2018-12-07

amigo pessoal, fortuna pessoal, vergonha pessoal [ena, tanto pessoal]

caríssimo [Fernando Venâncio] Professor, desta vez pedirei licença (pessoal?) para uma pequena discordância pessoal; começando pelo fim:

- vergonha pessoal devia ser imperativo na Assembleia da República, a ver se acabava esta vergonha nacional: os deputados apanhados em fraude seriam directamente responsabilizados e as infracções não ficariam debaixo do tapete partidário, do grupo par(a)lamentar ou da comissão desse dia, com os desavergonhados a rodar entre si, as cadeiras e os nossos bolsos, numa tômbola-tumba da cidadania e da res publica

- fortuna pessoal, está bom de ver, embora mais frequente (é, tem aumentado o número de bilionários e até os premiadíssimos gestores de empresas falidas, sob averiguação judicial ou com experiência prisional, passaram a auferir maiores remunerações desde a crise) do que se faz crer, é uma condição cada vez mais rara: regra geral a fortuna provém de fonte incógnita, enigmática ou até misteriosa, com sede em paragens fiscalmente paradisíacas, em nomes fantasiosos de entidades concebidas por consultores ainda mais fantasiosos, tudo a pagar no domicílio do contribuinte sem milhas para tais ilhas

- amigo pessoal - aqui chegado e uma vez que o tema das virtuais ligações facebookianas (livro pessoal?) e outras concomitâncias digitais já foi tratado em comentário anterior, assevero que nem todos os amigos são pessoais e dou três exemplos: primeiros, há os de Peniche, os da onça e os da tanga - creio que também há os «puxa-saco», mas não domino o tema o suficiente para, sem mais, os englobar no mesmo saco; em segundo, há os de função, institucionais e barra ou empresariais, em qualquer das categorias temporalmente limitados à estrita duração da representação de parte a parte e, à parte o mais, só mesmo para os devidos efeitos, isto é, sem vinculação pessoal ou resquício de afecto ou, sequer, de outras afinidades electivas além do brilhozinho nos olhos ao rebrilhar do vil metal; por últimos, os amigos pro tanto, a que se não está verdadeiramente vinculado, quer dizer, sob relação causal, de interesse (pessoal?) momentâneo ou no quadro de alguma tipificação, como os amigos benfiquistas, os amigos da modalidade, os da freguesia, os da profissão ou das artes, os patrícios, os da mesma incorporação (mas que se não chegaram a conhecer, claro) ou por aí diante, incluindo, era o que faltava, os do alheio ;) ;) ;)

agora a sério, esgotada a teoria da impessoalidade e ressalvando que também há (é, pessoalmente, o caso) quem esteja pronto para ajudar a carregar algum piano ou guarda-fatos, mesmo sem requisito ou qualificativo de amigo, quanto mais pessoal, certo é que o tema proposto, além de pertinente, é certeira pedrada nas águas do vazio crescente que nos rodeia e no artificialismo absolutizante que nos aprisiona, acrescentando-se «pessoal» para mascarar a má consciência e tentar enfatizar ou conferir significado e conteúdo ao que bem se sabe pouco ou nada ter de humano, afectivo ou natural

mais um muito obrigado pelo enriquecedor alerta, verdadeiro despertar

🍀





observações são bem vindas,

obrigado ;_)))

ps - [personal scriptum] o Ditos formalmente declara que o arrazoado acima não foi escrito em nome pessoal mas sim encomendado por uma seita anónima que há muito colonizou a internet, de onde aliás tudo é, foi ou será copiado, selah ;_)))