com os dados divulgados pelo Ministério da Educação, cada qual pode fazer o seu próprio ranking das escolas e os jornais correm para as parangonas e as vendas, mas também para trabalhos mais ou menos aprofundados, mostrando e tentando demonstrar
há sempre ilações a retirar, por vezes ao abrigo de cuidadas reservas pois nem sempre o que parece é e a evolução trai muitas conclusões precipitadas
mas há que analisar, do elementar para o refinado
sabe-se que a qualidade/falta de qualidade de uma escola não tem o poder de contrariar o ambiente mais ou menos favorável de um estudante ou de um conjunto de alunos em relação às condições efectivas de acesso à educação e à progressão no sistema de ensino
ainda assim, é forçoso reparar em alguns elementos de distribuição geográfica: recorrendo à lista de "10 mais" e "10 menos" publicada pelo Diário de Notícias, verifica-se que nas melhores estão 6 escolas de Lisboa, 2 do Porto, 1 de Cascais e outra de Coimbra; as piores escolas são da Beira Interior, do Alentejo Interior, dos Açores, da Guiné, de Angola e, talvez não por acaso, 2 do Porto
é claro que olhar só para as "mais" e as "menos" apenas permite ver casos limite, o que impede conclusões seguras mas talvez possa indiciar tendências - fica no entanto a ressalva de que se deixa por analisar a maioria das escolas e os diversos casos em que poderiam talvez extrair-se apreciações mais relevantes
e a tendência, com as devidas ressalvas, confirma a regra geral de maior influência do ambiente socio-económico sobre os resultados escolares dos alunos do que a hipotética situação individual das escolas
talvez a análise bairro a bairro não trouxesse grandes novidades quanto à relação entre a localização e os resultados
há contudo um aspecto a considerar: em muitas das melhores escolas, sobretudo nos colégios particulares (incluindo cooperativos, mas quase sempre pertencentes a proprietários privados e não aos pais dos alunos) mas não só, os estudantes não são exclusivamente habitantes do bairro onde se localiza a escola - os pais escolhem a escola (havendo vaga e por vezes com antecedência considerável) e asseguram os meios necessários para as deslocações
já no ensino público a regra (com excepções) é a da afinidade residencial, quer por imposição regulamentar e burocrática, quer pela exiguidade de meios de deslocação que impõe a frequência da escola circum-vizinha, como aliás é mais racional
e assim o ranking vem mostrar à luz do dia as diferenças do estatuto socio-económico que os meios públicos e a política não conseguem superar
observacões são bem vindas
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Não tive ainda oportunidade de ver nenhum ranking feito por jornais, António, na medida em que o Público é o único jornal que compro diariamente e, pelo que me lembro, ainda não encontrei nele qualquer ranking este ano. Mas ouvi na rádio e, salvo erro, na TV, que nove das dez escolas com melhores resultados eram privadas. Não me custa aceitar que seja assim (aliás, há pouco estive a responder no azweblog a um comentário que era em certa medida sobre o assunto). As escolas públicas estão a passar por um mau bocado devido à política dos vários governos. Baseados na história da inclusão ou, se preferirmos, da não-exclusão, os governos estabelecem determinadas metas de passagem que transmitem aos conselhos executivos das escolas. Não são parâmetros bem definidos, mas a mensagem está lá: não se pode ser demasiado rigoroso, se não é o dilúvio. O retirar aos professores o poder de decidirem quem passa e quem não passa na sua disciplina teve efeitos desastrosos na autoridade dos docentes e no seu status. Com o abaixamento do status dos docentes veio a indisciplina, a balda e um não-te-rales, que agora até se avoluma com a não-possibilidade de chumbo por faltas no básico e secundário.
Pelo contrário, às escolas particulares interessa ganhar prestígio, ocupar uma boa posição no ranking. Como são escolas pagas, as que possuem bom nome dão-se ao luxo de escolher os melhores alunos (recolhem informações de uma ou mais origens). Quando se planta uma árvore de acordo com todos os preceitos, ela nasce bem, direita e sem problemas. Pelo contrário, endireitar a sombra de uma vara torta - como sucede com muitos maus alunos nas públicas - é praticamente impossível.
O que hoje a jornalista e professora Helena Matos diz sobre a educação num interessante artigo tem a minha inteira concordância. Também eu próprio, que não me considero exactamente um indivíduo de direita e fui educado noutros tempos em boas escolas públicas (liceus Passos Manuel e João de Castro), coloquei um filho a estudar na Escola Alemã e uma filha no Sagrado Coração de Maria, ambas escolas não pagas pelo Estado português. Se me perguntarem porquê, direi que tinha boa imagem da Escola Alemã e, como sei alemão, ensinei a língua um pouco ao meu filho antes de ele entrar. No caso do Sagrado, ficava aqui ao pé de casa e tinha bom nome (nessa altura ainda não havia rankings). Deu certo. Ambos têm hoje uma boa preparação, sem baldas.
Como o António diz, o meio familiar assume grande peso na educação. Por um lado, uma família sem problemas financeiros pode pagar uma boa escola; por outro, pode dar-se em casa uma boa preparação; ainda por outro, os nossos livros, equipamentos e gadgets de vária ordem, as viagens que fazemos com os filhos, além das conversas que temos com os nossos amigos e familiares junto deles, tudo contribui para um substrato educacional completamente diferente de alguém que mora num bairro pobre e é filho de pais que não têm mais do que a educação básica. Por isso, é tanto mais notável quando estes últimos conseguem ser excelentes nos seus estudos.
Os rankings devem ser vistos com muito cuidado, mas é claro que mostram grandes linhas de força. Logicamente, é importante ver o tamanho das amostras, comparar público com público,privado com privado, cidade com cidade e interior com interior.
Este é um assunto quase inesgotável, mas vou fazer ponto final.
jmco
Enviar um comentário