estafado está o brocardo: se o mal é juventude, passa com o tempo!
ainda assim, continua a ouvir-se a acobardada atoarda: veja bem, nada contra si, o problema é da sua juventude...
sim, sim, é caso para dizer: jámetinhasdito!
nem sempre se pode dizê-lo em voz alta, piedosamente...
em temos idos, cortavam-se as pernas a quem tentava estudar, aperfeiçoar-se e contribuir para o aperfeiçoamento da sociedade, apesar de a pouco e pouco haver leis instituindo alguma protecção formal ao progresso individual, à formação, ao estímulo à habilitação académica e profissional
hoje parece vencida a luta, adquirido que está em qualquer discurso político ou empresarial, exaltando a imprescindibilidade da aposta no conhecimento, na formação contínua, na qualificação das pessoas como via indispensável à semente de uma sociedade melhor, mais digna, mais humanizada e mais feliz
é assim, na retórica política nacional (assim se elegem governos e presidentes, sendo que quase todos os candidatos afloram ou reclamam o tema como central nos seus programas) e nas modernas teorias de gestão, nos manuais de conduta e de organização, nos manifestos de mudança, nos curriculos académicos, há mesmo pos-graduações e MBAs da coisa
no entanto a prática tem um longo caminho a percorrer
alguns jovens, mesmo que já amadurecidos pela vida, que acelera as idades, não tiveram direito ao cartão jovem, ainda não o havia... e correm o risco de já não ter direito à reforma quando chegar a vez, por então já não existir sustentabilidade que continue a assegurá-la
esta geração está no limbo, fase intermédia, está a chegar ao poder, aos cargos de responsabilidade, tendo carregado parceiros às costas, jovens uns, menos jovens outros, jogando por vezes apenas com metade da equipa, com o sentido do dever cumprido, com a adolescência condensada pelos intensos anos do 25 de Abril, com uma participação esforçada na vida das empresas, das profissões liberais, na vida cívica, na dinamização cultural
é a geração dos trabalhadores estudantes, que forçaram a vida a pulso, no tempo anterior aos subsídios, do voluntarismo abnegado, sacrificando a esfera pessoal e familiar de uma fase importante da vida, pagando do próprio bolso os respectivos estudos, pagando o preço que a injustiça comparativa lhes impôs nas empresas, nos partidos, no acesso a lugares, era o tempo dos concursos públicos na aceçpção autêntica da expressão, com prestação de provas públicas
é a geração que permitiu a recuperação de parte do atraso a que as gerações mais velhas antecedentes tentaram e em grande medida conseguiram condenar Portugal
é a geração que qualificou Portugal para o desígnio europeu, para o desígnio universalista que a pátria da língua portuguesa tem por destino, em paz e harmonia com os povos que ajudou a conscencializar e a reivindicar o seu lugar no mundo, a começar pelo seu próprio lugar
é a geração que pouco fez por si e que aceitou o risco do altruísmo, nada podendo agora reclamar, no mundo onde tantos outros reclamam sem olhar a méritos alheios, sem capacidade de reconhecimento do novo tempo que já chegou, do futuro que é já presente porque a tal geração intermédia a construiu no passado recente
e só há uma rota possível: continuar a acreditar, a contribuir e labutar no mesmo sentido de combater a adversidade, do espírito anquilosado e autoritário que subsiste na herança genética das ditas gerações antecedentes, que nunca aceitaram senão cinicamente o advento dos novos ventos que o 25 de Abril ofereceu ao tempo, a todas as gerações, a Portugal em geral
há pois percurso a cumprir
só resta persistir
observacoes sao bem vindas
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1 comentário:
O nosso comum amigo J. Miguel A.S. deu-me o endereço do seu blog e aqui me tem a retribuir a sua sempre agradável e bem fundamentada colaboração no azweblog.
Li o seu texto sobre a Juventude e concordo com muito do que lá está. Como sempre, encontro um espírito positivo e inegavelmente construtivo, o que é óptimo. Ele é, em si, sinal de juventude e de coração animado de esperança.
Frases clássicas, como a que um francês um dia nos trouxe: "Ah, se a juventude soubesse! Oh, se a velhice pudesse!" são sempre interessantes e acabam por ter uma boa dose de verdade.
Concordo consigo que, no geral, a fase da juventude é extremamente generosa e abnegada. Injustamente, vê-se por vezes produto de lockout por parte dos bem-instalados na vida.
Entretanto, gostava que me definisse um pouco melhor os parâmetros desta juventude a que se refere no contexto nacional. Entre que idades estará agora, mais ou menos?
Um abraço, com a promessa de vir bater-lhe à porta com alguma regularidade.
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