Jametinhamdito que se vai tornando politicamente incorrecto mencionar os obsoletos acontecimentos e efeitos do 25 de Abril, por memória de 1974
Por isso, ó deixa cá assinalar a efeméride do 3 de Fevereiro, dos idos de 1927!
Nem mais, o dia de hoje – data do significativo movimento que opôs resistência a Gomes da Costa e à ditadura instaurada a 28 de Maio de 1926...
Em Janeiro de 1927 haviam já borbotado corajosos embora pontuais e prematuros actos de rebelião mas o pronunciamento que em 3 de Fevereiro de 1927 eclodiu no Porto foi uma, senão a única, revolta militar que verdadeiramente ameaçou a ditadura.
O movimento acabou por fracassar, como o provam as décadas seguintes de regime ditatorial com que o nosso Portugal foi ensombrado, precisamente até à revolução de 25 de Abril de 1974 instaurar a democracia.
As responsabilidades da rebelião de 3 de Fevereiro de 1927 foram assumidas pelo General Adalberto Gastão de Sousa Dias.
Personalidade heróica da República, Sousa Dias era reconhecido como homem de bem, deputado e civilista convicto.
Mas também como militar valoroso, titular de elevadas condecorações: em 1920 com o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Avis, em 1923 com o grau de Comendador da Ordem Militar de Cristo e em 1924 com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant’Iago de Espada, entre outras.
Por feitos exemplares, como a oposição ao golpe militar de Sidónio Paes, ao “movimento das espadas” que em 1915 esteve na origem da primeira ditadura do republicanismo na qual governou Pimenta de Castro ou à “Monarquia do Norte”, de 1919, que ajudou a derrotar pondo termo à tentativa de restauração do regime monárquico em Portugal, tal como já tinha participado na revolta republicana do “31 de Janeiro”, em 1891.
As derrotas dos movimentos revolucionários criaram inúmeros exilados, tendo sido constituído um importante movimento cívico, a “Liga de Paris” ou “Liga de Defesa da República”, com papel activo na preparação de outras revoltas, infelizmente mal sucedidas. Também a via civil e política ficou longe de concretizar a mudança para a democracia, apesar das destemidas candidaturas de Norton de Matos, Quintão de Meireles e Humberto Delgado à Presidência da República.
O nosso General Sousa Dias liderou outras tentativas - como a “Revolta das Ilhas”, que comandou a partir da Madeira, onde lhe fora fixada residência - de derrube da ditadura instaurada em 28 de Maio de 1926, cuja resistência, aliás, liderou enquanto foi possível face à superioridade numérica e de meios do levantamento de 28 de Maio.
Foi aliás dos poucos militares a resistir então...
Como pena, decretada em “julgamento especial”, sofreu o degredo em São Tomé e em Cabo Verde, foram então criados campos de concentração em diversas colónias.
Veio a falecer no Mindelo, na Ilha de São Vicente, às mãos do regime ditatorial que combateu, fiel aos seus ideais democráticos e à sua estatura moral, vítima da sua coerência, dignidade e civilismo republicano.
Os seus restos mortais foram trazidos em segredo para a Metrópole, para a cidade da Guarda, onde antes se estabelecera com a sua Família.
A título póstumo, em 1977 foi reabilitado na sua carreira e na sua dignidade militar. E em 1980 foi condecorado com o grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade.
Bateu-se toda a vida contra a ditadura e pela democracia em Portugal e pagou com o preço da liberdade, dos maiores suplícios e, por fim, da própria vida – para quem acha que a vida de hoje é difícil... e que não vale a pena lembrar o passado...
Por mais politicamente incorrecto, certo é que se o 3 de Fevereiro de Sousa Dias tem vingado, talvez Portugal tivesse poupado 47 anos de pesadelo...
Sousa Dias nasceu em Chaves, em 1865, fez 140 anos no passado dia 31 de Dezembro.
observacoes sao bem vindas
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