em crónica matinal em boa hora partilhada na TSF, faz tempo, Fernando Alves jametinhadito que viu o beijo de um casal na berma da IC 19, quando se aproximava de Lisboa no ror do trânsito matutino
o casal estava ao lado de um carro parado, no sentido de Sintra e o feliz cronista interrogava-se: seria hora de partida, estariam de regresso, seria uma pausa, haveria uma avaria ?
perturbador, como seria de esperar, o beijo em contramão despertava (!) a atenção dos transeuntes, num momento de perplexidade, como que uma prenda de travo e aroma diferente em mais um dia de trabalho na urbe
o olhar prendeu-se-lhe naquele beijo, obrigando-o a reparar, como terá sucedido a alguns outros condutores pela fresca da manhã
é assim como ouvir o galo cantar ou a chilreada dos pássaros, ver cair da árvore uma pêra, molhar os pés num ribeiro, sentir a brisa quente e reparadora
tudo pois quanto, nos escapa dia após dia, por entre os dedos, a vida afinal, nos seus quês de simplicidade e ternura, apressados e apresados na espuma das correrias artificiais que nos contam os minutos e nos roubam eternidades decisivas, como o instante de um beijo
e um beijo assim suspende o tempo e devolve-nos algo, breve mas com fragrância de verdadeira urgência ... tão urgente que o tempo não conta nem quanto nos rodeia ...
e é sempre urgente se é dado e visto às portas do dia e da cidade, na partilha de um acaso, de uma pausa, de uma berma, em perfeito recolhimento à beira da confusão, à vista de uma fila de perplexos observadores camuflados de condutores rumo a mais um dia, tornados invisíveis pelos mistérios da doçura ou da paixão, mas tocados brevemente pela graça de um beijo em contramão
observacoes sao benvindas
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