a cada 8 de Março, ou a cada mês de Março*, multiplicam-se as palavras, iniciativas, manifestações**, artigos, análises, opiniões, palestras, exposições, debates, encontros - nem sempre memoráveis - sobre a equidade de género ou sobre a igualdade de género ou sobre as mulheres ou sobre o feminismo ou sobre os feminismos ou sobre os novos feminismos ou sobre a eventual persistência da necessidade, da oportunidade ou da justificação do feminismo
é claro que tudo se poderá debater, equacionar e analisar infindavelmente mas é também evidente que apesar das evidências, da informação e do acréscimo de meios sociais, económicos, tecnológicos e até políticos, ao dispor das comunidades humanas, as Mulheres continuam a ser vítimas injustamente de crimes graves, de discriminação injustificada, de perseguição e exploração, de desfavorecimento no trabalho, no acesso a cargos, funções, profissões e projetos em muitíssimos domínios do saber, das artes, das empresas, das instituições e do Estado, na vida em geral e em tudo o que se queira verificar de boa fé - basta constatar
daí as previsões, meteóricas, de 50, 80, 150 ou 270 anos até uma eventual situação de equilíbrio em diversos aspetos da injusta discriminação em vigor, verdadeiras quotas impostas contra e a desfavor das Mulheres - e, é imperioso reconhecer, da Humanidade, da sociedade, das comunidades, ou seja, todos ficamos a perder com as calendas em que perdurará a desequidade
pelo que temos todos de perceber, não apenas em debates e muito menos unicamente no dia da comemoração, que não basta sensibilizar nem informar, é preciso agir, legislar, planificar e concretizar
quanto aos feminismos, novos ou velhos, basta o perigo de perpetuação do preconceito para se justificar a imposição, via sistema de ensino***, de uma disciplina com os principais temas do «feminismo», afinal sobretudo mera cidadania, participação democrática e humanismo, aplicável, portanto, a homens e mulheres, para benefício de todos, de cada um e da sociedade em geral
mas também basta um mínimo de noção da extensão dos desequilíbrios sociais e económicos, salariais e outros, de acesso, de estatuto, de exercício de funções dirigentes nas empresas, organizações e instituições, da ignomínia do retrocesso em matéria de crimes contra as mulheres, como no tráfico humano e sexual ou na omnipresente violência doméstica, infelizmente votada ao silêncio ou remetida à estatística e até a abomináveis decisões judiciais de medieval inspiração marialva
jametinhamDitas...
* para o MDM, não se justifica um mês inteiro a este pretexto, nem as reduções promocionais na "lingerie" ou na cosmética, de cariz as mais das vezes comerciais e alheias ao significado precioso do Dia Internacional das Mulheres: justo reconhecimento do valor das Mulheres, homenagem às trabalhadoras vitimadas em consequência da corajosa luta coletiva por melhores condições laborais e sensibilização, atitude e atuação contra a discriminação injustificada e preconceituosa como pressuposto de realização da justiça social
** independentemente de modas, há outra batalha que urge travar, a do associativismo, que importa defender e promover muito para além das palavras, é preciso que a organização social assente em modelos que incluam a cooperação, a associação e a união
*** para que entre em casa, nas famílias e na sociedade pela mão das crianças, como em boa hora fizeram Ana de Castro Osório e Adelaide Cabete relativamente a cuidados de higiene, salubridade e instrução
observações são bem vindas, obrigado
;_)))
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