mais uma conversa, mais uma minhoca: domingo passado, Marcelo Rebelo de Sousa (who else?) analisou a candidatura de Fernando Nobre à Presidência da República e com a clarividência e o interesse político (-partidário/facção MRS) habituais, confirmou a óbvia ingenuidade da iniciativa em divisão da esquerda e favorecimento de Cavaco Silva
omitiu, porém, a hipótese mais relevante: o objectivo de Fernando Nobre pode bem ser (é a única utilidade da candidatura para quem a queira interpretar adulta e de boa fé) a preparação da disputa presidencial após Cavaco - momento em que Marcelo Rebelo de Sousa será uma vez mais potencial candidato concorrente
mas além da oportuna e só muito improvavelmente desleixada omissão, Marcelo Rebelo de Sousa analisou também o trajecto de Manuel Algre, aproveitando para desfazer tanto com habitualmente na primeira candidatura explícita, já que do implícito e nada explícito Cavaco Silva há muito nos habituámos a ter que gramar os tradicionais e hipócritas tabus
e no serviço à sua causa, o político-professor-comentador declarou que a candidatura de Manuel Alegre pecava por se ter colado ao Bloco de Esquerda, ao que Maria Flor Pedroso corrigiu, foi o BE que se colou a Manuel Alegre, e Marcelo repisou no molhado, mas então o candidato devia ter dito que não o apoiassem, e Flor intrigou-se, mas então é assim?, e Marcelo retumbou, pois claro, se quer que o apoiem tem que lhes dizer para não o apoiarem!
jametinhasdito, ó Marcelo!!
nem sei como se pode estranhar, provavelmente quase ninguém repara, é um mero pormenor, mas isto significa, com toda a naturalidade, que muitos aceitamos que se diga "apoio" para se exprimir que não se dá apoio e talvez alguns só compreendam assim
é para apoiar? tem que ir à TV dizer "não apoio"
quantas vezes afinal terão sido produzidas declarações de não apoio quando ouvimos "apoio"?
e quantas vezes vice-versa?
haverá chave para descodificar tão cifradas mensagens? dir-se-ia, ou melhor, jametinhamdito que esse nível de comunicação pode não ser acessível ao cidadão comum, Fernando Nobre incluído e, pelos vistos, também Manuel Alegre, para o efeito, parece um simples inocente, demasiadamente pessoa de bem...
na mesma linha, há dias, logo após a
declaração do Padrão dos Descobrimentos, e tal como Carlos Encarnação, dirigente do PPD/PSD, António Pires de Lima, dirigente do CDS/PP, declarou a maior simpatia por Fernando Nobre, multiplicando-se convenientemente em exultados elogios à pessoa e obra do candidato, realçando no entanto que lhe faltava a hipocrisia indispensável ao exercício do cargo!!!
nem mais - triplo jametinhasditos presidencial ... :(
observações são bem vindas
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