o Presidente Cavaco Silva concedeu 6 indultos por ocasião do Natal
jametinhamdito: muitos menos do que o ano passado e do que é habitual !
há um ano, um erro (? - esperamos bem!) acabou por manchar a nobreza do acto, por entre minudências processuais mal esclarecidas: terá havido descuido na preparação da proposta ministerial apresentada aos serviços da Presidência da República e o beneficiário de um dos indultos tinha afinal mais contas a prestar à justiça - acontece, mas a mácula deixa a terrível dúvida sobre o rigor da elaboração dos elementos instrutórios dos restantes procedimentos de indulto
assim, embora só impropriamente se possa invocar o "pelo pecador paga o justo " da sabedoria popular, certo é que desta vez a maior exigência e a vontade de não errar - concedendo menos indultos reduz-se a probabilidade de erro - resultaram em menos actos de clemência presidencial, prerrogativa reminescente do poder régio assegurada pela Constituição ao Presidente da República
há uns anos, um dos indultados contou a sua história: industrial, viu a sua fábrica incendiada com grave dano material e perigo para o sustento e bem estar da respectiva família; identificado o malfeitor, foi presente a juiz e saiu em liberdade, continuando a rondar a propriedade da vítima; acto contínuo, levou o meliante para um ermo e deu-lhe umas valentes sarrafadas; foi também presente a juiz mas não teve direito ao mesmo trato: ficou preso, foi julgado e condenado; anos depois, num Natal, foi indultado pelo Presidente de então, com base na situação humanitária, no bom comportamento durante a parte da pena de prisão que cumpriu e na avaliação geral da justiça do caso
enfim, como em muitos outros casos, aquele indulto não ofendeu a consciência colectiva, o senso comum ou a compreensão geral da comunidade - é uma excepção que se justifica
por isso vale a pena defender a subsistência do instituto do indulto, apoiado por análise rigorosa do ponto de vista dos factos, do direito e da moral, como válvula de escape do sistema jurídico punitivo, sujeito a erros como qualquer projecto humano
mas se o Natal é uma celebração cristã, o espírito do Natal é universal - são habituais clemências em quadras festivas maometanas, de que há inúmeros exemplos recentes
ainda há dias, o Rei Abdullah, da Arábia Saudita, concedeu indulto a uma mulher condenada, por ocasião de uma celebração religiosa
bom, o caso tornou-se muito conhecido porque a beneficiária tinha sido condenada no âmbito de um processo de violação... em que fora vítima de 7 meliantes - vá lá, também condenados!!
é que a aplicação pura das leis, ainda que consideradas justas (ao menos - ou apenas? -pelos respectivos aplicadores, supõe-se) chega a ferir o mais elementar sentido de humanidade
vale então a pena celebrar o que resta de humanidade
mesmo que não seja dia de Natal ou para quem não haja dia de Natal, casos em que é da maior valia haver Natal
dia 26 de Dezembro, por exemplo, devia ser Natal !
e nos dias seguintes, todos os dias !!
no mundo inteiro !!!
observacões são bem-vindas
2007-12-26
2007-12-22
Feliz Inverno
hoje foi o menor dia do ano, escureceu cedo e amanhã, ao acordar, já o Inverno deu as boas vindas
provavelmente será retribuído com um bocejo matinal, espontâneo e delicado, em homenagem a mais um dia
no caso, o dia em que os dias do ano (re)começam a crescer
é Inverno outra vez, e embora haja quem acredite tê-lo avistado em Agosto, é o tempo do nosso «Inverno velho, velho, velho» de que fala o poeta Eugénio de Andrade
de todo o modo, os ciclos são para cumprir e usufruir, pois o ADN humano transporta os humores da natureza e das inexoráveis geometrias e revoluções planetária e astral
perplexo, fascinado e místico, o homem celebrou sempre o solstício de Inverno, desde a monumentalidade megalítica às festas pagãs entretanto assimiladas pelo cristianismo na quadra do Natal, mas ainda assentes nos estados de alma face à trajectória do astro-rei no firmamento, nas crenças da necessidade de replicação espiritual do renascimento da iluminação solar e na aspiração de, em cada ano e em cada dia, renascer
em tempo de pressas e consumismos, é bom retomar a noção de que ainda nos relacionamos teluricamente com os ciclos naturais, do tempo depois do tempo, quem sabe se por todos os tempos...
mas também o tempo da partilha e dos afectos, de recuperar o calor familiar, a magia e a graça das crianças plenas de expectativa, de alegria e, por fim, de um cansaço satisfeito que também nos apazigua e contagia de boas sensações
jametinhamdito que não há melhor !
voto sincero e amigo de um Natal cheio de luz
observacões são bem-vindas
2007-12-12
suceder na hora
A elegante Cristina Kirschner (o Financial Times e a Time tratam-na por Fernandez...) acaba de tomar posse do magnífico bastão de prata que simboliza solenemente o cargo de Presidente da República da Argentina.
Advogada (ninguém é perfeito) e política, senadora eleita e admirada, popular apesar da fama de mulher dura, certamente reúne qualidades bastantes para exercer as funções para que foi escolhida por votação expressiva (45%) do eleitorado argentino.
Há no entanto uma peculiaridade relevante no curriculum vitae de Cristina Kirschner, talvez simultaneamente fragilidade e trunfo: era a primeira dama!
Sucede assim ao marido e presidente em funções no mandato anterior, Nestor Kirschner, com quem começou a namorar quando ambos frequentavam a Faculdade de Direito.
A inédita sucessão conjugal (pelo menos em regime republicano) na chefia do Estado, carrega o fardo e a velada suspeita de que se trata de presumível estratagema para fazer reeleger Nestor no mandato seguinte.
Isso faria de Cristina uma Presidente “barriga de aluguer”, para prolongamento da governação por interposto cônjuge. Mentes insidiosas, porém, poderiam sempre alegar, quiçá com propriedade, que foi Nestor o testa de ferro no mandato anterior. Quem o saberá ao certo?
Mas o plano aparente inclui a repetição futura da alternância conjugal, de forma a aproveitar ao máximo a permissão constitucional de reeleição presidencial e garantindo – jametinhamdito! – um total de quatro mandatos ao casal, independentemente de eventual repartição interna de ascendente na governação da Argentina.
Tal é de facto possível, plausível e até provável, porquanto a ingénua República não interdita a sucessão familiar nos cargos de poder desde que cumpridas as formalidades eleitorais. Às vezes, nem isso.
Esclareça-se que a sucessão “republicana” pode ser conjugal (caso do casal Kirschner), fraternal (caso dos manos Castro), parental (Kabila) ou até pessoal, em que o titular sucede a si próprio, tudo à margem do ideal republicano e democrático de rotação nos postos de poder.
Em alguns casos, há necessidade de alguma sofisticação adicional em busca de um mínimo da tão desejada aparência de legitimidade legal.
Para isso, uns tentam mudar a constituição (Chávez), outros estagiam temporariamente em cargo nominal diferente (Putin, que se prepara para nomear o vice-Primeiro Ministro Medvedev para ser eleito interposto Presidente enquanto assume as funções de Primeiro-Ministro) e, claro está, outros há muito piores em desfaçatez e apego ao lugar.
Há republicanos que se sucedem "nas horas", em família e a si próprios.
Está pois na altura de dinamizar a “sucessão na hora”.
Expedientes não faltam...
E se há candidatos!!!
observacões são bem-vindas
Advogada (ninguém é perfeito) e política, senadora eleita e admirada, popular apesar da fama de mulher dura, certamente reúne qualidades bastantes para exercer as funções para que foi escolhida por votação expressiva (45%) do eleitorado argentino.
Há no entanto uma peculiaridade relevante no curriculum vitae de Cristina Kirschner, talvez simultaneamente fragilidade e trunfo: era a primeira dama!
Sucede assim ao marido e presidente em funções no mandato anterior, Nestor Kirschner, com quem começou a namorar quando ambos frequentavam a Faculdade de Direito.
A inédita sucessão conjugal (pelo menos em regime republicano) na chefia do Estado, carrega o fardo e a velada suspeita de que se trata de presumível estratagema para fazer reeleger Nestor no mandato seguinte.
Isso faria de Cristina uma Presidente “barriga de aluguer”, para prolongamento da governação por interposto cônjuge. Mentes insidiosas, porém, poderiam sempre alegar, quiçá com propriedade, que foi Nestor o testa de ferro no mandato anterior. Quem o saberá ao certo?
Mas o plano aparente inclui a repetição futura da alternância conjugal, de forma a aproveitar ao máximo a permissão constitucional de reeleição presidencial e garantindo – jametinhamdito! – um total de quatro mandatos ao casal, independentemente de eventual repartição interna de ascendente na governação da Argentina.
Tal é de facto possível, plausível e até provável, porquanto a ingénua República não interdita a sucessão familiar nos cargos de poder desde que cumpridas as formalidades eleitorais. Às vezes, nem isso.
Esclareça-se que a sucessão “republicana” pode ser conjugal (caso do casal Kirschner), fraternal (caso dos manos Castro), parental (Kabila) ou até pessoal, em que o titular sucede a si próprio, tudo à margem do ideal republicano e democrático de rotação nos postos de poder.
Em alguns casos, há necessidade de alguma sofisticação adicional em busca de um mínimo da tão desejada aparência de legitimidade legal.
Para isso, uns tentam mudar a constituição (Chávez), outros estagiam temporariamente em cargo nominal diferente (Putin, que se prepara para nomear o vice-Primeiro Ministro Medvedev para ser eleito interposto Presidente enquanto assume as funções de Primeiro-Ministro) e, claro está, outros há muito piores em desfaçatez e apego ao lugar.
Há republicanos que se sucedem "nas horas", em família e a si próprios.
Está pois na altura de dinamizar a “sucessão na hora”.
Expedientes não faltam...
E se há candidatos!!!
observacões são bem-vindas
2007-12-03
pedra
2007-12-02
Phone ética
o traçado engraçado de Pedro K., o "Meia Hora" de quinta-feira passada, 29 de Novembro, tenta ridicularizar a designação eleita para a telefonia móvel dos CTT, jametinhamdito, nada mais nada menos que Phone-ix !
mas só se presta a ridículo quem tem algum senso, isto é, se de todo não se desfez já do sentido do ridículo
é que no mundo globalizado de hoje, acredita-se que os desafios mais problemáticos devem superar-se pela via das oportunidades que geram...
e quando já se perdeu a vergonha, o ridículo pode render preciosos cêntimos para o relatório e contas anual
também engraçado é o esforçado emprego do "i" para reforçar o ix (Phone-x tem a mesma fonética) aos distraídos ou menos versados em inglês ... que poderiam ler "fóne-chis", prejudicando talvez o êxito da implementação do famigerado plano de marketing ou dos níveis de rendibilidade projectados
no celebrado verso "alma minha gentil ...", Camões apôs o selo do génio pela deliberação de transformar em figura de estilo um erro da linguagem comum, a cacofonia, mas também pela acumulação com outra provocação, do foro dos costumes, não sendo inocente o recurso à expressão "maminha" que é o resultado fonético do atrevimento poético
tal é permitido a valorosos poetas porque o seu reconhecimento lho permite: aos leitores não restam dúvidas sobre o carácter intencional e poético da ousadia; e porque assim é a arte, infrigir a norma e provocar as mentalidades, impondo um confronto com os limites aceites e procurando a adopção de novos limites
também a recente escolha do título "Deixa-me amar" para designar uma série televisiva (telenovela é um pouco abusivo) se compreende num projecto de deliberada cacofonia, de que o nome é apenas mais um pormenor ditado pelo marketing
há um aproveitamento da notoriedade do erro e da provocação ao nível dos costumes - neste caso, o resultado "mamar" nada terá de poesia, movendo-se tão só na suposta rendibilidade de audiência televisiva da vulgaridade
de igual modo, os CTT terão decidido em cima de aturados estudos de notoriedade e a escolha é mero produto da ditadura do marketing - às malvas com a ética
o resultado fonético pretendido "fónix" é também da ordem da vulgaridade, jargão generalizado - por substituição púdica de outra expressão de fonética aproximada e gosto ainda pior - mas correntemente utilizada por jovens cada vez mais jovens, eventualmente tão jovens que não chegaram ainda ao entendimento do significado escondido pela ténue mutação fonética
mas aos CTT, e sobretudo aos respectivos marketears, não escapam significados nem subentendidos: a aposta na vulgaridade como factor produtivo resulta directamente de projecções económica-financeiras para maximização do retorno do investimento no projecto
e da atitude perante a ética: vale tudo para realizar negócios
vale ?
observacões são bem-vindas
mas só se presta a ridículo quem tem algum senso, isto é, se de todo não se desfez já do sentido do ridículo
é que no mundo globalizado de hoje, acredita-se que os desafios mais problemáticos devem superar-se pela via das oportunidades que geram...
e quando já se perdeu a vergonha, o ridículo pode render preciosos cêntimos para o relatório e contas anual
também engraçado é o esforçado emprego do "i" para reforçar o ix (Phone-x tem a mesma fonética) aos distraídos ou menos versados em inglês ... que poderiam ler "fóne-chis", prejudicando talvez o êxito da implementação do famigerado plano de marketing ou dos níveis de rendibilidade projectados
no celebrado verso "alma minha gentil ...", Camões apôs o selo do génio pela deliberação de transformar em figura de estilo um erro da linguagem comum, a cacofonia, mas também pela acumulação com outra provocação, do foro dos costumes, não sendo inocente o recurso à expressão "maminha" que é o resultado fonético do atrevimento poético
tal é permitido a valorosos poetas porque o seu reconhecimento lho permite: aos leitores não restam dúvidas sobre o carácter intencional e poético da ousadia; e porque assim é a arte, infrigir a norma e provocar as mentalidades, impondo um confronto com os limites aceites e procurando a adopção de novos limites
também a recente escolha do título "Deixa-me amar" para designar uma série televisiva (telenovela é um pouco abusivo) se compreende num projecto de deliberada cacofonia, de que o nome é apenas mais um pormenor ditado pelo marketing
há um aproveitamento da notoriedade do erro e da provocação ao nível dos costumes - neste caso, o resultado "mamar" nada terá de poesia, movendo-se tão só na suposta rendibilidade de audiência televisiva da vulgaridade
de igual modo, os CTT terão decidido em cima de aturados estudos de notoriedade e a escolha é mero produto da ditadura do marketing - às malvas com a ética
o resultado fonético pretendido "fónix" é também da ordem da vulgaridade, jargão generalizado - por substituição púdica de outra expressão de fonética aproximada e gosto ainda pior - mas correntemente utilizada por jovens cada vez mais jovens, eventualmente tão jovens que não chegaram ainda ao entendimento do significado escondido pela ténue mutação fonética
mas aos CTT, e sobretudo aos respectivos marketears, não escapam significados nem subentendidos: a aposta na vulgaridade como factor produtivo resulta directamente de projecções económica-financeiras para maximização do retorno do investimento no projecto
e da atitude perante a ética: vale tudo para realizar negócios
vale ?
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