2009-03-01

continuação!

é despedida à moda do Porto, cumprimento abrangente, contido e económico mas, jametinhamdito!!...talvez mesmo um sensaborão economicismo tripeiro!!!

de despedidas temos sortido farto: além do bom dia, boa tarde e boa noite da ordem, há até já, até à vista, até breve, adeus, vá, xau (de ciao; e retornadologismo, como bué = muito, coche = um pequeno pedaço, cena = objecto, ...), bye, ou bye bye, até mais (português do Brasil), venga (castelhano mas também portunhol raiano), até, inté, té, até à próxima (muitas vezes complementado com o tradicional "se não for antes"), até daqui a (um) bocadinho, até depois, depois falamos, vemo-nos depois, amanhã continuamos, até amanhã e até para a semana - mesmo que nada esteja aprazado para amanhã nem para a semana pois a recorrente preposição limitativa ou concomitante serve a tudo, sozinha ou acompanhada, non sense, humor e ironia inclusive, como no 'até ao meu regresso' atirado por quem fica ou ainda em casos de prazo indefinido ou indefinível, como no terrível e temível 'até sempre', quantas vezes ditado em situações sem reencontro previsível ou mesmo de irreversível ou póstuma despedida

mas frequentemente acalentamos o ocaso como alguma forma de personalização, mais ou menos estereotipada: salve, as melhoras, depois dê (ou dou) notícias, diga alguma coisa, apareça mais vezes, volte sempre, a casa é sua, já sabe o caminho, venha quando quiser, estamos por cá, bata ao ferrolho, gostei de o ver, muito gosto, vamos falando, manda postais, mais logo tens mail, a ver se telefonas, me liga, viu?, entre outras expressões habituais e para não entrar em regionalismos curiosos, ora estranhos, ora saborosos... - tem avondo, eh eh ...

já se o interlocutor é próximo, como se foi intenso ou significativo o momento que antecedeu a despedida, cai bem acrescentar a formulação de um voto: saúde, o melhor êxito, muitos sucessos - e por aí adiante...

mas também para homenagear os sucessos anteriores ou a autoestima do interlocutor, é caso de desejar continuação dos êxitos, sucessos e prosperidades

ou tão só continuação de boa disposição, continuação de boa saúde, continuação de boa festa (vernissage, recepção, inauguração, etc.) ou continuação de bom trabalho, continuação de boa colheita, continuação de boa viagem, continuação de boa vida, enfim, continuação seja do que for... espera-se que de bom!

então entra, de vento norte, a poupança padronizada: "continuação"

apenas ... e é tudo!

serve para qualquer situação, tenha ou não havido sucesso, saúde ou boa disposição

e evita equívocos e complicações, pois fica à interpretação de cada um - qualquer que seja o ponto de vista, estejam como estiverem, continuem como estão

naturalmente que alfacinhas ou mouros em geral poderão encarar a sintética assertividade portista com alguma perplexidade - 'continuação' de quê!?

mas despedida é despedida e a interrogação autoencaminha-se aos próprios botões, de toda a forma já o cimbalista vai de abalada, que se faz tarde

e por falar nisso...

Bis

digo, a tout a l'heure :)))





observações são bem vindas
;->>>

3 comentários:

Anónimo disse...

Há despedidas que permanecem:
"Obrigada e ainda bem que vieram"!

Anónimo disse...

O "continuação" é bem caçado, António!

Houve uma brincadeira do O'Neill que me veio à memória. Ele chamou-lhe "Já". É assim:
Eu queria um jázinho
que fosse
Aquijá
Tuoje aquijá.

Portanto, juntemos o "até jázinho!" à sua enorme lista.

Ingenuamente, quando uso o "continuação" ainda digo "de boas melhoras" ou coisa que o valha. A verdade é que a redução da expressão do desejo para a simples palavra "Continuação!" acaba por alargar o âmbito dos votos. Isso é interessante! Deixa-se à pessoa a quem são endereçados os votos a possibilidade de imaginar tudo o que caiba dentro dessa continuação, que pode de facto ser muito.
Não sei bem porquê,António, este "Continuação" decepado faz-me lembrar aqueles indivíduos que, num telefonema, a certa altura já não suportam a pessoa que está do outro lado. Então, puxando de toda a sua adrenalina, começam entusiasmados a falar de um assunto, tendo depois, no meio do seu maior entusiasmo, a calma suficiente para carregar na tecla que põe fim à chamada. Quem é que vai supor que alguém que falava tão excitadamente ia cortar a sua própria fala?!
Descontinuação!

argumentonio disse...

anónimo «jmco»: ena! essa de instilar o clímax antes de desligar é arte maior... fico jazinho a pesquisar se alguma vez me terá sucedido, eh eh ... pelo contrário, ja me acusaram de ficar sem rede, talvez sem completa noção da eminente literalidade !?

mafY: despedidas assim ficam no coração?!