2009-03-30

igrejas

na Costa de Caparica:

_«por favor, onde é a igreja?»

_ «qual delas? tem tantas...»

pois, jametinhasdito!

o sotaque brasileiro da resposta acima abriu a consciência ao perguntante: o advento de comunidades imigrantes trouxe também a correspectiva multiplicidade de cultos!!

hoje a questão da diversidade de igrejas por todo o território transformou o panorama e ao olhar em redor há uma autêntica pulverização de credos e templos, já não é só o fenómeno IURD, o corropio nas imediações da Mesquita, a circulação de pares de helderes, as visitas insistentes das testemunhas de Jeová e as discretas práticas do judaísmo que faziam o essencial do pluralismo em Lisboa ou noutras, poucas, cidades

multiplicam-se por toda a parte os mais diversos cultos e as comunidades brasileira e do leste europeu levam a dianteira, a par com uma apetência crescente por várias espiritualidades, sobretudo de inspiração oriental

ao todo, há uma presença de muitas igrejas e ainda assim, por vezes não estamos despertos ou é-nos invisível o que não queremos ver

mas haja fé ...

e há !!!



observações são bem vindas
;->>>

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá, António!
A diversidade de credos e fés em Portugal é bem-vinda. Aliás, só peca por tardia. Uma das razões da falta de liberdade que ao longo dos séculos prevaleceu em Portugal foi a ausência de conflitos, principalmente (1) entre os nobres e a coroa e (2) entre diferentes religiões. Ao jogar sempre no monobloco, Portugal tornou-se um país chato e atrasado. A coroa era ajudada pela Igreja, e vice-versa. Os judeus foram perseguidos e acabaram por ser expulsos, levando consigo muito saber que foram entregar a países protestantes, como a Holanda e a Inglaterra. Quando barcos ingleses (protestantes) aportavam a Lisboa, eram frequentemente vistoriados antes que alguém pudesse desembarcar, não fosse alguma bíblia não-autorizada ou algum livro do index librorum entrar no país e conduzi-lo à desgraça. Ora, a desgraça era exactamente a não-abertura do país.
Numa comparação não muito forçada, recordemos como a guerra de libertação levada a cabo por africanos nos anos 60 e 70 do século passado acabou por levar à libertação de Portugal. Assim também, a uma outra escala, um conflito entre religiões teria acabado por definir campos e por deixar entrar alguma liberdade de pensamento e de crítica. (Hoje, felizmente já se diz "quando entro na igreja, tiro o chapéu, mas não tiro a cabeça".) Cada um de nós só se define perante o outro. Se não houver outro, a coisa sai amorfa. A educação dos infantes, filhos de D. João e D. Filipa de Lencastre, foi basicamente uma educação estrangeira - inglesa e mais cosmopolita no caso do infante Pedro. Houve variedade, criou-se uma saudável tensão. Conhece-se o tremendo resultado positivo que isso deu.
O cultivo do curto-circuito e do monobloquismo em Portugal conduziu a que uma certeiríssima frase do Padre António Vieira, que viveu no século XVII, tenha sido até hoje significativamente truncada. No seu Sermão de Santo António, ele disse, no seu notável português: "Nascer pequeno e morrer grande é chegar a ser homem. Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento e tanta para a sepultura. Para nascer, pouca terra; para morrer, toda a terra. Para nascer, Portugal; para morrer, o mundo." O que não se menciona nesta habitual citação, porque não convinha a todos aqueles que se quedavam pelo país, é que, antes de falar em "morrer grande", Vieira, uma pessoa viajada, diz certeiramente e por experiência própria: "Sem sair (de Portugal) ninguém pode ser grande." Com a citação truncada desta parte essencial, gaba-se a universalidade dos portugueses que criaram um império nas várias partes do planeta, mas simultaneamente escamoteia-se o princípio básico do pensamento de Vieira. Foi esse isolamento que tornou Portugal durante vários séculos um país atrasado relativamente a outras nações europeias, como a Inglaterra, a França, a Holanda. Hoje, felizmente, somos um país muito diferente, embora muito da mentalidade antiga ainda permaneça. Como se costuma dizer, ainda falta fazer o luto por esse Portugal.
Perguntar-se-á: e o que é que isto tem a ver com as várias igrejas de que o post fala? Tem tudo. Se até a sinagoga da Rua Alexandre Herculano em Lisboa não pôde ter a sua porta de entrada principal virada para a rua! Se das múltiplas sinagogas outrora existentes muitíssimo pouco resta. E o que sucedeu às inúmeras mesquitas que cá houve (afinal, temos várias "mourarias" e "judiarias" espalhadas pelo país)? A Igreja única cria pensamento único, torna-se absolutista, fundamentalista.
Que venham diferentes credos e provoquem debate. Sem esse debate, não se sabe por que se é católico. É-se "porque sim". Orgulhosamente sós!, nunca mais!
jmco