privilégio do Ditos, transcreve-se artigo de um participante dos revolucionários acontecimentos de 25 de Abril de 1974 que mantém um olhar atento e, com espírito de partilha, análise crítica e esperança, exprime o sentido das suas vivências e autorizadas observações
25 de Abril: Como se viveu e como se vive hoje
Por Fernando Cardoso de Sousa
Tenente-coronel reformado
Professor universitário
Para quem, como eu, viveu os momentos únicos do dia 25 de Abril de 1974, resulta gratificante reter imagens como a da transformação de um golpe militar numa revolução popular, com o entusiasmo com que toda Lisboa veio à rua saudar os militares, agitando cravos, vindos não se sabe donde, e celebrar uma festa da paz que inspirou todo o mundo.
Para quem viu o fim da guerra de África, da PIDE e dos seus informadores; do sistema de partido único e do medo de falar abertamente; da discriminação sobre a mulher e sobre os mais desfavorecidos; da impossibilidade de acesso à educação, à justiça, à saúde, pela maior parte dos portugueses; da vergonha de ser português em terra estrangeira… Para todos os que viram tantas outras transformações que, num ápice, mudaram por completo a face do país, esse (o do 25 de Abril) foi o tempo da descoberta, da entrega e da solidariedade.
Para quem, como os que nasceram depois dessa data, não faz ideia do que foi o 25 de Abril, nem o antes dessa data, nem o que significa não poder ser diferente; e que só sabe que não consegue emprego e que não tem um futuro assegurado; que assiste à deterioração da vida política e à corrupção das elites; que vê acentuar-se o primado do dinheiro, do consumismo, do fosso entre ricos e pobres e o aumento da pobreza, do desemprego, da toxicodependência e da violência... Para esses, o que é isso do 25 de Abril e da liberdade? Qual o valor da livre expressão se tantas vezes se vê dizer e fazer coisas erradas, com total impunidade?
É aqui que nós perguntamos qual a importância dos jovens não conhecerem os nomes das figuras principais do Estado Novo, ou da Revolução; não perceberem o interesse das comemorações que se insiste em fazer todos os anos; não quererem ouvir mais falar do Tarrafal, dos horrores da guerra, ou do valor da liberdade. Nós, diga-se em abono da verdade, não sabemos o que responder; não sabemos utilizar o 25 de Abril para explicar o presente e projectar o futuro. Não sabemos explicar a quem tem tudo o que é não ter nada?
E, talvez, tenha sido esse o grande mal dos que viveram o 25 de Abril: não terem cuidado de dar aos mais novos as dificuldades e a companhia de que necessitavam para poderem saber o valor de uma liberdade que se educa e se conquista, em vez do vazio de uma liberdade indiferente e irresponsável.
Não nos vão agradecer termos-lhes dado coisas demais e companhia de menos, pois estávamos demasiado ocupados a aproveitar a liberdade que tínhamos conquistado.
Só depois, quando também eles tiverem de lutar para conquistar a liberdade; só nessa altura se lembrarão de nós e festejarão então o 25 de Abril.
Poderão fazê-lo sozinhos, ou talvez ainda possamos fazer, com eles, uma democracia melhor do que a que conquistámos.
observações são bem vindas
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2009-04-26
2009-04-24
Abril, a 24
registo de interesses: Ferreira Fernandes é referencial para o Ditos, que se fosse um blog decente, em saber, qualidade expressiva e assiduidade, poderia quando muito aspirar a chegar quase ao calcanhar da última coluna do Diário de Notícias
há várias publicações, quase em toda a imprensa diária e semanal, que têm uma secção de "ditos", sob várias formas que mais dia menos dia serão aqui dissecadas, salvo seja - é desafio sentido
mas de todas cabe a primazia à mestria da crónica diária de Ferreira Fernandes, para além de outras qualidades jornalísticas já sobejamente demonstradas em carreira consistente, merecidamente reconhecida e com direito próprio ao patamar cimeiro de bem escrever e reportar
hoje (23/4) pega o boi pelos "ditos" e arrasa a mangonhice salazarenta que em Santa Comba Dão tenta trocar as voltas ao calendário da democracia e anuncia a inauguração dos arranjos no largo do ditador no dia em que Portugal celebra 35 anos da madrugada inteira e limpa
sim, o dia nascente derrubador do fascismo odiento, criminoso e miserável que arruinou vidas inocentes durante décadas, muito para além dos 48 anos a cultivar a tortura, o analfabetismo, a discriminação injusta, contra todas as diferenças e em especial contra as mulheres, a censura, a ignomínia, a fraude, a perseguição, a censura, o medo, o isolamento internacional do país, a humilhação dos portugueses mundo fora e portas dentro, a perpetuação da exploração dos mais fracos pelos mais fortes sempre sempre os mesmos, a mentira, a denúncia, a propagação das doenças e da mortalidade precoce, a subserviência, a clandestinidade, o êxodo emigratório, a estupidez, o enfado, a lavagem cerebral e a maldade
como Ferreira Fernandes exemplar e irrefutavelmente denuncia, os corregedores responsáveis pelo agendamento da cerimónia não se atrevem a declarar à transparência o que assim pretendem afrontar ou a clarificar que se arrogam celebrar o 24 de Abril no dia da Liberdade
lá ficam de ronha bolorenta e, à maneira dos chacais do botas, jametinhamdito que é para aproveitar o dia de festa nacional, esquecendo que o precioso Feriado foi conquistado à custa de muitas vidas sacrificadas pelo sanguinário tirano e para quem consente voltar ao passado é melhor lembrar que a morte saiu à rua num dia assim
esperemos que o batizo do largo e o seu criterioso cronograma inaugural não magoe a memória de quem perdeu os seus na luta por um País mais livre, mais justo e mais fraterno, que a democracia representa, a Constituição consagra e o 25 de Abril sempre simboliza
observações são bem vindas
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há várias publicações, quase em toda a imprensa diária e semanal, que têm uma secção de "ditos", sob várias formas que mais dia menos dia serão aqui dissecadas, salvo seja - é desafio sentido
mas de todas cabe a primazia à mestria da crónica diária de Ferreira Fernandes, para além de outras qualidades jornalísticas já sobejamente demonstradas em carreira consistente, merecidamente reconhecida e com direito próprio ao patamar cimeiro de bem escrever e reportar
hoje (23/4) pega o boi pelos "ditos" e arrasa a mangonhice salazarenta que em Santa Comba Dão tenta trocar as voltas ao calendário da democracia e anuncia a inauguração dos arranjos no largo do ditador no dia em que Portugal celebra 35 anos da madrugada inteira e limpa
sim, o dia nascente derrubador do fascismo odiento, criminoso e miserável que arruinou vidas inocentes durante décadas, muito para além dos 48 anos a cultivar a tortura, o analfabetismo, a discriminação injusta, contra todas as diferenças e em especial contra as mulheres, a censura, a ignomínia, a fraude, a perseguição, a censura, o medo, o isolamento internacional do país, a humilhação dos portugueses mundo fora e portas dentro, a perpetuação da exploração dos mais fracos pelos mais fortes sempre sempre os mesmos, a mentira, a denúncia, a propagação das doenças e da mortalidade precoce, a subserviência, a clandestinidade, o êxodo emigratório, a estupidez, o enfado, a lavagem cerebral e a maldade
como Ferreira Fernandes exemplar e irrefutavelmente denuncia, os corregedores responsáveis pelo agendamento da cerimónia não se atrevem a declarar à transparência o que assim pretendem afrontar ou a clarificar que se arrogam celebrar o 24 de Abril no dia da Liberdade
lá ficam de ronha bolorenta e, à maneira dos chacais do botas, jametinhamdito que é para aproveitar o dia de festa nacional, esquecendo que o precioso Feriado foi conquistado à custa de muitas vidas sacrificadas pelo sanguinário tirano e para quem consente voltar ao passado é melhor lembrar que a morte saiu à rua num dia assim
esperemos que o batizo do largo e o seu criterioso cronograma inaugural não magoe a memória de quem perdeu os seus na luta por um País mais livre, mais justo e mais fraterno, que a democracia representa, a Constituição consagra e o 25 de Abril sempre simboliza
observações são bem vindas
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2009-04-22
escolaridade
e eis que é finalmente anunciada a decisão: 12 anos de escolaridade obrigatória, em Portugal, país onde a luta contra o analfabetismo demorou séculos a travar
agora os arautos da desgraça poderão dizer que também tiveram a idéia, outros dirão que o país não está preparado, outros que iriam anunciar em breve, etc., mas foi Sócrates quem anunciou, essa não lhe tiram
medida estruturante do nível de vida a que aspiramos, só a elevação da escolaridade pode preparar os portugueses para superar o sacrifício de inúmeras gerações inteiras, que penaram para estudar e lutaram contra o desinteresse e a má vontade
e se de facto se conseguir abranger a totalidade da população, a escolaridade obrigatória até à porta da Universidade pode ajudar muito no desafio de minorar diferenças sociais no acesso ao ensino superior ou mesmo a tentar a dar a volta ao texto na luta contra a perpetuação do estigma da condição social, que hoje só muito raramente se vence e nem pode imaginar-se a que preço
um jametinhasdito de ouro para os 12 anos de escolaridade obrigatória!!!
observações são bem vindas
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agora os arautos da desgraça poderão dizer que também tiveram a idéia, outros dirão que o país não está preparado, outros que iriam anunciar em breve, etc., mas foi Sócrates quem anunciou, essa não lhe tiram
medida estruturante do nível de vida a que aspiramos, só a elevação da escolaridade pode preparar os portugueses para superar o sacrifício de inúmeras gerações inteiras, que penaram para estudar e lutaram contra o desinteresse e a má vontade
e se de facto se conseguir abranger a totalidade da população, a escolaridade obrigatória até à porta da Universidade pode ajudar muito no desafio de minorar diferenças sociais no acesso ao ensino superior ou mesmo a tentar a dar a volta ao texto na luta contra a perpetuação do estigma da condição social, que hoje só muito raramente se vence e nem pode imaginar-se a que preço
um jametinhasdito de ouro para os 12 anos de escolaridade obrigatória!!!
observações são bem vindas
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2009-04-21
outro
jametinhasdito da vacina semanal: ena, com tanta injecção qualquer dia sou outro por dentro, fica lá tudo alterado!!!
observações são bem vindas
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observações são bem vindas
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2009-04-16
2009-04-15
Abrilosa
2009-04-10
tribuno
notícia em quanto é sítio: Nuno Melo candidato do CDS/PP às europeias!
de entre os panegíricos do costume, sobressai o laudatório Público, considerando que o nóvel tribuno fala bem e estuda os assuntos, recentemente carraçando eficientemente em cima da comissão parlamentar que alegadamente investiga os negócios do BPN, rematando a chave de ouro - com a viagem de Nuno Melo, ganha a Europa, perde o Parlamento Português
pois o Ditos, tão dispersamente vário, também se comove e propõe-se mesmo vencer o pseudo-trauma de partidarite, na variante particular e grave de anti-partidarite, e encomenda muito feliz estadia europeia ao dito cujo papagaio parlamentar, que vá e se detenha, que por lá os entretenha, nós por cá ficaremos felizes e contentes com menos uma aventesma de verbo de encher todo e qualquer telejornal que faz dó
vá de ida, vá de ida promovida !!!
observações são bem vindas
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de entre os panegíricos do costume, sobressai o laudatório Público, considerando que o nóvel tribuno fala bem e estuda os assuntos, recentemente carraçando eficientemente em cima da comissão parlamentar que alegadamente investiga os negócios do BPN, rematando a chave de ouro - com a viagem de Nuno Melo, ganha a Europa, perde o Parlamento Português
pois o Ditos, tão dispersamente vário, também se comove e propõe-se mesmo vencer o pseudo-trauma de partidarite, na variante particular e grave de anti-partidarite, e encomenda muito feliz estadia europeia ao dito cujo papagaio parlamentar, que vá e se detenha, que por lá os entretenha, nós por cá ficaremos felizes e contentes com menos uma aventesma de verbo de encher todo e qualquer telejornal que faz dó
vá de ida, vá de ida promovida !!!
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2009-04-09
Veneza
«O comboio tinha atravessado a estação de Mestre, atravessara, diante de S. Julião e de Fusina, a campina luminosa e húmida - e enfiava agora, num silvo estridente, pela grande ponte de Marghera. dum lado e do outro, a laguna e o céu confundiam-se no mesmo revérbero rosa e verde dum poente de Julho. Um colar de luzes tremulava, ao fundo. E desse colar de oiri uma sombra de mármore e opala emergia, ondulante, quase suspensa, como uma incomparável flor branca mergulhando no mistério da água a sua ténue haste de fogo.
Sofia correu dum lado ao outro do compartimento e, estendendo fora da janela a cabela loira, gritou, batendo as mãos, numa expressão quase infantil de alegria:
_ Veneza! É Veneza!...
E era, na verdade, na sua concha luminosa, o crepúsculo de Veneza que surgia.»
in VENEZA (figura invisível e «Ville d'inquietude» - Maurice Barrés) uma das três novelas de "O Amor e o Tempo", de Augusto de Castro, 2ª edição, 1955, edição da Empresa Nacional de Publicidade - o Autor dedica a Beltran Masses, o grande pintor de Veneza nascido em Espanha, esta inspiração, voluptuosa da Cidade dos olhos irresistíveis.
PS - nesta obra, para início de conversa:
«O Amor e o Tempo encontraram-se, num doirado dia, quando a Primavera eterna floria as olaias e os prados, numa estrada erma, à beira de um vale em que cantavam as fontes e os ninhos.
e o Tempo disse ao Amor:
_Amor, porque me foges sempre, como a sombra foge da luz? desde que o mundo é mundo, eu te procuro e te sigo e só te encontro para te ver fugir-me, só te alcanço para te perder! Amor, dir-se-ia que tens medo de mim!
E o Amor disse ao Tempo:
_ Tempo, porque me persegues, destruindo atrás de mim todas as flores que eu colho e todas as ilusões que eu semeio? Porque és a minha sombra e, fingindo seguir-me, o meu algoz? És tu quem apaga os desejos que eu crio, és tu quem sufoca a Beleza que eu sonho! Tempo, eu seria imortal sem ti. És tu quem gera as dores sobre o meu caminho. Por isso te fujo, desde que o mundo é mundo!
E o Tempo respondeu ao Amor:
_ Se eu destruo as flores que tu colhes e as ilusões que tu, Amor, semeias, o que seria dos homens se eu não seguisse na vida os teus passos ligeiros e ardentes? Se eu apago os desejos que tu espalhas, também cicatrizo as dores que tu crias!
_ Que importa isso, Tempo? Os homens bem sabem que o meu verdadeiro nome é dor e nem por isso me amam menos _ retorquiu o Amor.
_ É certo que se te chamas a Dor, eu sou o teu melhor aliado _ replicou o Tempo. se não fosse eu, quem ensinaria os homens que amam e sofrem a esquecer?»
observações são bem vindas
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Sofia correu dum lado ao outro do compartimento e, estendendo fora da janela a cabela loira, gritou, batendo as mãos, numa expressão quase infantil de alegria:
_ Veneza! É Veneza!...
E era, na verdade, na sua concha luminosa, o crepúsculo de Veneza que surgia.»
in VENEZA (figura invisível e «Ville d'inquietude» - Maurice Barrés) uma das três novelas de "O Amor e o Tempo", de Augusto de Castro, 2ª edição, 1955, edição da Empresa Nacional de Publicidade - o Autor dedica a Beltran Masses, o grande pintor de Veneza nascido em Espanha, esta inspiração, voluptuosa da Cidade dos olhos irresistíveis.
PS - nesta obra, para início de conversa:
«O Amor e o Tempo encontraram-se, num doirado dia, quando a Primavera eterna floria as olaias e os prados, numa estrada erma, à beira de um vale em que cantavam as fontes e os ninhos.
e o Tempo disse ao Amor:
_Amor, porque me foges sempre, como a sombra foge da luz? desde que o mundo é mundo, eu te procuro e te sigo e só te encontro para te ver fugir-me, só te alcanço para te perder! Amor, dir-se-ia que tens medo de mim!
E o Amor disse ao Tempo:
_ Tempo, porque me persegues, destruindo atrás de mim todas as flores que eu colho e todas as ilusões que eu semeio? Porque és a minha sombra e, fingindo seguir-me, o meu algoz? És tu quem apaga os desejos que eu crio, és tu quem sufoca a Beleza que eu sonho! Tempo, eu seria imortal sem ti. És tu quem gera as dores sobre o meu caminho. Por isso te fujo, desde que o mundo é mundo!
E o Tempo respondeu ao Amor:
_ Se eu destruo as flores que tu colhes e as ilusões que tu, Amor, semeias, o que seria dos homens se eu não seguisse na vida os teus passos ligeiros e ardentes? Se eu apago os desejos que tu espalhas, também cicatrizo as dores que tu crias!
_ Que importa isso, Tempo? Os homens bem sabem que o meu verdadeiro nome é dor e nem por isso me amam menos _ retorquiu o Amor.
_ É certo que se te chamas a Dor, eu sou o teu melhor aliado _ replicou o Tempo. se não fosse eu, quem ensinaria os homens que amam e sofrem a esquecer?»
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