Pode compreender-se a interrupção da leitura das crónicas do Mário Crespo, como de alguns outros casos mais ou menos ocultos, pela certeza de que as ditas crónicas são sectárias e desinformadoras em temas bem conhecidos, levando a desconfiar da abordagem opiniosa (sem factos, o que para um jornalista...) que nos tenta impingir.
Quando em vez, porém, e há que agradecer, chega via correio electrónico uma que outra oportunidade para ler, e com muito gosto, o que à partida se tenderia a evitar.
Assim sucedeu com a crónica recente de Mário Crespo, muito obrigado.
Lida a crónica, fica de novo um sabor amargo da maledicência verrinosa de quem se reivindica justiceiro, talvez por alguma frustração mal resolvida de situações em que se sentiu (ou sente, ou sentirá para sempre...) injustiçado, porventura com razões.
Na verdade, a pergunta que afirma ter endereçado a Silva Pereira revela bem o propósito capcioso da interpelação, ficando por saber o que Mário Crespo considera como "sector do Estado" a cargo do Ministério da Presidência do Conselho de Ministros (?) pois talvez se refira ao País inteiro e não apenas ao Estado e como temos inevitáveis relações com outros Povos e Países, provavelmente pretendia, na esperteza de uma pergunta, conseguir identificar a raíz do mal que existe no mundo inteiro: precisamente o entrevistado que tinha à sua frente!
Ou, ambiciosamente, o respectivo chefe hierárquico, o primeiro ministro do momento!!
Mas falha redondamente, pelo menos perante a análise de um leitor disposto a reflectir um bocadinho.
Na realidade, o tema da crónica e da dita interpelação, a sacro-santa (ou diabólica, pois atenta a expressiva carga irónica dos termos, para o caso dá igual) corrupção é de sempre, desde que o mundo é mundo, como há muito se diz na Bíblia e o Saramago não para de nos lembrar.
E, também não tem pátria de registo, é de todos os lugares, continentes e mares.
Nem actividade específica, muito menos restrita aos "agentes do Estado" eleitos pela verborreia do Mário Crespo: há políticos corruptos, técnicos corruptos, profissionais de toda ou sem profissão, incluindo, é bom que se diga, jornalistas corruptos.
E Mário Crespo sabe muito bem que em Portugal vigora o velho princípio democrático da separação de poderes, obrigando os titulares de órgãos de soberania com funções executivas e legislativas a não interferir no poder judicial, que tem constitucionalmente reservado um quadro institucional próprio em que se inserem os tribunais enquanto órgãos de soberania.
Pelo que não tem razão nenhuma para verberar contra a recusa de vários políticos, vg Cavaco e Sócrates, em tecer comentários acerca de processos judiciais em curso, no respeito do princípio democrático da separação de poderes. Claro que se alguma vez algum deles fizer algum comentário, teremos mais verborreia na crónica e aqui d'el rei que os políticos interferem na administração da justiça.
Só há um poder que não respeita a separação de poderes que é apanágio da democracia - a comunicação social, o 4º poder, que faz falta à democracia como os demais poderes, mas que não tem qualquer legitimidade, muito menos democrática - ainda não se elegem jornalistas, creio... - para se substituir aos poderes consagrados na Constituição e nas leis da República.
A comunicação social é useira e veseira em julgar na praça pública, sem factos nem provas nem fontes nem processo nem oportunidade de defesa nem possibilidade de reparação do mal feito.
E, amiúde, vem a lume que afinal até havia propósitos e interesses partidários, económicos ou de inconfessados projectos pessoais na origem da perseguição movida contra certas figuras públicas, em especial em críticos momentos eleitorais e com o propósito de fragilizar um político, promover outro ou queimar alguns nomes, etc.
É que se um jornalista quer fazer política pura e simplesmente deve candidatar-se, tal como os demais cidadãos, e convencer os eleitores pelo seu programa, ideias e capacidade de acção. E se quer fazer justiça, nomeadamente através de crónicas de opinião, deve estribar-se em factos, tal é o que pressupõe o nome que se atribui à sua profissão.
E os factos controversos que estão sob segredo de justiça devem merecer a devida reserva, sob pena de nada haver a respeitar, e de nos sujeitarmos a um jornalismo revanchista e anárquico, sem lei nem roque.
Ou ao reinado da maledicência desregrada, ignorante e boçal.
Mas Mário Crespo deve ser um bocadinho mais inteligente do que isso, ficando pois a legítima suspeita de que interesse não declarado o move.
Pode até dar-se o caso de estar, por linhas tortas, a tentar fazer jornalismo. Mas jámetinhamdito!
Porque não não se vê!!
Está oculto!!!
;->>>
5 comentários:
Também li e, contrariamente a si, achei a prosa de mário crespo notável e muito corajosa.Preciso dele para me informar para além da agit prop do governo. Silva Pereira era secretário de estado do ambiente e foi quem despacxhou o Freeport.
Boa análise, como habitualmente.
O regresso às maiúsculas, em grande!
O enviesamento que denuncia é uma das fraquezas da cidadania/democracia e uma 'vileza' da comunicação social.
De certeza que há jornalistas honestos que não descem a estas intriguices (quase) inconsequentes.
Seria pedagógico manter um 'livro branco' dos danos causados por tais 'paladinos da infâmia'.
O tempo deste 'jornalismo' não é da verdade nem da justiça. É do palpite e do protagonismo.
Gostaria de ler esse artigo do Mário Crespo para formar a minha opinião, mas no geral concordo que há numerosos jornalistas readque estão ligados a outros interesses. Não sei se é o caso. Aliás, nos blogs acontece o mesmo.
jmco
o artigo está em linha (linkado) no título
a opinião do Ditos não desculpa Silva Pereira, nem Sócrates, nem ninguém
mas aos jornalistas exige-se que partam de matéria prima noticiosa, que nos tragam factos - para conjecturar bastam os comuns mortais e para verter fel ou para vender produto fica melhor pagar espaço publicitário do que tentar levar leitores ao engano, por muito que haja quem goste
é que também os vendedores de banha da cobra têm público e até compradores entusiasmados, mas pagam pela respectiva banca na feira
;->>>
Os jornalistas partem geralmente daquilo que lhes põem em cima da mesa.... bom, agora nestes tempos, há os telemóveis e os mails, já não são precisos telexes, nem faxes nem mesas... mas o estilo continua... as notícias são feitas por quem der divulgar algo... o jornalista mais não é que um intermediário entre a fonte e o poder político... o público e o leitor não faz falta, só existe por acaso! Infelizmente, tenho conhecimento de causa do que escrevo...
Forte abraço!!!
Enviar um comentário