2004-09-24

Comentário a comentário(*) de falta de comentário ao comentário de comentadores ... não é muita comentadoria ???

Subtítulo: o Ditos roeu a página 9 do DN de 22 de Setembro

(*) Eu cá não consigo aceder via net mas supostamente deveria aparecer em: http://dn.sapo.pt/cronica/mostra_cronica.asp?codCronica=8062&codEdicao=1243#top


Em suculentas crónicas - “A torto e a direito” - semanais, o Prof. Dr. Jorge Bacelar Gouveia, tem oferecido aos leitores do DN muita opinião que me parece bastante mais de direita que de torta (há uns anos havia no DE, isso sim, uma crónica “A torto e a direito”, esta bem mais a torto... de António Almeida, antes do London Smile, que acabou com o L no coração) e nesta edição (ainda ontem, eh eh) atacou o comentador Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.

É que aos domingos, diz, “está em causa um trend de crítica subliminar ...” aos governos de Durão Barroso e Santana Lopes; e explica os respectivos porquês e inconvenientes, que para aqui pouco interessa, por agora ...

Ora, então o que interessa agora ?

Podia começar-se pelo título, muito mais genérico que subliminar: a pretexto da indagação “Quem comenta os comentadores ?”, o cronista exprime-se exclusivamente sobre um comentador. De tão genérico título a tão específico alvo vai uma insanável contradição, sinto.

Podia continuar-se seguindo o intróito da crónica: que a opinião pública se rende acriticamente aos profissionais do comentário (da crónica ?) o que é um “mau hábito” susceptível de degradar “a qualidade da nossa Democracia” nesta matéria.

Direi que nunca me rendi acriticamente aos comentadores, dos mais variados painéis, e que nunca senti que tal tenha ocorrido a algum sector da sociedade ou da opinião pública. Em claro exemplo contrário, veja-se como os comentadores se comentam uns aos outros, assiduamente, muitas vezes com demasiada simultaneidade e veemência, outras na recíproca e tabelar continuidade de referências com que recheiam (e até alimentam) as respectivas crónicas e comentários; para mais no caso concreto do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa há muitos anos que lhe invectivam a florentina intervenção como “opinion maker”, mesmo antes da prédica familiar dominical paga pela TVI.

Por outro lado, como esquecer as denúncias e os ataques aos comentadores “paineleiros”, quer de sectores meramente boçais quer da nata intelectual e que em nada impediu a progressiva ascensão individual, social e política de tão comentados comentadores ...

Lembro-me até de deliciosos ensaios sobre os denominados “totalistas”, pertencentes à variante de comentadores que se reclamam, mais do que generalistas, autênticos especialistas de todas as especialidades !

Voltemos então ao problema de fundo, indentificando-se as “normas fundamentais” / “regras mais elementares” / fundamentais regras” a que, afinal, desobedece “o comentário político – mas também os outros tipos de comentário”. Bem vistas as coisas a crónica em análise só indica uma: a “isenção dos comentadores”.

Ora, o comentário é servido, valorizados e favorecido muito pela especial posição de cada comentador relativamente ao tema comentado. A isenção é excelente para o bom exercício das funções de juiz, de árbitro e, em geral, de quem exerce o poder. A quem comenta e critica pede-se que saiba do que está a falar, de preferência que nos informe de que ponto de vista parte ou está associado, que interesses defende, etc. Impróprio é que se reivindique isento quando é parte. Quando permita, favoreça ou se aproveite da ambiguidade, incerteza ou desconhecimento do campo em que se posiciona. Há comentadores de todos os clubes, empresas, religiões e partidos. O seu contributo é avançar com perspectivas e argumentos que nos elucidem dos factos e da sua avaliação, com a refutação de argumentos contrários, com a denúncia de abusos de direito ou de poder, que nos enriqueçam com o que sabem e com o que pensam. Para melhor formarmos opinião, para se criticar melhor, mais informadamente, com recurso a raciocínios mais elaborados, fundamentados e claros.

Nã, a isenção não é requisito para comentar. Também nesta crónica, Prof. Jorge Bacelar Gouveia defende o poder, sem argumento convincente.

E ... com isenção ?. No mesmo jornal, duas páginas antes, o DN dá conta de que o Prof. Jorge Bacelar Gouveia será eleito Presidente do “Conselho de Fiscalização (CF) dos Serviços de Informações, vulgo secretas.”

Escreve o DN que o Prof. Jorge “Bacelar Gouveia (...) já foi membro do Conselho de Jurisdição do PSD e é, de há muito, politicamente próximo de Santana Lopes.” Sendo inquestionável a competência académica e profissional do Prof. Jorge Bacelar Gouveia, nenhuma isenção pode invocar para defender o poder ou atacar os críticos do poder.

Pode invocar factos e argumentos, ciência e opinião, mas não isenção.

De todo o modo, a isenção de um comentador não é precisa - a menos que o próprio a invoque em seu benefício ou a tente exigir aos demais, como é o caso. Jámetinhamdito!

Ah ! O Prof. Jorge Bacelar Gouveia está forrado de razão quanto à inacreditável "falta de contraditório" de tão gigantesco tempo de antena de que goza o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, embora a careca, há muito descoberta, esteja à vista de todos, sendo tal crítica generalizada e velhinha como a Sé de Braga, eh eh

Enfim, aproveitando a ocasião deste modesto comentário, então não se vê que esta página 9 do DN de quarta-feira 22 de Setembro está de feição, justamente no que toca a isenção ?

Acima do jametinhasdito comentário do Prof. Jorge Bacelar Gouveia, há “As quartadas”, de Vasco Graça Moura, e “Linhas direitas”, de Luís Delagado, que também merecem leitura atenta e proveitosa.

No conjunto, esta excelente página direita deve ser das páginas mais inclinadas da imprensa portuguesa, enfim, da que frequento.

Vejamos: na primeira, Vasco (o da) Graça Moura - reputado por muitas reconhecidas qualidades, profissionais, políticas e literárias (as que prefiro) mas também por ser, enquanto comentador, mais cavaquista que Cavaco – transpira sofrimento e auto-violentação na glosa sobre “Embandeirar em barco”. É que deve custar-lhe muito defender a actual política avestruzenta de humilhar, martirizar e criminalizar as mulheres, degradando arriscadamente as condições em que se praticam abortos. Tanto que não o defende, antes atacando, aliás habilmente, o espalhafato e aproveitamento abusivo da embarcação abortiva de importação. Com o honesto reconhecimento “de que a mulher grávida deve poder decidir em sua consciência nessa delicada questão”.

Ainda mais à direita, Luís Delgado, jornalista, bate forte nas atrapalhações do Governo, causadoras de “natural ansiedade e tensão” na problemática das listagens de professores. E lá dá a sua listagem de averiguações a empreender.

Impõe-se um jámetinhadito final - com tanta direita a bater (de criar bicho) em tanta direita, é caso para perguntar: onde pára a esquerda ?

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