na edição do «Público» de sábado, 29, há uma saudável esquizofrenia que em imprensa se chama exercício de pluralismo, sobre as mentiras na origem da guerra do Iraque, ainda em curso
José Pacheco Pereira, historiador, político e activista partidário, vitimando-se na defensiva, parte de uma chicana para com o leitor sobre as várias mentiras, classificando-as em boas e más e optando por umas delas, afirma que no caso da forçada legitimação da guerra pelos seus responsáveis políticos, Bush e Blair, embora esquecendo outros, afinal não há mentira – era mesmo genuína convicção, tanto que foi com a maior surpresa que verificaram, por fim, que não havia as invocadas armas de destruição maciça nem a alegada ligação às organizações terroristas; escreve ainda que prova dessa boa fé (ausência de dolo) resulta de os ditos responsáveis não terem cuidado de inventar “uns bidões num armazém, umas ampolas biológicas nalgum sítio. [ ... ] Seria aliás quase impossível de verificar se era verdade ou não”; e conclui - pressupondo embora o completo esquecimento das inúmeras tentativas de forjar provas, corromper relatores, ignorar avisos e dúvidas mais um mundo imenso de protestos - que só a posteriori foi possível verificar o engano
Francisco Teixeira da Mota, advogado, segue outra via: o elenco dos factos, naturalmente muito abreviado, deixando à clara luz os inúmeros discursos e actos oficiais em que se afirmavam certezas absolutas, ameaças incríveis, perigos demolidores, segundo os quais os ditos responsáveis repetiam dispor de provas inquestionáveis (que nunca mostraram, et pour cause...) da devastação eminente; factos invocados, sai com uma conclusão bem mais humilde: parece, afirma, que o arrolar de tais mentiras indicam “que estamos perante um criminoso erro histórico”
as diferenças de opinião são obviamente saudáveis e enriquecedoras, revelando que a mesma realidade pode (e deve) ser vista sob vários ângulos, para nos proporcionar a sua melhor compreensão e, se for o caso, julgamento
mas jametinhamdito que as técnicas de retórica e os factos, a argumentação política e as linhas de raciocínio, as certezas e as cautelas, a arrogância e a humildade, ficam também expostas à transparência nestas duas formulações, de tão conceituados cronistas e em tão bem elaborados artigos de opinião
pois ficam ?
observacões são bem-vindas
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1 comentário:
Como eu já disse no azweblog, o Pacheco Pereira pretende - e já não é a primeira vez - limpar-se perante o público das barbaridades que disse. É um puro exercício de retórica que só enrola quem quer ser enrolado e quem não tenha um mínimo de sentido crítico.
Infelizmente para todos nós, o importante não é saber se o JPP tem razão ou não: é constatar que milhares e milhares de iraquianos foram mortos ou para lá estão, mutilados; que pelo menos quatro mil militares americanos morreram, e mais uns tantos de outras nacionalidades; que o preço do petróleo se agravou fortemente devido ao conturbado Médio Oriente e que com isso arrastou o preço de outras matérias primas, o que prejudica fortemente as populações mais desfavorecidas de várias partes do globo. Muito mais, em cadeia, haveria para lastimar.
Em face de tudo isto, quero que o Pacheco Pereira tenha muitos meninos! Já agora, sobre o mesmo assunto, que ele partilhe depois os seus meninos com o José Manuel Fernandes, que não perde uma oportunidade - pode suspeitar-se porquê - de defender os americanos de Bush.
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