a decisão/indecisão dos poderes e contrapoderes dos Estados Unidos pesa sobre muitos ombros, muitas bolsas, muitos bolsos, all over the world
é a globalização da crise - se os mercados são globais, o seu colapso é um perigoso dominó, repique de sinetas nas aldeias do mundo
nem de propósito, há dias a Cavacal figura presenteou-nos com mais uma alegria e deu de sineta a abrir a bolsa em Wall Street, gesto mítico até para um catedrático da finança, como para um estadista, mesmo para um Presidente de República
mas a inexorável lombriga corroeu por dentro o império dos mercados, o exemplo capitatalista, a suma liberal
o dólar andou tempos e tempos a fazer as delícias a turistas europeus, a magnatas japónicos, a novos-ricos soviétchicos
ajudou à escalada do petróleo nos mercados internacionais, muitas das transacções deslocaram-se para o euro ou para outras praças, regra geral mais próximas da fome de combustíveis para acalentar crescimentos económicos, populacionais e, sobretudo, de níveis de conforto, consumo e ostentação
mais as guerras aqui, ali e por toda a parte, geralmente onde haja, passe ou cheire a petróleo, agravando o problema dos incontroláveis cartéis, a crescente consciência da escassez dos recursos, mais que a sua finitude
boicotes a infraestruturas de petróleo e gás, problemas nucleares, restrições ambientalistas a projectos renováveis, custos acrescidos para novas energias, défice de investigação e longo prazo, longa espera para novas tecnologias
regulações e desregulações sucessivas e sempre legitimadas pelos mais capazes teóricos, hábeis políticos e sequazes comentadores
prevenidos, todos estamos
mas o frenesim eleitoral que o mundo vive por interpostos EUA pode baralhar as contas, se os incontáveis zeros (coisa de 250.000.000.000 US$ era a primeira tranche para os primeiros socorros aos mercados, aos bancos em estado convalescente, aos accionistas crentes, aos empregados descrentes e a outros súbditos do vil metal) não corromperam já as sinapses que conferem legalidade - e, quiça, legitimidade - a bancarrotas adiadas
há que acreditar: todos terão o momento certo de juízo para o sistema encarrilar
a Europa já nem se limita a acreditar, exige!
ficam, jametinhasdito, as perguntas esquecidas:
- há quanto e quanto tempo os EUA alimentam um escandaloso défice, deixam desvalorizar as verdinhas para ajudar às exportações e exageram no consumo interno, vivendo acima das reais e mui liberais possibilidades?
- durante quanto mais tempo a enorme "dona branca" americana soma e segue, ora deixando falir umas instituições (o centenário Lehman Brothers ) mas nacionalizando outras (públicas ou semi-públicas, inclusive, como as entidades federais de garantia de créditos na origem de muitos dos produtos tóxicos agora pulverizados) e salva outras (AIG...) ficando por saber se o Congresso finalmente e aos solavancos libertará os tais 700 biliões (americanos) de dólares - seja lá o que isto for em dinheiro - para resgatar ao sacrosssanto mercado parte do colossal défice bancário e amainar a respectiva crise (por agora) in extremis e sob a esconjurada benemerência do ... Estado?
- por quanto mais tempo continuarão os EUA a disfarçar o maior défice público do mundo à custa do financiamento de guerras um pouco por todo o mapa mundi ?
observacões são bem vindas
2008-10-01
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1 comentário:
Estou convencido, António, de que ninguém no mundo sabe responder com exactidão a perguntas directas sobre a crise. Entendeu-se bem como a titularização ou securitização de muitos créditos era mais uma operação contabilística do que outra coisa. Compreendeu-se também que muitas mais-valias eram injustificadas. Gato por lebre, o rei vai nu, a dona banca transformada em Dona Branca, tudo isso transpareceu das notícias e dos relatórios que aqui e além há muito iam aparecendo (também na Net). Mais uma vez se prova que o fio da vida das sociedades "desenvolvidas" não se desenrola através de linhas rectas continuamente ascendentes; pelo contrário, é sempre a linha curva - que conduz ao ciclo - que, mais tarde ou mais cedo, impera. A seguir à desregularização ou liberalização vem o controlo mais apertado. Mas se o controlo deixa do lado de fora a cauda do cão - os centros financeiros offshore - bem pode suceder que num próximo futuro tenhamos de volta um cenário idêntico: em vez do cão a abanar a cauda, teremos esta a abanar o cão.
Enfim, António, uma longa história. Gosto de estar a vivê-la - desde que não me tirem da cadeira em que estou sentado - e só me pergunto como é que daqui a uns largos anos (que possivelmente já não verei) o cenário que agora vivemos será oficialmente pintado. Depende de quem o vai pintar, não é?
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