à semelhança de outras empresas mas de modo mais noticiado, um grande banco anunciou drástica medida: acabar internamente com o tratamento pelo título académico, engenheiro, doutor, professor
a coisa sempre teve contornos curiosos, os bacharéis e os mestres tinham insuficiente ou excessivo reconhecimento face ao respectivo título, a formação profissional, técnica e comportamental, amplificou as fontes de aquisição de conhecimentos, competências e valências, a própria experiência é hoje passível de certificação, as post (eh eh) graduações, os MBA,E,I,O,Us enchiam já os curriculum vitae
recentemente, a informalização ganhou valor próprio e mesmo o primeiro nome, senão um afectuoso diminutivo, substituem amiúde a excelência de mui excelsos e académicos graus
os exemplos de fora chegam em catadupa, trazidos por que nos visita em conferência ou nas reuniões da internacionalização política e empresarial a que o 25 de Abril nos abriu portas nos idos de 1974
por falar em abrir portas, a generalização do acesso ao ensino, passados que estão já os testemunhos para a novas gerações, extinguiu de vez o conceito e a permilagem do senhor doutor acima da plebe: praticamente todos os portugueses podem hoje concluir um dos inúmeros cursos superiores numa das inúmeras faculdades e institutos activos em todo o país
nas empresas como na administração pública, governo incluído, os responsáveis de topo dirigem hoje uma plêiade de licenciados, mestres e doutores, mesmo catedráticos, em extensa inversão de hierarquias entre o esquema organizacional e as habilitações académicas, ao ponto de patrões, administradores e ministros se verem na contingência de maior deferência para com subordinados, administrados e colaboradores
empresas há sem nenhum empregado exclusivamente “administrativo”, os recém licenciados cumprem todas as tarefas, sem horas, extraordinariamente, e muitos só entram no mercado de trabalho depois do mestrado ou doutoramento, para colaborar com chefes, directores de serviço ou patrões a quem nunca atribuiriam grau académico algum
eis algumas das verdadeiras razões para acabar com tanta titulação e falsa etiqueta, sendo certo o mérito do resultado e da finalidade
mas também jametinhamdito que no caso em apreço, do BCP, pode a medida prestar-se a interpretações algo além do pragmatismo laboral: poderia ver-se a extinção do tratamento interno pelo grau académico como forma de assinalar a ruptura organizacional, a nova liderança ou a reserva em homenagem ao último dos moicanos - Jardim Gonçalves, o engenheiro !
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9 comentários:
Certo! De Doutores e Engenheiros já andamos fartos!
Não nos fartámos ainda foi de ver o D. a seguir a Exma. Senhora, que é omissão que agora anda na voga.
Lá os títulos académicos eles sabem pôr, muito alinhadinhos, nos endereços, não vá o cliente estrebuchar... Dentro de portas tu-cá-tu-lá, muito bem; ainda está para nascer o primeiro que traga o título antes do nome (sempre se poupa mais uma discussão familiar na escolha de um título adequado para o que há-de vir, perturbando os idílicos momentos na maternidade em que, pai e mãe, muito compenetrados, com ou sem catálogo, optam pela graça do seu rebento bem amado).
Fora de portas também podiam guardar o Dr. para os médicos, como acontece noutros países, mas não lhes fazia mal nenhum, nas cartas e nos telefonemas, utilizarem a forma de tratamento adequada, ou será que a fórmula é arcaica?
"Em vez de demandarem o Santo Graal em busca do saber, os estudantes de hoje demandam meramente o Santo Grau."
-Jmco
em Setembro de 2004, Ludgero Marques anunciou, em nome da promoção da competitividade das empresas portuguesas, que a AEP passou a adoptar internamente o abandono dos títulos académicos, "sem prejuízo do respeito pelas hierarquias formais e pelas competências" de cada interlocutor
entre nós já se recorre ao tratamento informal, em muitas empresas, sobretudo as multinacionais ou áreas mais abertas a influências externas, quer pelo contacto com fornecedores e clientes estrangeiros quer pelo convívio de gestores com formação no estrangeiro
curioso é o caso brasileiro, em que o relacionamento informalíssimo, com recurso frequente ao primeiro nome (seu Adenildo...), a diminutivos (ou aumentativos, como Carlão, Luisão, etc.) ou mesmo carinhosas alcunhas, coexiste com o Doutô aplicado a altas hierarquias, quer sejam titulares seja de que curso for ou de nenhum !!! o que resulta ainda mais engraçado pois é aplicado olimpicamente ao primeiro nome - Doutô Paulo, quando cá seria Engenheiro Teixeira da Cunha!!!
Aqui vai um abraço para o Francisco para o João e também para o meu homónimo.
tudo aceite, em especial o do mais novo, de momento o único a retribuir...
homónimo, meu caro, ou será o homónimo que me está a responder?
Se todos os leitores deste blog se lembrarem de mandar beijinhos e abraços para o homónimo, Francisco e João incluídos, nos próximos tempos, eles não vão ter mais nada que fazer a não ser retribuir tanta doçura. E viva o calor, do Verão! Viva a imensa energia que circula no espaço e põe todos aos abraços!
volto ao "Senhora D.", verbalmente Senhora Dona, mais usado em Espanha que por cá
ainda é devido tal tratamento respeitoso, o que sucede amiúde no relacionamento pessoal, directo ou por escrito, perante senhoras de alguma idade
no entanto, creio que já perdeu a conotação com o qualificativo de proprietária ou com a titularidade de determinadas posições sociais ou nobiliárquicas
e fica mal quando usado para com senhoras jovens, a não ser quando parte de pessoas de mais idade - um exemplo: uma jovem pode ter mais que um grau académico mas a vizinha mais antiga do prédio trata-a por D. Fernanda; já o marido, mesmo que ainda tenha o curso por acabar, é o Dr. Antunes
entre jovens é hoje praticamente impossível seguir esta forma de tratamento, o relacionamento é crescentemente informal - à excepção de certos bairros lisboetas e dos arredores em direcção ao Guincho, onde recrudesce uma estranha moda, que o pedantismo enganchou há uns anos, de tratar os filhos por você, logo à nascença ("não me diga que vai passar o dia a chorar, Diogo Maria, não seja um bébé feio, olhe que o vídeo fica horrível para mostrar à tia") mas, por ironia para com a encenação a que é alheio, o petiz é bem capaz de tratar os avós e professores por tu, com bué da speed
porém, o pragmatismo informático dos nossos tempos é dos maiores inimigos do "Dona", o ficheiro do "mailing list" corre tudo a "Exmo(a) Senhor(a), seja lá quem for ou que idade tiver, more na linha ou na Madragoa
não há safa !
Pois não há mesmo safa, não nos lembramos todos das modas igualitárias? Eles eram e são todos "camaradas", "companheiros", "pás", "irmãos" etc. etc.
Chamem-se o que quiserem, não há-de ser por isso, a diferença e a afinidade é intima, tudo o mais é gravata e essa compra-se e muda-se para a ocasião.
assina, vem a propósito,
Homónimo
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