mas por falar em contemplação, há quem entenda do assunto com a elevação e a espiritualidade de um ano renovado em cada dia
há dias, a crónica de Faíza Hayat versava sobre como renascemos nas árvores que nos rodeiam; do tremendo abraço de árvore tratava também o magistral e místico "A um deus desconhecido", de John Steinback; outros artistas, poetas, pintores, a consagraram como elemento salvífico e vivificador, a modos que divino, telúrico e mágico...
desde que o mundo é mundo, sempre os humanos - e não só - alimentaram e alimentaram-se do fascínio prodigioso, do encantamento e do sagrado que há na árvore, na sua força, quietude e pulsão, enraizada à nutrição da terra, que por sua vez sustenta em cooperativa alquimia
contemplação, então:
«Cada árvore é um ser para nós
Para ver uma árvore não basta vê-la
a árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses»
António Ramos Rosa
In edição in-líbris, ilustrada por fotografias de Paulo Gaspar Ferreira e por um CD de sons gravados em Belgais com a participação de Pedro Piquero Ferreras e o Rebanho da Catarina
observacões são bem-vindas
2008-01-23
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2 comentários:
Falar de árvores é falar da vida, da relação entre nós e todos os seres vivos. Comoveu-me uma referência de Saramago ao recordar o seu avô, analfabeto, que se despediu das árvores do seu quintal, com um abraço uma a uma, antes de ser internado no hospital. Talvez fosse a sua última despedida...
Júlio
é a vida, pois, esse milagre instante, sendo que as árvores têm a particularidade de nos demonstrar à saciedade a inexorável ligação à Terra Mãe...
creio que quem já sentiu a poderosa tentação de abraçar uma árvore compreende inteiramente a comoção provocada pela Saramagal evocação
no caso relatado, a condição de "analfabeto" que identifica o protagonista pode bem ser lida como a qualidade que permite uma ligação muito directa às formas de vida de todos os seres, à natureza, à Terra Mãe, afinal...
comprovando assim que essa inteireza lhe guardou os alfabetos maiores da vida: os da pureza da alma e dos afectos
de acordo ?
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