2009-10-14

me, Jane


ao jeito adocicado de Carlos Vaz Marques, a TSF partiu hoje para uma entrevista a Jane Birkin, como sempre num relato muito centrado em Serge Gainsbourg, com quem viveu intensamente a vida e boa parte da carreira que a projectou como artista de múltiplos talentos - cantora, actriz de cinema e teatro, em breve realizadora, prepara um disco de letras suas...

referiu-se a Serge Gainsbourg como um eterno adolescente, como vem reiterando desde há muito, e queixava-se mesmo de que ele não aceitava que as pessoas mudam - no contexto da separação - exemplificando com o episódio do crescimento da Filha, que precisava de uma cama nova, maior, enquanto o Pai achava que bastava calçar-lhe umas meias quando os pés já sobravam de fora... pois não queria admitir que crescia, não aceitava a mudança, exigia insanamente que as pessoas não deveriam mudar

mais à frente, na entrevista, Jane assumiu a falta de confiança em si mesma, no tempo de Serge Gainsbourg, que a elevou a Diva, e nos tempos seguintes, nomeando as pessoas pelas mãos de quem passava de fase em fase - rosa, azul, mesmo o cubismo... não propriamente em mimetismo da estética de Picasso mas nele se referenciando ao reportar-se ao seu trajecto pessoal - como suportes da sua evolução, justificação da sua vivência como artista e como pessoa, sempre alguém a quem e por quem e com quem encarava o mundo e abordava os sucessivos desafios, até hoje...

sim, ainda permanece em crise de auto-confiança, assevera, pois as pessoas não mudam, jametinhadito, especificando mesmo que, a partir dos doze anos, as pessoas não mudam

ou seja, exactamente o sentido que antes criticava

se calhar, as pessoas mudam e não mudam, poderia defender, se acaso o entrevistador insistisse... o que não é o caso nem o tom do ambiente intimista e delicado que informa as conversas de Carlos Vaz Marques, assim deixando incólume a patente contradição

mas não será apenas Jane Birkin a entrar em contradição, considerando como fundamento para si o que refuta em outrem

a contradição é de todos os seres humanos, está em todos nós, é questão de alguém a saber encontrar por nós, que a não vemos - ou não a vemos enquanto a vivemos; ou vemos, e pronto...

eis o mistério da vida, do ser humano, ainda que titular de um dom excepcional

et pourquoi pas?



observações são bem vindas
;->>>

2 comentários:

zeka disse...

Disconcordo ;-)
Se dúvidas 'houvisse'... os búzios tirá-laziam hehehe
Não sei avaliar (saberei?) sé é contra dição (ou não?) mas há as que não mudam: antes evoluem, crescem, amadurecem, vivem, informando e enformando a sua 'persona' com o a troca permanente no relacionamento com a envolvente dos sentidos e dos sentimentos. Mudamos quando ouvimos, vemos, sofremos, recuamos, gostamos? Ou mantemo-nos com outras sustentações?

Como o vinho, apurando a sua 'substância intrínseca' através do casco (rolha), do tempo e da atmosfera onde estagia?

[i/ Mais oui... /)

Anónimo disse...

Aliás, António, é a consciência das nossas contradições e a capacidade que mostramos para desenlearmos as várias meadas que encontramos em nós próprios, de forma a tomarmos um rumo mais certo e menos vago, que nos faz crescer. O aprendermos connosco próprios revela muitas vezes coragem pessoal na admissão de defeitos e carências. Na vida caminhamos de embaraço em embaraço, tentando (ou não) desembaraçá-los. Esta é uma parte do tal caminho que se faz caminhando, como o outro António, o Machado, nos diz.
jmco