cativa pelo que exprime, pelo que insinua, pelo que deixa entrever, pelo que ensina, pelo que desafia, pelo que faz imaginar e... pelo que faz agir !

sim, convocadas as letras para a tela, logo se parte para a dedução, para a (re)composição ou até para a adivinhação, mesmo se o alfabeto pintado se espraia explícito diante dos olhos, do olhar e dos olhares dos apreciadores, mais ou menos contagiados mas nunca meros contempladores

umas poucas letras enchem uma tela de cor, alegria, afecto e com essas letras lê-se, ama-se, dança-se

se a composição convoca a música ou a dança, há música no ar ou dança no chão, passa a corrente e caso é que uns passos de dança se esboçam, ensaiam ou pensam, percorrendo os ditos passos o chão feito professor de dança, qualquer par o entende ou pressente ou quer ser par, corre a dança pelo ar...

com João Vieira o quadro (e o seu contexto, a intervenção plástica toca o espaço, a instalação, o lugar) é susceptível de gerar movimento - há tudo a fazer

e num labirinto? suspensas telas e letras e sílabas e palavras e cores e texturas e encontros sobre reencontros numa visita activa e participativa mas sobretudo comunicativa, que nos deixa suspensos da comunicação: há comunicação na pintura de João Vieira e essa comunicação transmite-se aos visitantes por artes simples

arte simples e forte, como só os Mestres !

por isso, jametinhamdito: João Vieira permanece !!

coloridamente !!!









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2009-09-04

TVI, à 6ª

pois a historieta à volta da TVI dificilmente convence:

1º - o jornal da 6ª-feira na TVI era francamente deplorável, a julgar pelo muito que se leu na imprensa e na blogosfera, bem como por 3 ou 4 trechos directamente vistos, sendo que num deles estava o Bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, a desancar forte e feio na apresentadora que ficou pasma e (ainda mais) boquiaberta além de avermelhada e a balbuciar de envergonhada

no caso de acabar o grotesco telejornal e se tal for, como se quer fazer crer, atribuível ao Governo (mas como???) então aleluia, jametinhamdito e é dos poucos factores favoráveis à difícil campanha eleitoral do partido no Governo, na medida em que cumpriu sem ter sequer prometido!

2º - o mito que se tenta construir de que fica seja o que for por noticiar (derivados do caso "Freeport", ao que se insinua, como aliás tem sido hábito por ocasião de campanhas eleitorais) só pega em empedernidas mentes cépticas pois obviamente qualquer matéria noticiosa, a existir, aparece antes de um fósforo na blogosfera, num jornal qualquer (assuntos destes são aliás mais apropriados para um jornal que queira correr o risco de se transformar num jornal qualquer...) ou em toda a estação de TV, seja I, J, enfim, o abecedário inteiro ou mesmo, jametinhamdito, noutra carta "anónima" encomendada por alguma alma arreliada e de mal com o mundo inteiro de que aliás o mundo inteiro está cheio, inferno incluído!!

apetece concluir: e se esse tipo de jornalismo fosse ou bugiar ou começar a aprender a profissão?

3º - é o Governo que anda a tramar a TVI ? e então como explicar a vertiginosa subida de uns gordos 8% da cotação das acções da Impresa, empresa da SIC/Expresso, privada e concorrente da TVI ?

jametinhamdito!!!

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2009-09-03

maçãs


«No início, Eva não queria morder a maçã.

Após exaustivos estudos, descobriram o motivo por que acabou por mordê-la ...

- Morde - disse a serpente - e serás como os anjos!
- Não - respondeu Eva.
- Terás o conhecimento do Bem e do Mal - insistiu a víbora.
- Não!
- Serás imortal.
- Não!
- Serás como Deus!
- Não, e não!
A serpente já estava desesperada e não sabia o que fazer para que a Eva mordesse a maçã...

Até que teve uma idéia.
Ofereceu-lhe novamente a fruta e disse:
- Morde...que emagrece...»


gracejos à parte, e agradecendo à internet e à simpatia do envio electrónico, certo é que as maçãs gozam de excelente reputação, ancestral, mesmo antes da institucionalização da máxima "An apple a day keeps the doctor away" !

mas será de tomar o todo pela parte? será que todas as maçãs fazem igualmente bem? ou todos os frutos?

a fruta, em geral, faz bem - desde logo por ser alimentícia, em tantos casos energética e, em muitos, saborosa, ou seja, prazenteira

um dos trunfos está obviamente na variedade, outro na adaptação local - aceitando que estamos melhor preparados e extraímos maior benefício seguindo a dieta da região a que pertencemos

mas o conhecimento ancestral e empírico é um extraordinário campo de pesquisa para a ciência, que modernamente se preocupa em confirmar ou infirmar as práticas e crenças adquiridas e transmitidas de geração em geração

assim, um magnífico estudo universitário (Cornell, Estados Unidos da América do Norte, fundada em 1865) publicado na Nature de Junho vem confirmar as excelentes propriedades antioxidantes presentes na polpa e na casca (geralmente o sumo de maçã contém casca) das maçãs

onde é que já vimos este filme?

em rigor, a novidade é que tais elementos benéficos estão não apenas na vitamina C das maças mas sim nos (!) respectivos flavanoides e polifenóis, geralmente (!!) conhecidos como fitoquímicos ou fitonutrientes (!!!) mais ... mais o belo do beta-caroteno, muito nosso conhecido das cenouras e de umas excelsas algas que se desenvolvem na flor de sal

alguns cépticos jametinhamdito que este tipo de estudos são "fomentados" pelos produtores ou pelas autoridades de certas regiões frutíferas - se a palavra não existe, aqui fica a proposta, que pede meças a "auríferas" e "petrolíferas", pois então

seja como for, o Ditos atesta a maior credibilidade - com base num estudo rigoroso desenvolvido ao longo da relação de toda uma vida, et pour cause, com a maçã bravo esmolfe - a brilhante estudo realizado pela magnífica Universidade (da Cova) da Beira Interior e noticiado, há tempos e para os ouvintes mais atentos, pela Rádio da Cova da Beira

efectivamente, a conclusão é a superioridade da nossa Universidade, do nosso estudo e... da nossa bravo esmolfe

na realidade cientificamente comprovada, a cheirosa da bravo esmolfe previne doenças cardiovasculares e alguns cancros - é obra !

além, claro, de ser uma saborosa maçã, a pedir uma dentada ...

e neste caso, a Eva representa, não apenas metade mas toda a humanidade !!

ou seja, o caso é de tomar a parte pelo todo !!!







observações são bem vindas
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