2005-10-04

fazer de contas

agradecidamente, o comentador Guilherme d'Oliveira Martins jametinhadito que se despede hoje (4 de Outubro) dos seus leitores do Diário Económico ... "por causa das novas funções que irei assumir dentro de dias"

em rodapé, o DE deseja felicidades esclarecedoras, especificando "...funções no Tribunal de Contas"

e em extenso artigo de Política, umas páginas antes da dita última crónica, o DE explicita exuberantemente que o Presidente da República deliberou e concertou a dilação do início das "novas funções" de Guilherme d'Oliveira Martins, por via de cuidados de resguardo face a polémicas partidárias próprias das eleições autárquicas

é forçoso concluir que a confirmação presidencial e subsequente tomada de posse de Guilherme d'Oliveira Martins causaria novo chorrilho e pateada geral em vésperas de ida às urnas, compreendendo-se bem o recato de Jorge Sampaio

mas também fica muito claramente visto que toda a gente vê a quem afectaria tal suposta perturbação

a dúvida recai então sobre as razões reais, digo, presidenciais, para o arranjo entre o prolongamento em funções, por mais uns dias, do anterior titular do cargo de Presidente do Tribunal de Contas, bem como o correspectivo diferimento da cerimónia e do início de funções do novo titular, face ao prazo legalmente estipulado, que escorregará o mesmo número de dias para data mais conveniente

de facto, o Governo propôs o Vice-Presidente da bancada parlamentar do PS, em cujas listas foi eleito deputado, para exercer as isentas funções de controlo da actividade governativa

pelos vistos, o Presidente da República dispõe-se a aceitar a façanha, como se de um exemplo democrático e de ética republicana se tratásse

mas Sua Excelência, o Presidente Jorge Sampaio, além de pactuar com a tramóia governamental, também já terá segredado a sua decisão a Guilherme d'Oliveira Martins, assim legitimado a despedidas nas páginas do jornal onde tem feito a defesa encomiástica do Governo que irá fiscalizar com isenção

e o maquiavelismo completa-se com a verdadeira manobra de isentar (sempre há razões de isenção) o Governo e o respectivo partido das mais que justificadas queixas da totalidade da oposição e de outros sectores apartidários, assim benefeciando o infractor, com a desculpa de que é necessário "sublinhar a isenção do cargo"

qual isenção ? no regime do Estado de Direito é absolutamente irrelevante a isenção declarada pelo próprio; o que conta é o decoro e a efectiva distância, incluindo a indispensável salvaguarda das aparências que os agentes do Estado, maxime o mais alto magistrado da Nação, têm o imperioso dever de respeitar - para o poderem fazer respeitar e poderem fazer-se respeitar

chama-se a isto fazer o mal e a caramunha


observacoes sao bem vindas

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